Alex Pipkin, PhD
Certa vez disseram-me que pesquisas eleitorais são como espelhos. Esses retratam a imagem, nada mais. Pois bem: olho para esse espelho e não me reconheço. Aliás, não me considero um sujeito bonito, nem fotogênico. Talvez a fotografia esteja borrada; talvez o fotógrafo tenha tremido a mão. Ou, quem sabe, a lente tenha sido calibrada para embelezar um lado e deformar o outro.
A Quaest divulgou que Lula lidera todos os cenários de 2026. Até aí, nada de novo. O messias do atraso segue imbatível, segundo a estatística iluminada. Curioso é que, poucos dias antes, a mesma empresa registrava que o governo era reprovado por 51% dos brasileiros, contra 46% que o aprovam. Como conciliar esses dois retratos? Mistério. Talvez um daqueles milagres tropicais que desafiam a lógica, a matemática e até a física.
Não sou bolsonarista. Podem me chamar de liberal de carteirinha, PhD, alguém que respeita a ciência e a metodologia. Exatamente por isso desconfio. É impossível que duas pesquisas, com tão curta distância temporal, pintem quadros tão antagônicos. A “margem de erro” não é varinha de condão capaz de transformar rejeição em popularidade.
Os defensores diriam que pesquisas não são previsões, são fotografias do momento. Concordo. Mas que tipo de fotografia é essa, em que o rosto aparece sorridente em um retrato e desfigurado no outro? Não é ciência, é caricatura.
Convém lembrar o histórico recente. Nas últimas eleições, os institutos erraram de maneira sistemática, quase sempre para o mesmo lado. Subestimaram candidatos conservadores, superestimaram progressistas. Não foi acidente; foi padrão. São os fatos — e fatos, por mais que se queira, não desaparecem.
Dou um exemplo banal, mas revelador. Em Porto Alegre, capital de inclinação esquerdista, entrei num Uber. Sem eu abrir a boca, o motorista comentou: “99% dos passageiros que transporto rejeitam esse desgoverno. Eu não sei como é que esse cidadão foi eleito”. Eis a percepção cotidiana, mais honesta que qualquer tabela de porcentagem.
Essa percepção coincide com o que todos observamos, objetivamente. Um governo que acumula incompetência, ideologismo e a sombra constante da corrupção. A volta à cena do crime, como se diz. Não se trata de ressentimento, mas de constatação.
Não acredito que essa pesquisa reflita a fotografia real do momento. Ela ilustra mais uma narrativa conveniente do que a verdade dos fatos. Pesquisas eleitorais, em última análise, não descrevem a realidade; modelam-na, muitas vezes à força. Como dizia o velho jargão irreverente da estatística: “Estatística é a arte de torturar os dados até que confessem aquilo que você deseja”. No caso desta pesquisa, os dados não apenas obedecem à narrativa; eles se ajoelham, oferecem-se como cúmplices, sussurrando o que o cronista quer ouvir. É uma farsa elegante, um teatro de números que, embora sofisticado, jamais substituirá a verdade que pulsa nas ruas, nos cafés, nos táxis e Ubers. A realidade, aquela nua e crua, continua a existir para quem observa com atenção: o cidadão que protesta, a voz que reclama, o olhar que questiona. No fundo, é essa realidade que permanece intacta, imune a planilhas, tabelas e manchetes ensaiadas, resistindo a toda manipulação, lembrando-nos de que os números podem ser moldados, mas os fatos — ah, os fatos — nunca se rendem por completo.