Meados da década de 80, atendi convite para dar palestra numa grande indústria brasileira sediada em São Paulo. Mesmo considerada a " década perdida"( coincidência ou não, foram os primeiros 10 anos do petismo entre nós!), o setor industrial impulsionava a economia, como nunca.
Foi talvez o maior público que me prestigiou desde lá, algo como 2.500 ouvintes entre funcionários, diretores e gerentes. O impacto foi grande, bateu forte no emocional de todos. O que me marcou, mais que tudo naquele dia, foi ouvir do presidente do conglomerado, quando me levava de volta ao aeroporto, que a palestra tinha despertado nele o sentimento de que sua riqueza não o fizera, verdadeiramente, feliz. "Não sei o que é ser feliz", segredou-me, com voz embargada e algumas lágrimas nos olhos. Cena que jamais esquecerei.
A busca da felicidade, enfim, é um desafio que nos move. O principal, quem sabe, em nossa jornada. A própria Declaração de Independência dos EUA, expõe que cabe a cada indivíduo o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade. Enquanto é dever do Estado garantir as duas primeiras, aos cidadãos, individualmente, é dado palmilhar o caminho que o fará feliz.Trata-se, pois, de um fator subjetivo.
Não só a religião mas a filosofia, entre outros ramos do conhecimento, se dedicaram ao tema. Epicuro, filósofo pós-socrático, baseou sua doutrina num único propósito: alcançar a felicidade. Para ele, pior que as dores físicas, que não são duradouras, são as que perturbam nossa alma. E nos destróem por dentro, inclusive, pelo resto de nossas vidas, se não extirpadas.
Estigmatizado, porém, como profeta do prazer, Epicuro ponderava que sua doutrina tinha como centro, isso sim, o " prazer do sábio", entendido como " da quietude da mente, sobre o controle das emoções, e o domínio de si mesmo". Isso, com certeza, constitui raridade em nosso azáfama do dia à dia.
Como nunca na história humana, vivemos num mundo conturbado. Desde a família ao ambiente das empresas, somos desafiados a encontrar um momento que seja de paz na alma, de controle emocional e de sentimento de felicidade plena. Se são momentos raros, pode-se dizer que há sim como podemos encontrar o caminho da felicidade.
Em Romanos 12,2 está a indicação desse caminho: " Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente". Emoção e razão, andam juntas. Ante de dar próximo passo, de uma decisão, seja qual for, consulte sim, o coração (a emoção); decida, porém, pela razão (a mente). É, talvez, o primeiro e decisivo avanço para uma longa e desafiadora caminhada. Mas imprescindível. E inadiável para alcançar o objetivo final.
Sílvio Lopes, jornalista, economista e palestrante sobre Economia Comportamental.
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