Por Roberto Rachewsky
Há uma tendência equivocada, e até covarde, de concentrar toda crítica à guerra em Gaza na figura de Benjamin Netanyahu. Como se ele fosse a causa primária da tragédia. Como se a paz dependesse apenas de sua renúncia. Como se outro líder israelense — mais palatável aos olhos da opinião pública internacional — pudesse desarmar, por palavras, aqueles que fazem da guerra um culto e da morte, uma missão sagrada.
Não importa quem ocupa o cargo de primeiro-ministro em Israel. O que importa, de fato, é quem o Estado de Israel enfrenta. E Israel enfrenta inimigos que não reconhecem a legitimidade de sua existência, nem a humanidade dos seus cidadãos. Inimigos que não querem um acordo, mas um desaparecimento. O que está em jogo não é a política interna de um Estado democrático, mas o direito de esse Estado — o único do mundo com identidade judaica — continuar existindo entre o rio e o mar.
De Teerã a Gaza, de Sanaa a Beirute, Israel é cercado por milícias e Estados que repetem abertamente o desejo de vê-lo riscado do mapa. O Irã, por meio da Guarda Revolucionária e do financiamento de grupos como Hamas, Hezbollah e os Houthis, injeta bilhões de dólares todos os anos em armas, treinamento e propaganda para alimentar esse projeto genocida. Em 2023 e 2024, mais de 15 mil foguetes e drones foram lançados contra Israel em menos de doze meses. Só o Hezbollah, sustentado pelo Irã, recebe anualmente mais de 700 milhões de dólares para manter um arsenal que chegou a ter mais de 150 mil mísseis apontados para cidades israelenses, até que Israel retaliou com inteligência formidável.
Em 7 de outubro de 2023, o mundo viu o que significa permitir que esse ódio floresça sem reação proporcional. Em apenas um dia, o Hamas massacrou cerca de 1.200 civis israelenses, incluindo mulheres, crianças e idosos. O ataque foi meticulosamente planejado e barbaramente executado, com estupros, decapitações e sequestros. Os próprios terroristas transmitiram suas ações com câmeras acopladas ao corpo, como se fosse um troféu. Nada do que aconteceu naquele dia foi improviso. E nada do que aconteceu foi resposta a Netanyahu.
Reduzir a origem do conflito à figura do primeiro-ministro israelense é ignorar a realidade histórica: Israel já foi governado por líderes de todos os matizes — trabalhistas, pacifistas, militares, técnicos, religiosos e seculares. Nenhum foi poupado do ódio daqueles que rejeitam a mera ideia de um Estado judeu soberano. Não foram as decisões de Netanyahu que inspiraram a criação da carta do Hamas, que proclama a destruição de Israel como seu objetivo sagrado. Nem foi ele quem armou o Hezbollah com mísseis de longo alcance. Nem ele quem enviou suicidas a cafés, ônibus e sinagogas.
O que os slogans como “Nunca Mais” e “Israel tem direito de existir” significam, afinal, se são esvaziados quando postos à prova? “Nunca Mais” não é apenas um mantra contra o esquecimento do Holocausto — é uma promessa de que, diante de novas ameaças, haverá reação. De que os antissemitas de hoje — como os de ontem — encontrarão resistência, não complacência. Que serão punidos, não cortejados.
“Israel tem o direito de existir” não é uma concessão condicional a depender do nome do premiê de turno. É a afirmação de um fato moral: o povo judeu tem o direito de viver com soberania e segurança em sua terra ancestral. E isso não pode depender do humor das manchetes ou da aprovação de ONGs internacionais.
Se um governo democrático decide que precisa usar força letal para neutralizar ameaças terroristas sistemáticas, isso não é uma escolha ideológica — é uma obrigação moral. O uso da força não é o problema. O problema é a existência de inimigos que só podem ser detidos pela força. Nenhuma declaração de cessar-fogo assinada com o Hamas impedirá a próxima tentativa de massacre. Nenhuma ajuda humanitária impedirá que o Hezbollah continue escavando túneis e acumulando armas em escolas e hospitais.
Sim, há sofrimento em Gaza. Mas o sofrimento em Gaza é causado pelo próprio Hamas, que transformou civis em escudos, escolas em depósitos de foguetes, ambulâncias em transporte de combatentes. Aqueles que se comovem com as vítimas civis — como se não houvesse contexto — devem lembrar que Israel enviou alertas, mensagens e instruções de evacuação antes de cada bombardeio, arriscando inclusive a eficácia militar da operação, além da perda de 1800 soldados. O Hamas, por outro lado, impediu civis de fugir, e celebrou a morte de cada um deles como munição de propaganda.
Falar de moderação na guerra contra o terrorismo é como pedir parcimônia a um cirurgião que tenta extrair um tumor invasivo. Não há virtude em poupar o câncer. E não há justiça em exigir que Israel poupe quem jurou destruí-lo.
Sacrificar vidas israelenses para preservar a imagem internacional de “moderação” não é diplomacia — é suicídio. Nenhum Estado do mundo aceitaria o que Israel é obrigado a aceitar. Nenhum país toleraria ataques diários com foguetes, sequestros, túneis, emboscadas, decapitações e ameaças nucleares constantes. Nenhum povo deveria ter que justificar sua própria sobrevivência. E, no entanto, é isso que se exige de Israel — explicações, comedimento e culpa.
Quem exige que Israel se contenha diante de seus inimigos não está pedindo paz. Está pedindo que os judeus aceitem o destino que os perseguiu por dois mil anos. E isso não acontecerá. Não mais
Nenhum comentário:
Postar um comentário