Atendo muitas pessoas velhas, entre 80 e cem anos. Não é
raro acompanhantes, cuidadores e familiares, terem restrições a hábitos de
vida, horário e tipo de alimentação e bebida, banho, dormir e acordar, vontade
de sair de casa, dirigir seu carro... Quando são lúcidos e comandam bem seus
corpos, pensamentos e sentimentos, tendo a apoiá-los. Comento que
chegaram a essa idade conduzindo a vida do seu jeito e que assim está dando
certo. Não fosse isso, não estariam como estão. Digo que nós não sabemos se
vamos chegar vivos até a idade que eles chegaram. Sugiro que temos o que
aprender com eles, não a ensinar. Os velhos reagem com um sorriso triunfante,
cheios de orgulho. Os acompanhantes recebem a sugestão com um sorriso
desconcertado, mas sempre concordam.
Nem tudo precisa ser tratado
É comum querer tratar velhos como se fossem crianças.
Serve para lidar com os que já não têm condições mentais e físicas para
gerenciar suas existências com autonomia. Muitos conflitos que se verificam
entre eles e seus jovens são desnecessários. O hábito dos mais moços de achar
que seu jeito de conduzir a vida dos velhos é melhor, nem sempre corresponde à
verdade nem os torna mais felizes. Por vezes, não sabemos o que é melhor para
nós. Por que achar que se sabe o que é melhor para o velho... Melhor saber o
que sentem e pensam.
Há uma tendência a medicalizar a velhice. Nem tudo
precisa ser tratado. Lembro o que Darwin identificou, sobrevive quem se adapta,
não o mais forte. Bernard Lown cita um adágio que diz que não se conserta o que
não está quebrado. Velhice não é doença. Devemos tratar as doenças que acometem
velhos, como tratamos as que atingem jovens. O desafio é reconhecer o que o
envelhecimento muda em cada um.
Ajudar velhos e seus familiares com criatividade para
fazer as adaptações a essa fase da vida pode ajudar mais do que buscar mudanças
ou dar remédios. Só não é assim para os que perderam o vigor físico e a
lucidez, os que estão dependentes. Não sendo isso, é melhor apoiá-los no seu
jeito, protegê-los de riscos, aprender com eles.
Belo artigo DR. Flavio Kanter. Continue escrevendo mostrar ao mundo que envelhecer não é doença. Obrigado meu Dr.
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