Artigo, Gilberto Kasper - Escola, cena de crimes

Gilberto Jasper é jornalista.

- Este artigo está publicado no jornal A Gazeta, Lajeado.


“De ameaças a facadas, já são 1,5 mil casos de violência na escola em 2025 no Estado”. A manchete, estampada em jornais de ontem, revela o cenário dantesco em que se transformou um dos espaços que deveria ser sagrado, protegido e intocável.

Há uma série de motivos que transformaram a escola em um lugar insalubre, inseguro e perigoso. Quem pensa que as ocorrências policiais envolvendo professores, funcionários, alunos e pais/responsáveis são registradas em escolas públicas e bairros populares, está enganado.

A violência que grassa em todos os segmentos da vida não poupou o lugar onde se deveria aprender direitos, deveres, valores e princípios. O principal deles, sem dúvida, é o respeito ao professor. Ele é a figura que encarna – ou deveria encarnar – a autoridade materna e paterna.

Infelizmente a omissão de muitos pais e responsáveis é combustível para exacerbar o ambiente escolar. Falta participação daqueles que deveriam zelar pela formação dos filhos, através da participação efetiva na rotina, como conferir a agenda, atualizar-se do cotidiano, conhecer o nome dos melhores amigos e colegas.

A correria do dia a dia é desculpa surrada para terceirizar responsabilidades. As agressões sofridas por professores são inadmissíveis. Soa injusto comparar épocas, mas neste assunto considero relevante. Sou do tempo onde professores eram chamados por “senhor” e “senhora”, tratamento que usei a vida toda com meus pais.

A autoridade docente era inegociável. O respeito era premissa básica dentro da sala de aula e no pátio. Mesmo na adolescência, onde a revolta é marca registrada, sempre refreei meus instintos de “responder no ato” e esbravejar. Sabia que, ao chegar em casa, as consequências seriam desagradáveis para mim. Seria proibido de sair com os amigos, jogar futebol, ir ao cinema, ver tevê e seria obrigado a ficar confiado ao meu quarto.

Passamos de um extremo ao outro. Como dizia meu pai, o velho Giba “o bom senso nunca está nos extremos, está no equilíbrio”. À época de estudante – do primário, segundo grau e de “admissão ao ginásio”, era preciso conter a vontade de contestar o professor, a qualquer custo.

Hoje, época de liberdade plena e muitos direitos e poucos deveres, alunos se acham no direito de transgredir qualquer parâmetro de respeito, educação e hierarquia. Sem isso, o caos se instala, a violência vem a seguir e as ocorrências – inclusive fatais – não surpreendem.

Crimes cometidos dentro do ambiente escolar pareciam distantes de nós, promovidos por lunáticos mundo afora, longe da nossa realidade. Hoje, como mostram as manchetes e estatísticas, é a triste consequência de reiteradas omissões, comodismo e falta de responsabilidade.

Artigo, especial - O plano está em curso: quando o sistema escolhe, o eleitor vira platéia

A entrevista de Ciro Nogueira, longe de ser apenas uma análise ou desabafo, foi a oficialização de um roteiro já em movimento. Com tranquilidade cirúrgica, Ciro confirmou que a anistia de Jair Bolsonaro só será debatida após o julgamento. Não se trata de opinião, mas de alinhamento com o que Barroso já havia declarado. O Judiciário condena, o Congresso anistia, e o sistema respira. Não há conflito entre Poderes. Há sincronia. 

Esse é o primeiro alerta: a anistia, vendida como um gesto de pacificação, foi transformada em instrumento de disciplina. Ela não será negada, mas condicionada. A sua função, agora, é política. Serve para garantir que Bolsonaro esteja inelegível, derrotado juridicamente, antes que qualquer gesto de clemência se materialize. Uma maneira elegante de controlar o tempo, esvaziar a reação e administrar o dano. 

Mas é quando Ciro fala sobre a sucessão que a engrenagem se revela por completo. Ele afirma, sem hesitação, que seu candidato não é Bolsonaro, mas Tarcísio. E não fala como alguém que apenas expressa preferência pessoal. Fala como operador do sistema. O nome de Tarcísio aparece como resposta viável à crise fabricada. O governador é descrito como técnico, confiável, sem desgastes, apto a conduzir o país com estabilidade. Estabilidade para quem? 

É preciso entender o subtexto: a elite está redesenhando o jogo para manter o capital eleitoral do bolsonarismo, mas com outro condutor. Bolsonaro segue útil como vitrine, mas perde a centralidade. O foco da entrevista não é o combate à inelegibilidade, nem o clamor por justiça. É a tentativa de suavizar a substituição. A base que foi às ruas, que resistiu à censura, que sustentou o governo nos piores momentos, agora assiste a um processo em que não tem voz nem veto. 

E o silêncio em torno disso é ainda mais ruidoso. Nenhum membro da família Bolsonaro está na mesa de negociações. Nenhum nome com vínculo real com a militância foi convidado a opinar. O sistema organiza a transição como se fosse apenas uma atualização de software: muda-se a interface, preserva-se a função. Mas a política não é um programa meramente técnico. É vínculo, é sangue, é história. E é aí que o plano escorrega. 

Ao naturalizar a inelegibilidade de Bolsonaro e apresentar a anistia como um capítulo pós-julgamento, Ciro cumpre uma função estratégica: além de norma lizar a exclusão de Bolsonaro, ele ensaia a legitimação do substituto. Tenta con vencer que o caminho já está traçado, que o novo nome já foi aceito, que o jogo precisa apenas seguir. A base, nesse cenário, vira espectadora de um espetáculo montado nos bastidores. 

Mas há um detalhe que o roteiro não prevê: o público já entendeu que a peça está sendo encenada sem os protagonistas. E quando isso acontece, nem sempre o final sai como o autor imaginou

Julgamento de Bolsonaro

 A defesa de Jair Bolsonaro informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que nove advogados devem acompanhar a sessão de julgamento do ex-presidente e mais sete réus do núcleo 1 da suposta trama golpista a partir da próxima terça-feira.

O julgamento é político e os próprios julgadores da 1a. Turma, 5 ministros, já deixaram claro que todos serão condenados a duras penas.  Os julgadores são Alexandre de Moraes, e os ministros Flávio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux.Bolsonaro e os demais réus respondem pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado.

Quem são os réus do núcleo 1:

Jair Bolsonaro - ex-presidente da República; 

Alexandre Ramagem - ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);

Almir Garnier - ex-comandante da Marinha;

Anderson Torres - ex-ministro da Justiça e ex-secretário de segurança do Distrito Federal;

Augusto Heleno - ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;

Paulo Sérgio Nogueira (general), ex-ministro da Defesa;

Walter Braga Netto - ex-ministro de Bolsonaro e candidato à vice na chapa de 2022.

Mauro Cid (tenente-coronel), ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.

Estrangeiros investem menos no Brasil. Conheça os números.

 O relatório mais recente do Banco Central e dados consolidados pela UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) confirmam uma notícia que caiu como bomba no mercado financeiro: o Investimento Estrangeiro Direto (IED) no Brasil despencou em 2025, acumulando apenas US$ 33,8 bilhões no primeiro semestre, queda de 10,7% em relação ao mesmo período de 2024.O IED é considerado o “dinheiro de longo prazo”, aquele que realmente transforma a economia. Diferente dos fluxos especulativos que entram e saem com rapidez, o investimento estrangeiro direto financia fábricas, infraestrutura, tecnologia, agronegócio e serviços. É o capital que gera empregos, renda e transferência de conhecimento. O Brasil vinha de um período de relativa estabilidade nesse indicador, atraindo entre US$ 60 e 70 bilhões anuais nos últimos anos. Mas em 2025, o ritmo caiu para patamares não vistos desde 2021, em plena pandemia.O México atraiu mais de US$ 36 bilhões no mesmo período, impulsionado pelo nearshoring, tendência de empresas americanas transferirem suas cadeias produtivas da Ásia para países próximos.A Índia bateu recordes ao receber mais de US$ 70 bilhões em 2025, consolidando-se como destino preferencial para tecnologia, energia limpa e manufatura.

As razões têm a ver com o incompetente governo atual: cenário fiscal incerto com dívida pública projetada para 84% do PIB até 2028,  aumento de impostos, insegurança jurídica, instabilidade política e restrições de acesso das exportações brasileiras para o principal mercado consumidor do mundo, os Estados Unidos.

O cenário futuro é de menos fábricas, menos investimentos em energia, menos empregos qualificados, ou seja, baixo crescimento, atraso tecnológico e de crescimento econômico.