Artigo, especial, Dagoberto Godoy - Tarifaço de 50%: A Conta do Isolamento Chegou

A tarifa generalizada imposta pelos EUA às exportações brasileiras expõe a fragilidade diplomática do governo Lula e sua condução ideológica da política externa. O custo dessa imprudência será pago por trabalhadores, empresários e pelo país como um todo.

                                             Dagoberto Lima Godoy

A decisão do presidente Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros é um marco de ruptura que não pode ser dissociado das ações e omissões do atual governo brasileiro. A justificativa política dada por Trump — em reação à condenação de Jair Bolsonaro e à escalada de censura às plataformas digitais no Brasil — encontra terreno fértil numa diplomacia brasileira cada vez mais militante, reativa e afastada da realpolitik internacional.

Trata-se de um tarifaço com motivação política clara, mas cujos efeitos econômicos serão concretos e duradouros: queda nas exportações, perda de competitividade, inflação, fuga de capitais e retração do setor produtivo. E tudo isso em um momento em que o Brasil já mostra sinais de desaceleração.

Ao longo do último ano, o governo Lula fez questão de adotar posturas confrontacionistas no cenário internacional — ora atacando Elon Musk, ora insinuando que empresas americanas deveriam se submeter à legislação brasileira sob pena de expulsão. Essas atitudes, embaladas em retórica nacional-populista, negligenciam um dado óbvio: o Brasil depende de relações econômicas sólidas com as maiores potências mundiais.

A insistência em tratar plataformas digitais como inimigas do Estado e o fato  do Judiciário perseguir vozes dissidentes não passaram despercebidos no exterior. Ao contrário do que o governo apregoa, o Brasil não está mais respeitado no mundo — está isolado. E agora, começa a colher os frutos dessa arrogância diplomática.

Os principais prejudicados serão os setores que mais empregam, mais geram divisas e mais sustentam a base produtiva do país: agroindústria, mineração, aviação, papel e celulose. Empresas que investiram em acesso ao mercado americano agora se veem penalizadas por decisões ideológicas tomadas em Brasília. O empresariado, até aqui em silêncio ou conformado, tem que enfrentar a conta que chegou — e ela não será pequena.

A retaliação brasileira, se vier, corre o risco de aprofundar o problema. Trump já deixou claro que reagirá com novas sanções. Diante disso, o Itamaraty se vê encurralado: ou recua e se humilha, ou avança e rompe pontes. Nenhuma das opções interessa ao país — ambas são resultado de escolhas políticas mal feitas no passado recente.

O governo Lula tentará, sem dúvida, capitalizar eleitoralmente o episódio. Vai pintar Trump como imperialista, o Brasil como vítima e a si próprio como defensor da soberania nacional. Mas essa retórica tem prazo de validade. Não sustenta empregos perdidos, nem contratos cancelados. É uma estratégia de guerra de narrativas, enquanto o setor real da economia sofre com as consequências de uma guerra comercial de verdade.

O fato é que o tarifaço de Trump não surgiu no vazio. Ele foi facilitado por um ambiente interno de insegurança jurídica, perseguições políticas travestidas de legalidade e uma diplomacia de palanque que substituiu o pragmatismo histórico do Brasil por um ativismo ideológico voluntarista.

O governo Lula perdeu o controle da política externa, não porque foi ousado, mas porque foi imprudente. E agora tenta, mais uma vez, terceirizar a culpa. Mas o empresariado e a sociedade civil já devia saber que quem semeia isolamento, colhe sanções.


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