Artigo, especial - BTG, Estadão e o candidato ideal do sistema

Este artigo é do "Observatório Brasil Soberano"

 O editorial do Estadão publicado logo após o evento do BTG representou mais do que um simples comentário. Foi um aviso claro, um gesto de ali nhamento público; um código compreendido por quem conhece as engre nagens reais do poder no Brasil: quando a mídia, o mercado e a classe domi nante se movimentam juntos, não estão apenas avaliando o cenário — estão redesenhando as opções permitidas. O alvo do editorial não foi o passado, e sim o futuro. A narrativa de modera ção, estabilidade e responsabilidade fiscal serviu como moldura para repo sicionar uma figura específica no tabuleiro político: Tarcísio de Freitas. Sua participação no evento do BTG, sua fala elogiada, sua presença celebrada — tudo isso foi coreografado para sinalizar que ele pode ocupar o espaço de “candidato confiável” para 2026. A estratégia é antiga, mas ainda funciona. Nos anos 1990, a mesma engenharia político-midiática foi usada para construir a figura de Fernando Henrique Cardoso como o homem da estabilidade, da modernização, do “fim da inflação”. A mode ração virou virtude, a tecnocracia se transformou em salvação e a obediência ao receituário do capital financeiro se disfarçou de política de Estado. Hoje, o mesmo ritual se repete com novas embalagens. A diferença está ape nas na estética. Em vez de um sociólogo com prestígio internacional, temos um ex-militar com vocabulário técnico. Em vez do prestígio acadêmico de Sorbonne, temos a chancela silenciosa do BTG. Em vez de um plano de esta bilização com aval do FMI, temos a imposição informal de um tripé macroe conômico transformado em dogma. O editorial não fala em juros reais. Não menciona a desindustrialização. Não questiona a dependência tecnológica. Não menciona o fato de que o Brasil se tornou exportador de matéria-prima e importador de valor agregado. O que im porta, no fundo, é garantir que tudo continue nos eixos estabelecidos. E para isso, Tarcísio é apresentado como ideal: obediente, previsível, disciplinado. O papel de André Esteves nesse processo não é meramente decorativo – ele atua como operador da engrenagem. Não atua apenas como financiador de campanhas ou estrutura candidaturas — ele valida, comanda, articula. Sua presença no evento, sua relação com Tarcísio e sua capacidade de influen ciar Brasília fazem dele hoje o elo entre o que se pensa na Faria Lima e o que se executa nos gabinetes do poder. O Estadão apenas traduziu esse movimento para o papel. O discurso da res ponsabilidade, da moderação e da estabilidade serve apenas como fantasia legítima para conter o povo e preservar o capital. E, no limite, para reeditar FHC com farda e sem sobressaltos

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