A "nação tricolor", como falam os mais exaltados, não parece aprender com o que a realidade ensina. Um único fim de semana deixou boas lições: o time sub-17 entregou um título ganho e a equipe principal tomou um chocolate do Bahia. O pessoal da crônica, os "monetizados" das redes e os candidatos, no processo eleitoral em andamento, passaram a semana em debates, mas sem tocar nas mudanças urgentes que a realidade apontou.
No sábado (18), o sub-17 do Grêmio, que tinha vencido o Atlético Mineiro por 4x1, foi para o jogo da volta, na casa do adversário, com a vantagem de 3 gols. Entrou mal, fazendo o jogo que interessava ao Galo e levou os mesmos 3 que tinha de vantagem. E na loteria dos pênaltis, perdeu.
Diga-se de passagem que, com 11 contra 10 na maior parte do tempo, a vantagem poderia ter sido ainda maior no jogo de ida, não fosse aquele drible a mais em vez de meter a bota e "matar". Pior foi subestimar o adversário e superestimar a vantagem, como parece ter ocorrido. São duas mancadas inadmissíveis a serem tratadas com firmeza pelo técnico e por quem fala em nome do clube.
Firmeza é o que parece faltar por lá. Quem não entendeu por que ganhou está mais perto de perder: alguém ensinou isso aos garotos? Haverá algum adulto que mostre à gurizada o que é uma postura de homem? Terá havido algum que exercesse autoridade, que ensinasse a não brincar com coisa séria? Para quem pretende fazer carreira, uma partida de futebol (ainda mais uma final) é coisa séria.
Para o sub-17, o título não é um fim em si mesmo, mas uma necessidade para formar vencedores. Não basta preparar o atleta, é preciso formar o homem, com fortaleza moral para encarar os desafios da vida. O futebol é só uma parte. Jogando, ele tem que ser um matador, não um perdedor de gol. Tem que ser o obstinado para quem nenhuma bola está perdida, não um fraco que tem justificativa para suas falhas (grandes ou pequenas). Não serve o mimado que assimilou a mentalidade de vítima, que é a coisa mais socializada neste país. O clube que souber formar homens de fibra vai ganhar inclusive muito dinheiro.
Mas os clubes de futebol (Grêmio entre eles) são conduzidos na base do improviso. Duvido que haja alguém na dupla Gre-Nal que consiga pensar na perspectiva de formar homens para que surjam bons atletas.
No domingo (19), foi o chocolate do Bahia, só mais um sinal do improviso com que se administra um orçamento de milhões. Sei, se o time estivesse completo (ausentes Arthur, Marcos Rocha e Willian) a história era outra. "Ah, então não é culpa da direção!" Lembrem que esses três só chegaram há pouco. O Grêmio do chocolate (sem eles) é o que jogou a maior parte do campeonato. A questão é com que critério (se houve algum) foi formado o grupo. Os titulares nunca jogam todas
as partidas e requerem reservas ao menos razoáveis. Ou seja, faz falta um grupo bem constituído! E para formar o grupo é preciso ter planejamento, cascalho!
A conclusão é simples. Os dois desastres mostram que o Grêmio é tocado com amadorismo. Não quero ofender ninguém. Aliás, nem é só com o Grêmio. É comum, em nossos clubes, o critério político estar acima do critério técnico. E se pensar que, nos clubes e no país, a política se dá na base do compadrio, então o atraso é resultado lógico.
No próximo ano, com finanças apertadas, o Grêmio vai precisar da base para formar o plantel. Poderia contar com atletas vencedores se a base fosse preparada por profissionais qualificados e com visão de futuro. Não vai contar! E está visto por quê.
Não sei quem será o próximo presidente do Grêmio. Espero que seja alguém capaz de liderar uma gestão fundada na dignidade, na união de esforços, na disposição de colocar o clube acima das conveniências pessoais e no discernimento de que a disciplina é a chave da liberdade e do sucesso pessoal, valor a ser transmitido aos jovens da base. Se essa guinada na gestão não vier, o que se poderá esperar do futuro?