Entre janeiro e novembro de 2016, 455 vidas foram
preservadas em comparação ao mesmo período de 2010, ano mais violento nas ruas
e estradas gaúchas desde o início da série histórica produzida pelo Detran
Por: Débora Ely
Seis anos depois de chegar ao mais alto patamar de
letalidade de que se tem notícia, o trânsito gaúcho registra em 2016 o menor
número de mortes em acidentes da sua história recente. Entre janeiro e novembro
deste ano, salvaram-se 455 vidas em estradas e avenidas do Estado em comparação
ao mesmo período de 2010 – queda de 23%.
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Caso mantenha-se a média dos demais meses em dezembro,
2016 será o ano menos violento no tráfego desde que o Departamento Estadual de
Trânsito (Detran) começou a série histórica, em 2007. O resultado positivo
ocorre mesmo diante do comportamento inverso da frota. Em seis anos, o número
de veículos disparou 26%.
Há uma série de explicações para a queda na mortalidade,
concordam autoridades e especialistas no tema. Isso porque se trata de um
fenômeno influenciado pela combinação de fatores interligados, como a
implementação de políticas de prevenção e o reforço na fiscalização. O fato é
que o Rio Grande do Sul caminha na direção de cumprir a meta estipulada pela
Organização das Nações Unidas (ONU) em 2010: diminuir para metade, até 2020, os
casos de acidentes viários.
Uma das causas da redução estaria na intensificação da
Operação Balada Segura, acredita o diretor-geral do Detran, Ildo Mário
Szinvelski.
Não por acaso, as blitze deram início à aplicação
irrestrita do teste do bafômetro em 2011.
Alta nos preços demultas contribuiu
– Sem dúvida alguma, a intensificação da fiscalização e a
punição de infratores contribuiu muito para o refreamento de condutas
inadequadas. Isso muda comportamentos e pressupõe a consciência de que, para
dirigir um veículo, o condutor precisa estar sóbrio e em condições para que não
coloque em risco a sua vida e a dos demais – analisa o dirigente.
Para Szinvelski, a mudança na legislação e o aumento nos
valores de multas para quem dirige embriagado contribui para essa modificação
de hábito entre motoristas. Hoje, mesmo quem se recusa a soprar o etilômetro
paga multa de R$ 2,9 mil, tem a habilitação suspensa e o veículo recolhido.
Desse modo, cada vez mais gente estaria escolhendo um transporte alternativo
quando rende-se a um caneco de chope, por exemplo.
Entre os próprios amigos e familiares, especialistas têm
constatado essa saudável conscientização. É o caso do professor na Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) João Fortini Albano, engenheiro de
transporte. Na sua opinião, a Lei Seca influenciou, mas a redução de vítimas
reflete a adoção de outras medidas, principalmente, de penalidades financeiras
mais pesadas:
– As multas foram majoradas fortemente nos últimos meses.
Essa, para mim, é a maior causa da redução de acidentes, porque as pessoas só
atendem ao apelo do bolso.
Um segundo item é a ampliação de ações de fiscalização,
como o aumento de pardais e blitze, principalmente nos grandes centros, o que
também produz algum resultado.
Desde o início de novembro, os valores cobrados de quem
comete infrações sofreram reajustes superiores a 50% no país. O motorista
flagrado manuseando o celular agora desembolsa multa de R$ 293,47 (antes era R$
85,13), e o condutor que se desloca em velocidade 50% acima da permitida tem de
pagar R$ 880,41 (saía por R$ 574,62).
Mas há quem seja menos otimista. Especialista em
acidentes de trânsito, o perito Clóvis Santos Xerxenevsky considera a
fiscalização escassa e as condições das vias ruins. Ele aponta outros
coeficientes para o recuo do número de vítimas:
– A frota de veículos aumentou, mas, com a crise
financeira que afeta a população há bastante tempo, será que as pessoas estão
usando menos o carro? Na minha avaliação, a circulação reduziu.
Foto: Arte ZH
Maior redução ocorreu em ruas e avenidas municipais
No cenário de redução de mortes no trânsito gaúcho, a
queda mais expressiva deu-se em acidentes dentro dos municípios. Em 2010, 796
das fatalidades ocorreram em ruas e avenidas municipais. Neste ano, foram 533.
Diante do fenômeno, o destaque está em Porto Alegre –
metrópole que, sozinha, concentra 13% da frota de veículos de todo o Estado. Há
seis anos, a Capital registrava média de 12 mortes no trânsito a cada mês.
Hoje, são oito.
O segundo maior município do Estado, Caxias do Sul, na
Serra, também teve redução significativa no número de mortes no trânsito no
intervalo dos últimos seis anos. Enquanto em todo o ano de 2010 o município
havia registrado 67 vítimas fatais, entre janeiro e novembro de 2016 a
quantidade de pessoas que perderam a vida em acidentes caiu para 33.
Diretor-presidente da Empresa Pública de Transporte e
Circulação (EPTC), Vanderlei Cappellari atribui a diminuição à formação de uma
equipe interna que investiga as possíveis causas de acidentes graves na cidade.
Desde 2011, o grupo trabalha para solucionar possíveis falhas estruturais.
– A equipe analisa o acidente e, através de entrevistas e
outros protocolos, aponta a provável causa, não para um processo judicial, mas
para o consumo interno. A partir daí, os técnicos disparam uma informação para
o setor responsável da EPTC, seja engenharia de trânsito, fiscalização ou
educação, para que se incida diretamente na causa geradora do acidente –
explica Cappellari.
Exemplos estão espalhados pela cidade. Recentemente, na
Avenida Plínio Brasil Milano, foi instalada uma lombada eletrônica que limita a
velocidade a 40 km/h nas proximidades com a Rua Carlos Trein Filho. Isso porque
a EPTC vinha atendendo a uma série de acidentes no trecho, e o motivo seria
justamente a pressa dos motoristas.
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