Alex Pipkin, PhD
E-maiol do autor - alex.pipkin@hotmail.com
Lecionei e trabalhei com comércio exterior por mais de três décadas e meia. Vivi, ensinei e respirei comércio internacional. E, ainda assim, me espanta a incapacidade — ou seria cumplicidade? — do setor empresarial brasileiro de enxergar o que é evidente: o óbvio (lulante).
Governos de esquerda dito progressista — progressismo de araque, claro — partem da premissa conhecida: o Estado deve induzir a economia. Governos que se aproximam, ao menos em tese, do liberalismo econômico, entendem que a liberdade de mercado e o comércio exterior são pilares do desenvolvimento. Isso não é teoria: é história. Países abertos crescem, inovam, aumentam produtividade e oferecem aos cidadãos bens melhores e mais baratos. Países fechados afundam em ineficiência, atraso tecnológico e baixa competitividade.
O Brasil sempre foi uma fechadura. Um país fechado por convicção ideológica e conveniência política. Quanto mais à esquerda o governo, mais pesado o populismo nacional-desenvolvimentista: “petróleo é nosso”, “vamos gerar empregos nacionais”, “vamos proteger a indústria local”. A velha ladainha do atraso, vendendo ilusões ao povo.
Um exemplo emblemático é o próprio Correios brasileiro, afundando em prejuízo graças à lógica da economia fechada. Mercados abertos geram gigantes que inovam, oferecem soluções completas e mais baratas. O “Correios é nosso” tornou-se símbolo de atraso e ineficiência, reflexo do intervencionismo que persiste há décadas.
O que me escandaliza é o empresariado brasileiro que, mesmo sabendo de tudo, continua flertando com os governos lulopetistas. Em 2022, boa parte alinhou-se a Lula, como se fosse surpresa, como se ignorassem — e todos sabem — como o lulopetismo pensa, entre aspas pensar, e como age de fato.
Os banqueiros sempre se ajeitam. No Brasil, quatro instituições dominam o sistema financeiro, protegidas pela falta de concorrência. Os industriais de compadrio agradecem: quanto mais barreiras, menos competição, mais fácil sobreviver com fábricas obsoletas e produtos defasados. O restante do empresariado, os que deveriam se importar com inovação, produtividade e competitividade, parecem advogar contra seus próprios interesses. Tiro no pé com firma reconhecida em cartório.
Participando de associações de classe, em conselhos, vi empresários sempre obcecados com a taxa cambial, incapazes de discutir inovação ou reposicionamento estratégico, incapazes de abrir mão daquilo que dá conforto para fazer o que garante relevância. Muitos preferem ficar parados, e ficar parado, como sabemos, sempre é uma escolha, sempre é a escolha mais perigosa de todas. Reclamam da China, do Vietnã, de quem ousa competir, como se a culpa fosse do concorrente e não da miopia empresarial, que prefere o abraço paternalista do Estado ao desafio do mercado aberto.
A juventude, ainda que lentamente, começa a acordar: menos ideologia, mais pragmatismo; menos discursos, mais entregas concretas em emprego, segurança, saúde e educação. Parte do empresariado, porém, continua dormindo num sonho siciliano, imerso em ilusões e incapaz de enxergar o óbvio (lulante).
O tarifaço de Trump ilustra bem o efeito: equivocado e populista, ainda assim Lula trata como invasão de soberania, ignorando a ironia. O verdadeiro tarifaço — verde e amarelo — existe aqui desde sempre: tarifas elevadas, subsídios distorcidos e barreiras a insumos essenciais para a indústria. O resultado já se faz sentir; as exportações brasileiras para os Estados Unidos caíram quase 19% em agosto, e a tendência é piorar.
E o que também é tragicômico é que o empresariado nacional, em vez de pressionar o governo brasileiro para diminuir barreiras e abrir o mercado doméstico, dedica-se a fazer lobby nos Estados Unidos. O lobby deveria ser feito no Brasil, agora, como tal, e faz justamente o contrário. Mais um exemplo do sonho siciliano: incapaz de enxergar o óbvio (lulante).
O mercado dos Estados Unidos é estratégico. Só a Califórnia, isoladamente, possui economia maior que muitos países, sendo a quarta maior economia do mundo. Perder competitividade nesse destino é desastre estratégico.
Resta a pergunta que ecoa como escândalo silencioso: como pode um Empresariado, com E maiúsculo, apoiar um governo que já mostrou repetidamente como pensa e como age? Eis o óbvio lulante que insiste em não ser visto.