Cirurgia robótica, cirurgia fetal, implantes cerebrais e procedimentos que reduzem significativamente os sintomas da Doença de Parkinson, da epilepsia e as sequelas do AVC, e até lêem pensamentos estão entre as inovações apresentadas por especialistas gaúchos
E se você pudesse enviar um SMS ou fazer uma postagem nas redes sociais apenas com o pensamento? Parece algo que facilitaria a vida de qualquer pessoa. Em dezembro do ano passado, um australiano paralítico de 62 anos, que sofre de esclerose lateral amiotrófica (ELA), fez o primeiro tweet a partir de um implante cerebral capaz de capturar pensamentos e decodificá-los. A inovação devolveu ao paciente a capacidade de se comunicar e esta tecnologia tem sido estudada em uma grande pesquisa, com uma enorme promessa de devolver a comunicação dos pacientes.
O case foi uma das tendências apresentadas na edição de novembro do Grand Round do Hospital Moinhos de Vento. Com o tema “Novas Tecnologias em Neurologia e Neurocirurgia: Precisão é o Estado da Arte”, o evento abriu espaço para que os especialistas da instituição apresentassem casos clínicos que demonstram o que há de mais moderno no diagnóstico e tratamento de pacientes neurológicos.
O neurocirurgião convidado, Demetrius Klee Lopes, diretor do Programa de Neurocirurgia Vascular e Neurointervenção e da Rede de AVC dos hospitais Advocate Aurora nos Estados Unidos, falou sobre o futuro do diagnóstico e tratamento de pacientes neurológicos. Além do chip que “lê pensamentos”, o especialista citou pesquisas recentes que vem realizando com trombectomia robótica à distância, um cateterismo cerebral controlado por um joystick para pacientes nos quais o tempo de deslocamento até um centro avançado de AVC inviabilizaria o tratamento. Além disso, o uso de radiofrequência por fora da cabeça para quebra de coágulos que obstruem a circulação no tratamento do AVC isquêmico já vem sendo estudada, com potencial de ser usado na ambulância, antes do paciente chegar ao hospital.
Demetrius, que é gaúcho radicado nos Estados Unidos, foi o palestrante convidado para o evento e dividiu o espaço com os especialistas que atuam no Hospital Moinhos de Vento. A chefe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento, Sheila Martins, que assumiu na última semana a presidência da World Stroke Organization (WSO), única organização mundial focada em acidente vascular cerebral, destacou que o Rio Grande do Sul tem profissionais que são referência mundial em suas especialidades.
“A inovação, a tecnologia e a expertise dos nossos médicos faz com que, hoje, nós tenhamos muitos recursos para tratar pacientes com doenças que antes não conseguíamos tratar. E mais do que isso, tratamos com precisão, porque os equipamentos modernos nos permitem acessar os alvos com maior facilidade numa área tão delicada como a neurocirurgia. Então, existe tecnologia, existe expertise e nós temos tudo isso aqui no hospital. Em muitos casos, são eles que desenvolvem técnicas e procedimentos para o tratamento dos pacientes copiadas por outros países”, explicou.
O neurocirurgião Alexandre Reis relatou o caso de pacientes submetidos à cirurgia para Doença de Parkinson, na qual o implante de eletrodos conseguiu reduzir os sintomas como tremores e problemas de mobilidade. O especialista explicou que a chamada neurocirurgia funcional une precisão e tecnologia para obter os resultados que impactam na qualidade de vida e evitam o avanço da patologia.
Para os casos de AVC, o neurointervencionista Paulo Eloy Passos Filho explicou como funciona a trombectomia para o tratamento de pacientes que buscam o atendimento fora da janela indicada para a utilização do trombolítico endovenoso. A técnica consiste na aspiração do coágulo ou remoção por meio de um stent. Porém a alta precisão das imagens no diagnóstico é fundamental para a opção por este tipo de terapia entre 8 e 24 horas do início dos sintomas.
O neurocirurgião robótico Arthur Pereira Filho relatou dois recentes procedimentos realizados no Hospital Moinhos de Vento e inéditos na América Latina: uma artrodese de coluna lombar, a primeira neurocirurgia robótica do continente, e uma biópsia de lesão cerebral, a primeira robótica de crânio. Entre as vantagens para os pacientes, além de maior precisão e mais segurança, o tempo de recuperação é mais rápido.
O especialista em epilepsia Eliseu Paglioli Neto trouxe casos de crianças que chegavam a ter mais de 30 convulsões por dia e que, após serem tratadas com a calosotomia, não tiveram mais crises. Porém, o neurocirurgião ressaltou que é preciso identificar as causas da doença para escolher a estratégia para enfrentá-la, o que reforça a importância de um diagnóstico preciso.
Por fim, o também neurocirurgião pediátrico Jorge Bizzi explicou como são realizadas as cirurgias fetais para o tratamento de mielomeningocele, um defeito de fechamento da coluna que causa lesão progressiva na medula nervosa e no cérebro, com graves consequências como hidrocefalia (acúmulo de líquido no cérebro) e dificuldade ou perda total da capacidade de caminhar. O médico realizou dois procedimentos deste tipo no Hospital Moinhos de Vento nos últimos meses. Ele explicou que, apesar de mais complexa, os resultados são melhores quando a cirurgia é realizada quando o bebê está ainda no útero da mãe.
O superintendente médico, Luiz Antonio Nasi, encerrou o Grand Round com um resgate da história da Neurocirurgia no Rio Grande do Sul homenageando quatro neurocirurgiões, pais dos palestrantes. Nasi recordou que, em 1930, Eliseu Paglioli introduziu a Neurocirurgia no então Hospital Alemão, hoje Hospital Moinhos de Vento. Todas as edições do Grand Round estão disponíveis no canal do Hospital Moinhos de Vento no YouTube.
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