Alta das cotações das commodities metálicas neste início de ano revela aceleração do crescimento global

As cotações das commodities metálicas têm apresentado fortes altas nos últimos meses, pressionando os índices de inflação ao produtor em alguns países. Ainda que fatores específicos, especialmente do lado da oferta, existam para justificar parte desse comportamento, acreditamos que essa subida dos preços também reflete alguma melhora do crescimento da economia mundial, além da expansão de 3,2% que prevemos. Diante disso, a pergunta que se coloca é: devemos esperar aceleração do PIB na grande maioria dos países nos próximos trimestres ou essa alta está exagerada e, portanto, deveremos esperar uma correção baixista dos preços nos meses seguintes?
O comportamento das cotações das commodities metálicas tem uma relação razoável com o desempenho do PIB mundial. Ainda assim, não são apenas as condições da economia global que determinam os preços desses produtos. Afinal, há questões de oferta, especulação e demanda específicas de cada mercado. De todo modo, há um componente comum de demanda mundial importante para explicar a variação dos preços.
Esses preços têm subido de maneira bastante generalizada entre as metálicas, com alta média de 30,7% neste ano em relação ao primeiro trimestre do ano passado. Alguns casos chamam ainda mais a atenção, como os preços do minério de ferro e do carvão, com altas respectivas de 69% e 57,6%. Um modelo simples que explica a variação dos preços dessas commodities através do desempenho do PIB mundial indica que deveríamos esperar uma alta média de apenas 5,5% das cotações das commodities metálicas, dada a nossa expectativa para crescimento global de 3,2% neste ano.
No caso do cobre, por exemplo, os preços já subiram 25,7% em relação ao patamar do começo de 2016. Considerando o crescimento mundial esperado de 3,2% para este ano, o preço do cobre deveria ter subido 9,5%. Isto é, para ficarem compatíveis com o sugerido pelo modelo, os preços deveriam cair 12,9% do nível atual.
Outro exercício a ser feito é estimar qual o crescimento do PIB mundial sugerido, dada a alta atual dos preços. Nesse caso, cada metálica sugere uma expansão diferente, mas, na média, os níveis atuais de preços são compatíveis com um crescimento da ordem de 5,5%. Para o cobre, por exemplo, os preços são compatíveis com um avanço da economia mundial de 4,5%, ao passo que para o carvão, a elevação do PIB compatível seria de 9,8%.
Esse resultado médio de crescimento do PIB de 5,5%, sugerido pelo comportamento dos preços das commodities metálicas, é compatível com os resultados recentes do Bradesco Indicador Global (BIG). Esse índice faz uma avaliação de componente principal de mais de 100 indicadores de 20 países e índices agregados. Assim, ele é um nowcast do PIB global e tem indicado, para o primeiro trimestre deste ano, um crescimento de 5% em relação ao trimestre anterior. Movimento semelhante foi observado nas exportações mundiais nesse início de ano.
Assim, os preços das metálicas parecem refletir essa melhora dos indicadores de indústria e agregados para vários países, especialmente os desenvolvidos. No entanto, esse ritmo de crescimento não nos parece sustentável. De fato, esse forte ritmo foi observado poucas vezes nos últimos anos. Assim, por ora, dadas as incertezas políticas ainda presentes e os ajustes estruturais em curso em diversos países, esperamos alguma desaceleração da economia global nos meses à frente. Em parte, acreditamos que esse crescimento mais elevado no começo do ano seja um movimento de antecipação de compras, principalmente porque vemos dinâmica maior no setor industrial, com serviços mais estáveis. As dúvidas em relação ao cenário político e ao cenário internacional, tanto na Europa quanto nos EUA, explicaram esse movimento de antecipação. Dessa forma, nos trimestres à frente deveríamos ver desaceleração desses indicadores de atividade industrial, que também será afetada pela normalização dos juros nos EUA. Assim, com o crescimento em desaceleração do segundo trimestre em diante, seria razoável esperar desaceleração dos preços das commodities metálicas para patamares de preço mais compatíveis com alta de 3,2% do PIB mundial.
Como dito anteriormente, cada commodity tem seus vetores específicos, que explicam ao menos parcialmente as altas recentes. No caso do minério de ferro, que nem estamos considerando nos mesmos estudos, esse efeito é bastante importante.
Para essa commodity, nossa leitura é que i) existe um movimento especulativo relevante na China, o que contribui para manter os preços em patamares elevados, ii) a demanda das siderúrgicas chinesas parece ter se concentrado em minério de melhor qualidade – em resposta à forte alta do preço de carvão – mantendo alguma pressão altista sobre as cotações e iii) a demanda chinesa continua favorável, principalmente do setor imobiliário, cuja recuperação em meados do ano passado foi considerável (e a desaceleração recente tem sido suave). Esses fatores explicam ao menos uma parte da elevação dos preços observada recentemente, sendo que outra parcela se deve a uma leitura melhor da demanda mundial como um todo – como visto com as outras commodities metálicas.

Também para o minério esperamos alguma correção de preços, voltando para um patamar abaixo do US$ 80/tonelada até o final deste ano. Na nossa visão, o nível de estoques no mundo, notadamente nos portos chineses, deve levar a ajustes dos preços. Na verdade, os preços poderiam até ceder mais, para níveis próximos de US$ 65/tonelada, mas a política econômica na China deve manter a economia aquecida neste ano e o fechamento de capacidade instalada deve continua avançando, ambos com potencial para manter os preços acima do sugerido pelos fundamentos.

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