Desde que foram registrados os primeiros casos de COVID-19 no Brasil, os hospitais têm registrado queda no número de atendimentos de pacientes com problemas cardiológicos. Porém, no período de março a maio deste ano, as mortes por doenças cardiovasculares em casa aumentaram 32%, de acordo com levantamento da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Foram 15.870 pessoas que perderam a vida sem buscar socorro – número superior a todos os óbitos desse tipo, em casa e nos hospitais, registrados no mesmo período do ano passado.
A situação no Brasil repete o que ocorreu em outros países que já foram epicentro da pandemia, como Estados Unidos e Itália. O medo de se contaminar ao procurar ajuda médica é uma das causas que podem contribuir para a incidência desses óbitos. Segundo a chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital Moinhos de Vento, Carisi Polanczyk, de março a junho deste ano, a Emergência da instituição registrou 838 atendimentos por problemas cardiológicos. O número é 34% menor do que o do ano passado, quando 1.261 pacientes cardíacos deram entrada no setor.
Nos meses de abril e maio, o total de atendimentos caiu pela metade. A cardiologista alerta que os casos com a situação agravada também aumentaram. “A proporção de pacientes com doenças cardíacas que entraram pela emergência e necessitaram de internação também foi maior, o que sugere que suas condições já eram mais graves. É importante lembrar que a doença existe e precisa ser tratada. Ao sentir um sintoma e não procurar ajuda médica, o intervalo de tempo pode ser fatal”, explica Carisi.
O medo é o maior risco
Segundo a médica, além de um maior risco de morte, a demora em procurar uma emergência pode piorar a situação clínica e aumentar o tempo de internação. Também pode gerar mais danos ao músculo do coração – levando, por exemplo, a uma insuficiência cardíaca. O principal sintoma do infarto é a dor ou desconforto na região do peito, que pode irradiar para as costas, rosto, braço esquerdo e, mais raramente, o braço direito. A sensação costuma ser intensa e prolongada, acompanhada de peso ou aperto sobre tórax, com suor frio, palpitações, palidez e vômitos.
“O hospital é um ambiente seguro, preparado para receber quem precisa. Seguimos todos os protocolos para prestar um atendimento adequado”, completa Carisi. A médica ressalta que os fluxos e equipes que atendem pacientes com suspeita de COVID-19 são separados.
Carisi lembra ainda que pessoas com problemas cardiológicos devem seguir os tratamentos, comparecer às consultas e usar os medicamentos prescritos. Ao sentir desconforto, falta de ar e palpitações, o paciente não deve se automedicar, mas procurar o serviço de emergência ou contatar seu médico.
Três dias infartando em casa
Paciente da Dra. Carisi, a professora de Educação Infantil aposentada Ana Cristina Menezes de Azevedo, de 58 anos, passou pela experiência de ter uma “leve dor no peito” em 13 de maio. Nos dias seguintes, as dores ficaram mais fortes. Mas o medo de contrair o coronavírus fez ela protelar a ida à Emergência até o dia 16. Ao passar por exames, o diagnóstico apontou que ela havia sofrido um infarto no ventrículo esquerdo e teve de fazer um cateterismo.
“Senti na pele o receio de procurar ajuda médica nesse momento de pandemia. Mas as pessoas não podem fazer isso. É a nossa vida que está em jogo”, pondera. Hoje, de volta às suas atividades, Ana passou a dedicar uma hora por dia para caminhar e reforçou os cuidados com a alimentação.
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