Este artigo é do Observatório Brasil Soberano
Hoje, o ministro Dias Toffoli
conduziria uma acareação no STF, em pleno recesso judiciário. O confronto entre
Daniel Vorcaro, controlador do Banco Master; Paulo Henrique Costa,
ex-presidente do BRB, e Ailton de Aquino Santos, diretor de Fiscalização do
Banco Central, foi cancelado ontem. O objetivo seria esclarecer contradições
nos autos sobre a tentativa de venda do Master ao BRB — operação rejeitada pelo
BC em setembro por indícios de irre gularidades — e sobre os processos de
supervisão que culminaram na liquida ção do banco. A PGR e o próprio BC
consideraram a medida prematura; Toffoli a manteve, alegando relevância para a
estabilidade financeira, mas mudou de ideia por algum motivo. Nenhuma surpresa
em um caso tão cheio de mistérios e personagens emblemáticos. O Brasil pode
estar diante da revelação de um verdadeiro bankster à brasileira. O termo
“bankster” — junção de banker e gangster — surgiu após o crash de 1929 nos EUA,
que desencadeou a Grande Depressão: milhões de desempre gados, famílias na
miséria, bancos falidos. A Comissão Pecora, liderada pelo promotor Ferdinand
Pecora, expôs em audiências públicas as fraudes dos magnatas de Wall Street que
vendiam ações podres a pequenos investidores, sonegavam impostos e concediam
empréstimos suspeitos enquanto o povo passava fome. Pecora chamou-os de
“gângsteres de terno” que fraudavam o sistema e sociali zavam os prejuízos. A
revelação gerou fúria popular: protestos nas ruas, indig nação nacional,
jornais falando em “comoção” e “grito de angústia”. A pressão forçou reformas
históricas — Lei Glass-Steagall, criação da SEC e proteção a depósitos. No
Brasil, o caso Banco Master pode guardar paralelos com esse roteiro. Vor caro
foi preso em novembro ao tentar deixar o país de jato particular. A Polícia
Federal viu tentativa de fuga; a defesa de Vorcaro alegou que era uma viagem
para vender o banco a investidores estrangeiros, informada inclusive ao próprio
Banco Central. No dia seguinte, a Operação Compliance Zero revelou fraudes
acima de R$ 12 bilhões em créditos fictícios. O BC liquidou o banco; o rombo,
potencialmente dezenas de bilhões, será coberto pelo Fundo Garantidor de
Créditos — de certa forma, socializado para o contribuinte. Vorcaro cultivava
relações no alto escalão de Brasília. A imprensa revelou que o banqueiro
promovia jantares em sua mansão de R$ 36 milhões no Lago Sul com deputados,
senadores e, em pelo menos um evento de 2024, contou com a presença do ministro
Alexandre de Moraes. Também foi revelada pela imprensa a existência de um
contrato de até R$ 129 milhões do escritório da advogada Viviane Barci de
Moraes – esposa do ministro – com o banco. Moraes teve reuniões confirmadas com
o presidente do BC, Gabriel Galípolo, e, segundo re portagens, múltiplas
ligações telefônicas — ele nega qualquer discussão sobre o Master, afirmando
que os contatos tratavam apenas de sanções americanas contra si e a esposa. A
verdade é que o celular apreendido de Vorcaro, repleto de contatos de autori
dades, está tirando o sono de muita gente em Brasília. O silêncio da elite
política é notável: CPIs pedidas no Congresso e as lideranças evitando o tema —
omissão ou proteção? Não há mocinhos nessa história. Lucros privatizados,
prejuízos socializados — exatamente como os banksters de 1929