Artigo, especial - A integração dos dois Brasis através da cidadania

Este artigo é do Observatório Brasil Soberano

O gênio de Machado de Assis registrou com precisão a fotografia política que ilustra a relação do povo brasileiro com a vida pública nacional. Na obra de Machado, Esaú e Jacó, o Conselheiro Aires — um ex-diplomata solteirão e membro da elite carioca — encontra Custódio, dono de uma confeitaria já conhecida há décadas por um nome ligado ao antigo regime. Alí, a República acaba de ser proclamada e, antes mesmo de qualquer mudança prática, o que se espalha pela capital brasileira é um clima de incerteza: ninguém sabe o que pega bem dizer, o que pega mal escrever, o que pode gerar perseguição ou causar problemas. O personagem Custódio havia mandado pintar uma tabuleta para a fachada de sua padaria: a padaria do Império. Só que, de repente, esse “Império” deixou de ser apenas tradição comercial e virou um risco simbólico. Assim, Custódio não se vê como um cidadão integrado a um sistema político, parte de uma nação, protegido pela lei e por seus magistrados. O Brasil tem dificuldade histórica de desenvolver cidadania e de transformar o povo em grandeza política porque construiu um Estado antes de formar uma comunida de. A máquina institucional surgiu como uma casa de máquinas fria e disposta a ob ter obediência, sem tradição jurídica clara e sujeita às oligarquias que se apossaram desse aparato com o golpe republicano. Já a formação social tem marcas profundas da escravidão, do voto a cabresto e do uso patrimonialista da máquina pública. A vida social foi organizada pela “casa grande”: famílias oligárquicas, compadrio, pa tronagem, proteção e dependência. A casa de máquinas do Estado brasileiro esteve sempre a serviço de alguém, tinha uma espécie de “dono”; o costume era ver o Estado brasileiro trabalhando em prol dos interesses das oligarquias. Quando, para o Estado, direitos viram favores, servi ços viram privilégios ou concessões, a vida política não floresce. Em vez de cidadão diante de instituições, emerge o cliente diante do intermediário: alguém “resolve”, “abre portas”, “libera a papelada”. Isso esvazia o sentido de deveres e direitos co muns e fragmenta a sociedade em círculos de lealdade, onde a obediência é moeda e a autonomia é exceção. A cidadania brasileira foi concedida como outorga, como concessão burocrática para legitimação do Estado e exercício do poder. A política floresce onde os interesses pa lacianos são trazidos a público, onde os cidadãos têm meios de se defender do Esta do e onde o debate na ágora é mais decisivo do que os acordos e conchavos ocultos. O Brasil é tão pobre desse espírito público que, até hoje, há pouca integração legal, existencial e política ao país. Ainda persiste a divisão de dois Brasis: um oficial, dos burocratas e da elite intelectual, acadêmica e política; e o Brasil real, feito de pessoas que tentam viver sem estarem integradas ao Brasil oficial. Vive-se ora o domínio do Brasil de Aires sobre o Brasil de Custódio, ora uma franca tensão e conflito. O Brasil não florescerá enquanto sua unidade depender da opressão do aparato burocrático do Estado, da retirada dos meios de ação do povo e do empobreci mento controlado da nação. O Brasil florescerá quando desenhar um projeto de vida comum, quando a unidade nacional depender da união e integração de pro jetos de vida de brasileiros. Sem fazer com que as instituições trabalhem a serviço de um projeto de vida comum que integre brasileiros, a cidadania no Brasil será um título burocrático, uma fantasia de acadêmicos que pretendem florear a opressão contra o povo. Sem desenhar esse projeto, a vida seguirá sob a cisão de dois Brasis: o oficial, opressor, e o Brasil real, oprimido e sobrevivente

Artigo, especial - O Brasil que desde sempre repete e não elabora

Alex Pipkin, PhD em Administração

A psicanálise tornou-se quase um mandamento moderno. Diante de qualquer sofrimento, a recomendação tende a ser automática: procure tratamento. A ideia central é simples e profunda, ou seja, romper padrões que o indivíduo, sozinho, não consegue superar. A clínica nos convoca a um trabalho silencioso e transformador; o de elaborar para não repetir. E é justamente nesse ponto que a história do Brasil encontra o seu espelho mais fiel.

Freud nos ensinou que aquilo que não é elaborado retorna como repetição. O paciente não recorda, ele repete. Reage hoje como reagiu ontem, encenando no presente aquilo que não consegue assumir conscientemente. A tarefa analítica consiste em converter repetição em recordação, trazer à luz o que antes era resistência e permitir, assim, o amadurecimento. Enquanto houver repetição, não haverá elaboração.

Pois bem, o Brasil é esse paciente que resiste à elaboração. Transformamos a repetição em método político e a procrastinação em hábito e esporte nacional favorito. Sempre que o país se aproxima da responsabilidade, recuamos para a fantasia do Estado-pai-babá. Sempre que surge a chance de construir instituições maduras, retornamos ao impulso infantil de esperar que Brasília resolva tudo. É a velha dependência emocional travestida de esperança política.

Desde a Independência, jamais adotamos aquilo que funciona em qualquer experiência de prosperidade factual, isto é, uma economia realmente aberta; impostos civilizados que deixem o dinheiro no bolso de quem o produz; desregulamentação ampla; um Estado limitado, disciplinado e eficiente; um ambiente de negócios que trate o empreendedor como protagonista da criação de riqueza, não como suspeito permanente à espera de expropriação. Nunca tentamos seriamente o liberalismo, embora o mundo já tenha demonstrado que liberdade econômica não é ideologia, é condição elementar para desenvolvimento consistente. Nos mercados livres têm-se a melhor forma de promover a prosperidade e a cooperação entre as pessoas. Eles permitem que as pessoas trabalhem juntas, criem valor e se beneficiem, independentemente de suas diferenças. Eles permitem que os indivíduos sejam eles mesmos, sem a necessidade de se conformar a uma ideologia ou dogma específico.

Mas a terra de Macunaíma insiste no velho roteiro. Repetimos o estatismo hipertrofiado, a crença messiânica no Estado onipresente, a promessa de proteção acompanhada de controle, burocracia e impostos asfixiantes. Em cada ciclo político, mudam slogans e figurinos, mas não o enredo. A memória recalcada retorna sempre na forma de gastança, gigantismo estatal, dirigismo, populismo. E, assim, procrastinamos tudo o que realmente importa.

Procrastinamos reformas estruturais essenciais, o futuro, e, especialmente, a liberdade econômica que conduz ao crescimento econômico.

Essa procrastinação não é ignorância. É sintoma. É a expressão social de um inconsciente político que teme o amadurecimento. Queremos os benefícios da responsabilidade sem o exercício da responsabilidade. Desejamos liberdade, mas permanecemos dependentes. A cada tentativa de avançar, recriamos precisamente as condições que nos paralisam, tal qual um paciente que, temendo a cura, retorna ao sintoma que conhece.

O lulopetismo intensifica essa compulsão nacional anti-progresso. Mas o Brasil estatista não começa com Lula, nem termina com ele. Trata-se de um padrão antigo, confortável, infantilizador, que atravessa governos de todas as cores. O Estado segue protagonista; o indivíduo, figurante. Fomos educados para esperar tudo do governo, e os populistas reforçam essa lógica, porque governar dependentes é muito mais fácil do que governar cidadãos adultos.

Freud nos advertia: enquanto a repetição domina, não há elaboração possível. E o Brasil, preso à fantasia de tutela e à dependência emocional, permanece exatamente aí, repetindo o passado, travado no presente, procrastinando, incapaz de se projetar no futuro.

O caminho verdadeiro é um segredo que não é segredo. Necessitamos de abertura econômica, impostos baixos, livre mercado, desregulamentação, Estado limitado, meritocracia, educação de excelência e responsabilidade individual. É isso — e apenas isso — que rompe o ciclo da estagnação e do atraso.

Porque, no fim, o maior inimigo do Brasil não está fora. Está no roteiro que insistimos em repetir, na procrastinação.

O futuro exige uma decisão adulta, inadiável. É mandatório abandonar o divã coletivo, para desatar as amarras que impedem o essencial crescimento econômico — e social.

Opinião - Esta é a verdade que Eduardo Leite não conta sobre o ajuste das contas públicas do RS

No balanço que acaba de assinar em artigo publicado no site do governo, o governador Eduardo Leite parece ignorar o apoio que recebeu do MDB na eleição de 2022, aliança que resultou até mesmo na indicação do seu vice na chapa majoritária. No artigo, o governador rsolveu rifar o ex-governador Sartori quando atribuiu à sua gestão a responsabilidade pelo atraso mensal dos salários do funcionalismo, isto por  57 meses.

Edurdo Leite desqualifica seu antecessor se auto-atribui méritos pelo equacionamento das contas públicas.

Além de desrespeitar Sartori, dentro de seu estilo próprio de criar narrativas para ensaiar suas falas, omite que quem efetivamente colocou em dia o salário dos servidores gaúchos foi o ex-presidente Jair Bolsonar, tudo por conta dos auxílios federais aos estados e municípios por conta da pandemia em 2020. Esta ajuda resultou no aporte direto de R$ 7,142 bilhões nos cofrrs do governo estdual, o que permitiu que não só que os salários fossem colocados em dia, mas também fossemquitados um conjunto de contas atrasadas.O mesmo Bolsonaro mandou recursos que somaram R$ 14,7 bilhões para os municípios gaúchos, mais R$ 44,9 bilhões para o Auxílio Emergencial, Programa BEM e Pronampe que ajudaram o estado a se recuperar.

Não seria exagero dizer que o melhor secretário da fazenda do primeiro governo Leite foi o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Também em seu artigo, Leite omitiu a ajuda dos bilhões de reais representados por outros aportes federais, tudo por conta da enchente de 2024, quando entre outras benesses, ganhou uma carência de três anos para não efetuar o pagamento da dívida impagável que tinha renegociado em 2022 e que tinha comprometido as finanças estaduais por trinta anos.

Ajudado, agora, novamente pela União, assinará novamente uma renegociação da dívida de R$ 112 bilhões, através do PROPAG que melhorará um pouco o custo para o Tesouro do Estado. Os números informados pela Secretaria da Fazenda, de qualquer forma, demonstram o forte comprometimentos do caixa estadual para os próximos anos. Leite não estará mais no governo para pagar essa conta.

O governador também omitiu em seu artigo o fato das irregularidades cometidas com o uso dos recursos do FUNDEB para o pagamento de aposentados, o que conflitava diretamente com dispositivos constitucionais, segundo apontamentos do Tribunal de Contas e que que levou à assinatura de um Termo de Composição Judicial com o Ministério Público Estadual, tudo no âmbito da Ação Pública mjovida  contra o estado do Rio Grande do Sul  e visando sanar as irregularidades. A ação falva, inclusive, em “valores estes que têm sido desviados da MDE e do FUNDEB”. O que importa é que durante anos o governador Leite omitiu que parte do equilíbrio de suas contas passou pelo cometimento de infrações ao dispositivo constitucional. São alguns bilhões de rais, valores ainda difíceis de calcular.

Também não contou que não cumpriu as exigências constitucionais referentes aos percentuais mínimos em saúde e educação.

Não é só.

O governador omitiu no seu artigo que os investimentos feitos se deram basicamente com recursos das privatizações e do FUNRIGS (parcelas da dívida com a União que deixaram de ser recolhidas em função dos auxílios federais para a enchente de 2024) e não em decorrência da gestão das contas feitas como obras de seu governo.

Caso o governo Sartori tivesse contado com auxílios iguais por parte da União, certamente que suas contas teriam fechado sempre no azul e em dia.

Um pouco mais de compromisso com a verdade com o ex-governador Sartori e com o MDB seria educativo para o próprio amadurecimento pessoal do governador.

A moral da história, se não fossem os bilhões em auxílios recebidos da União durante seus dois mandatos, as contas estariam no vermelho até hoje, não esquecendo que ainda se gabou em seu artigo inchando a máquina pública com mais 40 mil servidores.

Parece ser um excelente exercício onde a retórica tenta confrontar com a realidade.


 Cerca de 8,3 milhões de pessoas com 60 anos ou mais estavam trabalhando em 2024. Com esse contingente, o Brasil alcançou o recorde no nível de ocupação desse grupo etário, desde que o levantamento começou, em 2012.


Dos 34,1 milhões de idosos, um em cada quatro (24,4%) estava ocupado no ano passado.


A revelação faz parte do levantamento Síntese de Indicadores Sociais, divulgado nesta quarta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


Desde 2020, cresce o nível de ocupação de idosos:


2020 – 19,8%

2021 – 19,9%

2022 – 21,3%

2023 – 23%

2024 – 24,4%

Reforma da previdência

A analista do IBGE Denise Guichard Freire, responsável pelo capítulo, aponta que, além do aumento da expectativa de vida, a reforma da previdência, promulgada em 2019, é uma das explicações para o ganho de ocupação.  


“Certamente a reforma da previdência é um dos fatores que levam as pessoas a ter que trabalhar mais tempo, a contribuir mais tempo para conseguir se aposentar”, afirma.


O estudo mostra que a taxa de desocupação – popularmente conhecida como taxa de desemprego – dessa população foi de 2,9% em 2024, a menor da série histórica do IBGE.


Para efeito de comparação, o desemprego do total da população era de 6,6% no ano passado.


Ao dividir por idades, o IBGE identifica que no grupo de 60 a 69 anos, 34,2% estavam ocupados. Quase metade (48%) dos homens trabalhavam. Entre as mulheres, eram 26,2%.


Já no grupo com 70 anos ou mais, a ocupação era reduzida a 16,7%. Entre os homens, 15,7%. No grupo das mulheres, 5,8%.


>> Leia mais: 

Entenda as regras de transição da reforma da Previdência 


Expectativa de vida no país sobe para 76,6 anos, a maior já registrada


Conta própria e empregador

O IBGE apura informações de como é a atuação dos idosos no mercado de trabalho. Um dado relevante é que mais da metade deles (51,1%) trabalhava por conta própria (43,3%) ou como empregador (7,8%).


Para efeito de comparação, na população ocupada como um todo, conta própria e empregadores somam apenas 29,5% dos trabalhadores.


No conjunto da população, a forma de atuação mais comum é como empregado com carteira assinada (38,9% dos trabalhadores). Entre os idosos, apenas 17% tinham essa condição.

Opinião, especial, Marcus Gravina - Novas concessões de estradas estaduais ? Remember a CPI dos Pedágios.

Este assunto deve interessar a toda a comunidade deste Estado. Não critiquem a minha insistência. Acompanhei igual situação em 2007.

A proposta do deputado Paparico Bacchi, apoiada até agora por 20 deputados,  é uma boa oportunidade para relembrar os debates e as conclusões finais da CPI dos Pedágios de 2007, presidida pelo.deputado Gilmar Sossella.

A lição deixada não deve ser desperdiçada.

Antes de partir diretamente para o mesmo sistema de concessão - por 3 décadas - de exploração privada, com o compromisso do governo com readequacão de equilíbrio econômico e financeiro dos contratos, isto é, com frequentes reajustes tarifários, tem o dever de estudar o sistema de PARCERIA PÚBLICO PRIVADO da operação dos pedágios, cujas localizações das praças não dividam as comunidades urbanas em suas mobilidades rotineiras. Caso do pedágio extinto de Forqueta entre Caxias e Farroupilha.

PPP é a melhor solução.

As PPPs em pedágios são mais protegidas aos interesses dos Estados e usuários das vias pedagiadas.

Cometer o mesmo erro no caso das concessões não será burrice, mas, certamente, responderá por nteresses escusos.