Este artigo é do Observatório Brasil Soberano
A falta de coordenação no apoio a Eduardo Bolsonaro e a tardia coesão em torno da candidatura de Flávio são uma clara demonstração de que o movimento patriótico nacional ainda não amadureceu o suficiente. O bolsonarismo, embora tenha amplo apoio popular, não criou as macroestruturas que organizam um movimento político. O resultado é uma bancada heterogênea, em que os deputados do PL não se sentem na obrigação de seguir uma liderança, e muito menos uma agenda de longo prazo. Ao observar com atenção o cenário político nacional, percebe-se que existem de fato apenas dois movimentos realmente políticos com uma agenda para pautar a pólis. De um lado, o petismo com seus partidos associados; de outro, o tucanismo. São as únicas forças que dispõem de uma estratégia de longo prazo e de uma ação conse quente ao longo do tempo, orientada para conquistar ou preservar o poder. Todo o restante tem pouca relevância estrutural. No Brasil, confunde-se frequentemente o que seja um movimento político com o que é, em essência, apenas um aglomerado de políticos. O MDB, por exemplo, não se comporta como partido no sentido rigoroso do termo. Não apresenta estratégia, não possui objetivo definido; funciona, antes, como um conjunto de votos dispo nível à venda, a ser adquirido ora pelos tucanos, ora pelos petistas, na ausência de qualquer outro comprador relevante. Discute-se, assim, um conjunto de temas poli ticamente periféricos, enquanto a estrutura real do poder permanece praticamente intocada. Em termos objetivos, há três fenômenos principais: o petismo articulado, o tucanismo articulado — cuja ligação com estruturas internacionais é mais profun da — e um movimento popular acéfalo. Este “movimento popular” não chega propriamente a configurar um movimento; trata-se, antes, de uma revolta difusa da população. Não se pode falar em movimen to político sem a existência de um objetivo claro. O que aparece, no entanto, é um mosaico de objetivos dispersos: instaurar uma democracia próspera e pujante, re solver os problemas da segurança pública — sem descrever como isso será feito —, entre muitos outros. São milhares de objetivos soltos, absolutamente inconexos e, com alguma frequência, politicamente irrelevantes. Os tucanos, por sua vez, possuem um plano de longo prazo, contam com apoio internacional, dispõem de conexões orgânicas e configuram um movimento po lítico estruturado; compreender esse dado é essencial. Representam, em grande medida, a expressão local da nova ordem mundial, do globalismo e do poder exer cido por organismos internacionais. Encarnam, portanto, esse conjunto de forças. Trata-se, em larga medida, da turma formada em torno da London School of Eco nomics, herdeira direta da tradição fabiana. Tanto o tucanismo quanto o petismo se apresentam, assim, como ramificações locais de movimentos internacionais dotados de história, continuidade e doutrina: o primeiro associado à tecnocracia globalista de corte fabiano; o segundo, ao movimento comunista internacional, com sua tradição de cerca de 150 anos. Assim, ao se considerar que correntes de ideias efetivamente estruturadas estão dis poníveis no Brasil, o quadro se afunila: existem, em termos amplos, duas grandes matrizes ideológicas — o marxismo e o liberalismo. Apenas esses grupos apresen tam uma agenda de longo prazo, um projeto político nacional. Como será possível deter esses agentes políticos sem apresentar uma agenda con trária? Como o bolsonarismo pode vencer sem ter um projeto político ?