José Casado: "Cosa nostra"
O Globo
Líderes políticos que se diziam revolucionários começam a
ser expostos como sócios da rede internacional de corrupção mantida pela
Odebrecht
Na terça-feira 17 de janeiro começa o julgamento do
ex-presidente de El Salvador Mauricio Funes. Acusado de corrupção, ele foi
intimado na véspera do Natal na Nicarágua, onde vive em autoexílio. O processo
inclui sua ex-mulher, Vanda, e um de seus filhos, Diego.
Funes chegou ao poder em 2009 pela Frente Farabundo Martí
de Libertação Nacional, nascida da fusão de cinco organizações guerrilheiras
que protagonizaram a guerra civil de El Salvador, no final do século passado.
Vanda Pignato, ex-primeira-dama, é brasileira, antiga
militante do PT.
Ela garantiu o apoio do governo Lula ao marido desde a
campanha eleitoral, paga pelo grupo Odebrecht, cujos contratos somaram US$ 50
milhões no mandato de Funes.
Desde a semana passada, ele e outros 14 líderes políticos
nas Américas e na África estão no centro das investigações em seus países sobre
propinas pagas pela empreiteira brasileira.
É o caso do ex-presidente do Panamá Ricardo Martinelli,
que embolsou um dólar para cada três que a Odebrecht lucrou durante seu
governo.
Guardou US$ 59 milhões.
Na vizinha República Dominicana quem está em apuros é o
presidente Danilo Medina, reeleito em maio. No primeiro mandato, Medina fez
contratos que proporcionaram à empreiteira lucros de US$ 163 milhões. Ela retribuiu com generosos US$ 92 milhões em subornos, o
equivalente a 56% dos ganhos acumulados desde 2012. A taxa paga ao lado, na
Guatemala, foi um pouco menor: 52%, isto é, US$ 18 milhões para US$ 34 milhões
em contratos.
Em Quito, no Equador, a polícia apreendeu na sexta-feira
arquivos eletrônicos na sede local da Odebrecht. Rafael Correa, no poder há
nove anos, demonstra temor com a revelação de que a Odebrecht pagou US$ 35
milhões em subornos, 28% dos seus lucros equatorianos. Em 2008, Correa expulsou
a empreiteira, acusando-a de corrupção. Acertaram-se, sob as bençãos de Lula em
2010.
Em Bogotá, Colômbia, investiga-se a rota da propina de
US$ 11 milhões, pagos entre 2009 e 2014, no governo Álvaro Uribe. Rápido no
gatilho, ele ontem se lembrou de uma reunião “suspeita” entre o atual
presidente Juan Manuel dos Santos e diretores da Odebrecht no Panamá.
No Peru a confusão é grande: acusam-se os ex-presidentes
Alejandro Toledo (2001-2006), Alan García (2006-2011), Ollanta Humala e a
ex-primeira dama Nadine (2011-2016). Eles apontam para o atual presidente Pedro
Pablo Kuczynski, primeiro-ministro na época em que a Odebrecht começou a
distribuir US$ 29 milhões — 20% dos lucros no país em 11 anos.
Nada disso, porém, se compara aos lucros e ao propinoduto
em Angola e Venezuela. As relações com os governos do angolano José Eduardo
Santos e do venezuelano Hugo Chávez (sucedido por Nicolás Maduro) chegaram a
proporcionar US$ 1 bilhão em lucros anuais. Sustentaram o caixa no exterior,
estimado em US$ 500 milhões, voltado para pagamentos a políticos,
principalmente brasileiros.
Capturados pelos bolsos, líderes que se apresentavam como
revolucionários nos anos 80 começam a ser expostos como sócios de uma rede
internacional de corrupção, operada a partir do Brasil pela Odebrecht. Fizeram
da coisa pública uma cosa nostra.
Faltou falar do Brasil lulista
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