O autor escreve na revista Timeline
A escritora russa Ayn Rand, com sua habitual sabedoria, afirma: "O fascismo, o nazismo, o comunismo e o socialismo são variações superficiais de um mesmo tema monstruoso: o coletivismo". Seguindo essa linha de pensamento da filósofa e dramaturga, o coletivismo pode ser visto como a base de movimentos uniformes, revolucionários e massivamente concordantes, nos quais a aceitação é dada pela total aquiescência e ausência de atrito com os iguais ou superiores. Nesse cenário, a opinião individual deve ser obrigatoriamente substituída pela opinião da massa, seja ela certa, seja errada, seja moral, seja imoral, seja amoral. Não é preciso muito para perceber a brecha que essa mentalidade abre contra qualquer um que, porventura, discorde do líder do grupo, sindicato, partido, universidade, tribuna etc.
Antes de seguir com a análise, um breve esclarecimento sobre o termo "coletivismo" evitará possíveis confusões. No contexto deste artigo, refere-se às instituições coletivistas de ordem econômica, social e política, cujos princípios fundamentais subjugam o indivíduo a um ou mais grupos. Como consequência, a liberdade pessoal é diminuída e o desenvolvimento do ser humano é prejudicado. Outra interpretação possível para o termo diz respeito a tendências comuns em uma sociedade, região ou grupo, nos quais desejos, crenças, gostos e metas se tornam semelhantes, devido ao convívio diário. Essa forma de coletivismo é tipicamente inofensiva e natural.
Por meio de movimentos coletivistas exercidos sob pressão por grupos econômicos, sociais ou políticos, uma das características marcantes de um autêntico esquerdista, como de qualquer coletivista, é a divisão do mundo em grupos: castas, raças, classes, gêneros, religiões... A bondade ou maldade de uma pessoa deixa de ser julgada por suas ações e posturas individuais, passando a depender exclusivamente do grupo ao qual ela pertence. Nesse sentido, a famigerada luta de classes não passa de uma consequência lógica da eterna batalha entre o bem e o mal. Esses ideais, originários de Marx e Engels, foram amplamente exaltados e atualizados por Marcuse, Adorno e outros membros neomarxistas da Escola de Frankfurt.
Nas sociedades coletivistas, ninguém é responsabilizado por seus próprios atos. Erros não são vistos como o resultado de escolhas livres e conscientes, cujas consequências devem ser arcadas pelo próprio indivíduo, mas, sim, como imposições de uma figura mais poderosa, ou até mesmo da sociedade como um todo. Não será surpreendente o dia em que indústrias de bebidas alcoólicas forem responsabilizadas pelos acidentes de trânsito envolvendo motoristas embriagados, ou quando mulheres forem processadas por essas indústrias por agressões de maridos alcoolizados.
O ideal revolucionário coletivista - presente desde a Revolução Francesa até a Revolução Russa, no nazismo alemão, no fascismo italiano, na Revolução Cultural de Mao Tsé-Tung na China e na União Soviética, sob Lênin e Stalin - nunca teve, de fato, a intenção de buscar liberdade ou paz. Ao contrário, sempre se tratou de uma arquitetura social permanente e definidora, extremamente perigosa para a liberdade ordenada justamente por seus princípios que lhe são contrários.
Uma sociedade coletivizada é uma sociedade imatura, que perde a capacidade de reconhecer as características próprias e diversas de seus indivíduos. A pluralidade de pensamentos e gostos é completamente anulada. A despersonalização do ser humano é imposta de maneira abrupta, a fim de abrir caminho para a ascensão de uma classe. O que passa a existir não é mais o ser humano e suas particularidades, mas a classe como um todo.
O significado do símbolo do Partido Fascista ilustra bem o que quero expressar: trata-se de algumas madeiras unidas por uma faixa. Nesse símbolo, não conseguimos mais perceber as características individuais de cada pedaço de madeira, mas sim um único feixe de lenhos, envoltos por uma faixa comum. Esse símbolo e essa metáfora refletem a coletivização do indivíduo, na qual ele deixa de ser uma entidade única e pensante para se submeter ao grupo social, sendo envolvido por uma faixa padronizadora.
A luta revolucionária coletivista é fundamentada no conceito da "Inconsciência de Interação", no qual a luta pelo abstrato prevalece sobre a busca por algo tangível e real. Romper com essa inconsciência é dar maior valor ao indivíduo e menos aos rótulos padronizantes. A inconsciência de interação é, sem dúvida, danosa à alma humana, provocando uma despersonalização brutal em indivíduos que já não se referem a si mesmos na primeira pessoa do singular, mas se tornam estereótipos vazios de sentido, sonho e desejo.
Em vídeos, podemos observar homens e mulheres adeptos do nacional-socialismo alemão, que, de forma padronizada e despersonalizada, saudavam-se com as mãos estendidas em uma postura militar, enaltecendo o líder do regime. Algo semelhante pode ser visto nos desfiles da China atual, nos quais jovens orquestram seus passos e vestimentas, carregando o livro vermelho de Mao Tsé-Tung, às ordens de Xi Jinping e do Partido Comunista Chinês. Nesses regimes, o indivíduo é esquecido e transformado em parte de um amálgama humano. José e Maria deixam de existir enquanto nomes e identidades, dando lugar ao ser que é apenas contrário ou favorável ao partido, da classe ou do líder.
O coletivismo nasce do desejo de acumular dinheiro ou poder por parte de certos grupos ou indivíduos. Para que um tirano ascenda, é necessário despersonalizar a sociedade, reprimir e restringir as individualidades humanas, padronizando-as de acordo com os desejos do imperador e de seu império. Para o integrante do governo, imerso até o fundo em ideais coletivistas, os seres humanos são coisas a serem dominadas, meros meios para atingir fins.
Numa sociedade baseada em princípios coletivistas, o desenvolvimento da competência individual da população deve ser restringido, para preservar a dependência e a submissão das pessoas ao governo dominante. Tal submissão nem sempre é imposta de maneira bélica. Ela pode ser cultural, política, econômica, biológica, demográfica ou intelectual. Destruir a natureza humana é o ponto-chave desses movimentos coletivistas para o domínio das massas, desde o seu íntimo. Antes de manipular as informações e criar uma ditadura, a primeira tirania coletivista a ser instaurada é a confusão sobre o que ela é. Esse é o princípio inicial da aniquilação de um inimigo.
Como resposta ao convite dos políticos esquerdistas, as pessoas agora pedem a intervenção do governo em todos os principais setores da vida: creches, educação pública escolar, educação sexual, regulamentação dos empregos, qualidade e confiabilidade de produtos, regulamentação da moeda e dos bancos, regulamentação de remédios, políticas de saúde, compensação por deficiências pessoais, aposentadoria etc. Diante do clamor das pessoas coletivizadas e despersonalizadas, o Estado tem se tornado administrador do cuidado paternal, da proteção e das indulgências, desde o berço até o túmulo. O Estado moderno assumiu o papel de um pai aparentemente benigno, generoso, onipotente e semelhante a Deus, que serve como tutor, gerente, provedor e cuidador. Nós temos, na verdade, elevado nossos governos ao status paternal, na crença de que estaremos em melhor situação se eles cuidarem de nós do que se o fizermos nós mesmos.
Deslocamos nossas premissas sobre a condição humana de uma concepção ética e religiosa, de que devemos alcançar uma boa vida por meio do trabalho duro e de responsabilidades individuais e cooperativas, para uma concepção coletivista e secular da vida, a de uma competição manipuladora pelas recompensas do "Estado babá". Em vez de rezarmos a Deus, pedindo força e orientação em nossas lutas pessoais para servir os outros enquanto servimos a nós mesmos, nós imploramos aos nossos legisladores por um lugar no cocho público e esperamos que eles sejam generosos conosco, ao menos na mesma proporção que o são uns com os outros.
Link deste artigo:
https://revistatimeline.com/o-coletivism