Os apoios de Temer
Um presidente extremamente impopular como Michel Temer
conseguir montar uma base de sustentação no Congresso tão fiel é o paradoxo que
rege nossa política atual
O presidente congressualmente forte e politicamente
fraco. Ao contrário do que ele mesmo disse, numa tentativa
frustrada de demonstrar despreocupação com sua taxa ínfima de popularidade, um
presidente que se dispusesse a fazer reformas como o controle de gastos e
da Previdência precisaria ser muito popular para poder perder gordura e aprovar
essas reformas.
No entanto, não tendo esse prestígio popular, ele é capaz
de levar o Congresso a aprovar medidas dificílimas, embora necessárias - um
Congresso tão desmoralizado e impopular que busca se afirmar justamente
atuando na contramão do populismo embora em alguns casos, como na negociação da
dívida dos estados, namore com a leniência para agradar as corporações.
A revelação de que ele colocou como meta ser reconhecido
pela História como o presidente que realizou as reformas estruturantes de que o
país necessita dá uma dimensão maior ao seu mandato. Dois cientistas políticos
da Fundação Getulio Vargas do Rio, Octavio Amorim Neto e Carlos Pereira, este
em ano sabático em Berlim, têm visões semelhantes desse fenômeno: a última
possibilidade que a atual classe política tem de não ir para a lata do lixo da
História é aprovar as reformas estruturais.
Para Octavio Amorim Neto, o fato de Temer não ter sido
eleito diretamente é um problema num regime presidencialista como o nosso,
embora na sua visão ele tenha chegado à Presidência de maneira legítima. Mas
esse não é um problema insanável, diz ele. Temer substituiu Dilma num processo
traumático, muito polarizado e contestado numa certa elite política, mas a
maioria da população não gostava de Dilma e apoiou sua destituição.
A grande aposta do Palácio do Planalto hoje, diante dessa
crise estrutural da política brasileira, e dessa crise de credibilidade que
ameaça Temer, é ser o único que se dispõe a fazer uma duríssima reforma
econômica, no que é seguido pelo Congresso. Mas Octavio Amorim Neto
acha que, já que o estilo de Temer é a disposição de negociar e conceder, ele
terá dificuldades para fazer uma reforma que aponte
para uma nova trajetória e enfrentar as corporações que estão derrotando os
esforços de reajuste fiscal em estados como o Rio de Janeiro e Rio Grande
do Sul.
A condição fundamental para a retomada do
crescimento econômico, para mudar as expectativas de empresários com relação à
dívida pública e da política fiscal é a reforma da Previdência, mas
Octavio Amorim Neto tem dúvidas sobre se o governo Temer, fraco do ponto de
vista de sua relação com a opinião pública e com a sociedade, pode fazer uma
boa reforma da Previdência.
Carlos Pereira acha que as chances de o Congresso aprovar
reformas estruturais polêmicas como a da Previdência são enormes. Ele chega a
imaginar que talvez o governo Temer se transforme no mais reformista da
História recente do Brasil.
Pereira considera que havia uma ideia equivocada da
esquerda brasileira de que a crise política teria continuidade no governo
Temer, mas ele ressalta que a crise atual é completamente diferente da que
levou ao impeachment da ex-presidente Dilma. Na sua análise, o Executivo sob
Dilma tratou mal sua base parlamentar, montou uma gerência de coalizão
completamente ineficiente, muito heterogênea, que não compartilhou nem poder
nem recursos de forma proporcional com os aliados.
O governo Temer, ao contrário, é extremamente eficiente.
Temer montou uma coalizão muito representativa do Congresso, e isso é
raro, diz ele. A coalizão atual, que teve um índice de eficiência na aprovação
das medidas apresentadas de 88%, é mais eficaz do que a de Fernando Henrique
Cardoso que, na análise de Carlos Pereira, havia sido a mais eficaz até o
momento.
Merval Pereira é jornalista
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