Em solo gaúcho, neste milênio, as taxas têm se mantido
entre 40 e 45 casos por 100 mil habitantes. Esses números são maiores do que os
apresentados no nível nacional, que giram em torno de 32 a 33 casos por 100 mil
habitantes.
A médica pneumologista Carla Jarczewski, coordenadora do
Programa Estadual de Controle da Tuberculose e diretora técnica do Hospital Sanatório
Partenon, informa que se trata de uma doença negligenciada. Não só pelos
pacientes, que acham que não existe, como por profissionais de saúde,
principalmente os que não trabalham com saúde pública.
“Muitos acreditam que este é um problema resolvido, o que
não é verdade. São 5 mil casos novos por ano no Estado”, afirma.
Para baixar as taxas de incidência, ou seja, controlar a
doença, é necessário um percentual de cura em casos novos de 85% e um abandono
de, no máximo, 5%. Em 2017, o Estado apresentou 61,3% de cura (mais de 20
pontos percentuais abaixo do que é preconizado) e a taxa de abandono ficou em
12,2%.
Segundo ela, isso significa que existem mais pessoas
doentes contaminando outras dentro de uma área geográfica. A epidemiologista
chama a atenção para um fato fundamental: cura, só no final do tratamento, que
dura, no mínimo, seis meses.
Quem abandona o tratamento corre o risco de contrair um
germe mais resistente, mais difícil de combater. Aí passa de seis para 18
meses, e o adoecido continua transmitindo dentro da sua comunidade.
O Rio Grande do Sul também tem a maior taxa de coinfecção
tuberculose/HIV. De todos os pacientes diagnosticados com tuberculose, 18%
estão associados ao HIV. Hoje, a maior causa de morte de pacientes HIV
positivos por doenças infecciosas é em decorrência da tuberculose.
Carla destaca que “para reduzir taxa de incidência, é
preciso curar mais. Se não curar, haverá gente transmitindo a tuberculose nas
comunidades. No momento que aumenta a taxa de cura, há menos bacilo circulante,
menos doença. Mas isso não é de forma rápida.”
Dados da doença nos últimos anos
Em 2015, houve 6.630 notificações de casos totais, sendo
4.825 casos novos. Os números vêm se mantendo estáveis. Em 2016, foram 6.374
totais para 4.596 casos novos e 2017, 6.801 totais e 4.935 casos novos. Os
números de 2018 estão teoricamente fechados, com 7.017 casos totais e 5.106
novos. Mas é preciso verificar se não há casos repetidos por internação.
O Estado trabalha como retaguarda técnica para as regiões
e municípios. O Programa Estadual tem, como principais atribuições, avaliar
indicadores e planejar ações e, a partir daí, promover capacitações. Ações
diretas de atendimentos são feitas pelos municípios.
Um trabalho que vem sendo desenvolvido ao longo dos últimos
anos é o Tratamento Diretamente Observado (TDO), que consiste no paciente
ingerir a medicação de segunda a sexta-feira, pelo menos, na presença de um
profissional de saúde.
Carla revela que, no mundo inteiro, quando instituído, o
TDO aumenta as taxas de cura. Aqui no RS não se conseguiu avançar neste tipo de
tratamento. Algumas regiões do Brasil atingem cerca de 70% dos pacientes com
este acompanhamento, enquanto que em solo gaúcho está em torno de 20%.
De acordo com a médica, um dos principais problemas hoje
é conseguir com que os municípios descentralizem as ações de tuberculose. “A
maioria não conseguiu de fato passar esta atribuição para a atenção primária em
saúde. Isto provoca dificuldade de acesso, ou seja, o paciente precisa se
deslocar a uma distância maior para conseguir tratamento. Se conseguirmos
chegar mais próximo do indivíduo, diagnosticar e acompanhar, haverá, com
certeza, indicadores melhores.”
A médica ressalta que há ainda todo um trabalho de
sensibilização junto ao paciente e a familiares sobre a importância da
medicação e do tratamento até o final.
Populações vulneráveis
A pior realidade está em Porto Alegre e Região
Metropolitana, com 70% dos casos. Existem populações específicas com taxas mais
elevadas de tuberculose do que a população geral.
“Há alguns nichos populacionais em que isto se torna
muito complexo, como pessoas em situação de rua, pessoas que vivem com HIV,
população prisional, que é um grande problema”, destaca a médica.
Hoje, 10% ou mais dos casos são de população prisional.
Também é resgistrado em indígenas, embora o problema não seja tão grande como
em determinadas regiões brasileiras.
“Às vezes se juntam numa mesma pessoa situação de rua,
HIV, egresso do sistema prisional e uso de substâncias psicoativas lícitas ou
ilícitas”, aponta Carla.
O Hospital Sanatório Partenon é a retaguarda hospitalar
para o Programa de Tuberculose. Principalmente para os casos de abandono de
pacientes que acabam resultando em tuberculose multi-drogaresistente. Daí o
tratamento passa a ser de 18 meses.
A médica comemora o fato de, atualmente, haver um
trabalho afinado com outras políticas como de HIV, Atenção Primária e uma boa
interface com a Saúde Prisional do Departamento de Ações em Saúde (DAS).
Tuberculose é uma doença de notificação
compulsória, de transmissão não consentida e por intermédio do ar. Quando o
paciente tosse ou fala alto, passa o bacilo que poderá ser inalado por quem
está em volta, que ficará infectado e vai adoecer, dependendo da imunidade. Por
isso cada paciente precisa ser acompanhado. Não é uma doença de cunho
estritamente pessoal. Tem uma cadeia epidemiológica em seu entorno
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