Onde e como Lula passou durante 10 horas do crítico 4 de abril

Em texto da jornalista Leticia Mori, postado em sua página na internet à 0h38 desta quinta-feira, a BBC conta como foi parte do 4 de abril de Lula:
11h25 - Cercado por seguranças, Lula chega ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo - de onde decidiu, na última terça, acompanhar a sessão do Supremo Tribunal Federal. Sobe discretamente para o segundo andar, sem cumprimentar a militância de cerca de 400 pessoas, que aguardava desde as 10h da manhã no salão principal da entidade, bandeiras vermelhas em punho.
O salão foi especialmente decorado com fotos históricas de Lula para a ocasião. As janelas dos corredores do segundo andar do sindicato, onde Lula vai assistir ao julgamento, foram forradas com tecidos, para esconder os movimentos do petista. Durante a manhã, Lula recebeu antigos líderes sindicais, como Djalma Bom e Expedito Soares, que entregam uma carta de apoio ao ex-presidente. Ele relembrou as greves que participou durante a ditadura militar.
12h20 - Enquanto Lula conversa a portas fechadas com Luiz Marinho, pré-candidato do PT ao governo paulista, uma banda embala a militância: "Eeeee, ooo, vida de gado, povo marcado, povo feliz". A ex-presidente Dilma Rousseff chega ao sindicato acompanhada do ex-ministro Miguel Rossetto e se junta ao padrinho.
Lideranças do partido insistem no discurso de que o PT não trabalharia com a hipótese de prisão de Lula. "Temos a confiança de que o Supremo vai ser o guardião da Constituição", diz Marinho, que saiu da sala para cumprimentar militantes no salão. "Eles cometeram um erro em 2016, quando autorizaram a prisão após segunda instância). Agora é a chance de corrigir" – diz, "
13h - Um almoço - arroz, feijão e bife - é servido ao ex-presidente Lula e sua comitiva - Dilma, Marinho, os governadores Tião Viana, Wellington Dias e o gaúcho Miguel Rossetto. Parte dos militantes almoça no restaurante do sindicato, no último andar, enquanto outra parte - composta, sobretudo, por pequenos agricultores - entoa um batuque sentada no salão.
13h40 - Pouco antes da sessão começar, aliados do ex-presidente dizem que ele está tão tranquilo que encontra tempo para comentar o gol de Cristiano Ronaldo no jogo da Liga dos Campeões, na noite de terça. Sem revelar tensão com o julgamento, Lula teria demonstrado preocupação apenas com o comentário do comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, que na noite de terça-feira postou mensagens em que dizia ser contrário "à impunidade", em ato que foi interpretado por políticos e analistas como um constrangimento ao STF.
14h07- O STF atrasa sete minutos o início da sessão. A presidente Carmen Lúcia inicia o julgamento com um comentário de menos de dois minutos e às 14h10, o relator Edson Facchin já falava, relatando e votando.
Enquanto isso, o grupo de aliados e o próprio Lula ainda almoçavam. O ex-prefeito Fernando Haddad e o governador de Minas Gerais Fernando Pimentel tinham se juntado ao grupo um pouco antes. A mulher do presidenciável do PSOL Guilherme Boulos, Natália, também veio acompanhar o julgamento com Lula. E Boulos, em viagem, não pode comparecer. Da família, está presente o irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá.
14h30 - A banda que toca músicas nordestinas para de cantar para a transmissão do julgamento.
15h13 - A lenta leitura dos votos pelos ministros deixa a plateia entediada. Alguns bocejam. A única reação na primeira hora do julgamento é um muxoxo desaprovador que percorre o salão onde estão os militantes quando Gilmar Mendes critica o PT e o ex-ministro José Dirceu, dizendo que o partido gestou a "violência que está aí."
15h57 - Em questão de minutos, Gilmar Mendes vai de 'golpista' a ovacionado, quando antecipa voto em favor do habeas corpus a Lula. Os militantes pulam e a bateria começa a tocar. "Lula, presente, eterno presidente" gritam os manifestantes, agitando bandeiras de diversos grupos sociais.
16h37 - O julgamento recomeça, com o voto do ministro Alexandre de Moraes. No primeiro andar, filiados do PCO (Partido da Causa Operária) distribuem folhetos em que se lê: "Sair às ruas contra a prisão de Lula". O já esperado voto de Alexandre de Moraes contra o habeas corpus termina sem nenhuma reação dos militantes.
17h30 - Quando o ministro Luis Roberto Barroso sinaliza que votará contra Lula, a maior parte da plateia de militantes está conversando e prestando pouca atenção ao que se passa no Supremo. Depois do voto de Barroso, Lula desiste de assistir ao julgamento. Vai para uma sala onde não há TV e conversa tranquilamente com Dilma, Haddad e outros amigos.
"Ele não parece estar muito interessado nos votos individuais. Quer saber do resultado final", diz um interlocutor do presidente.
18h40 - Quando começa o voto de Rosa Weber - decisivo - Lula segue sem mirar o televisor. No salão, o voto da ministra não está sendo exibido. A militância é reunida no salão e Wagner Santana, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, orienta para que ninguém vá embora e garante que já estão providenciando o jantar para os apoiadores. "Ao final, vamos precisar de todos vocês aqui. Quer o resultado seja bom ou ruim pra gente", diz ele, antes de ligarem novamente o telão.
19h10 - Durante fala da ministra Rosa Weber, no entanto, parte dos militantes já vai embora.
19h27 - O voto de Rosa Weber é contrário ao habeas corpus de Lula. A militância ouve em silêncio. Há um clima de confusão. As vaias só vêm, esparsas, quando ela diz claramente que acompanha o voto do relator, Fachin. O clima no salão é de desânimo, não de revolta. Mais militantes vão embora.
19h30 - Lula continua conversando com amigos em uma salinha sem televisor. É avisado por vários petistas - que assistiam na sala ao lado - que o voto de Rosa Weber foi contrário a ele. Diante do cenário, chances do ex-presidente agora são mínimas: entre os ministros que ainda devem votar, pelo menos dois - Luiz Fux e Carmen Lúcia - já deram indícios de que sua posição é a favor da prisão em segunda instância.
20h20 - Durante a fala do ministro Luiz Fux, contrária ao habeas corpus, uma pizza e um refrigerante são levados pra o local onde Lula está. O salão onde se concentrava a militância vai se esvaziando - resta menos da metade das pessoas. Um pequeno grupo batucava e gritava alto para atrapalhar os repórteres de tevê que tentavam entrar ao vivo.
21h - Amigos próximos de Lula começam a ir embora - entre eles o ex-presidente do PT Rui Falcão e o dirigente do Instituto Lula, Paulo Okamoto. Lula continua no sindicato, mas seus assessores anunciaram que ele não iria se pronunciar, nem falar com jornalistas.
22h36 - Ninguém entra ou sai da sala onde está Lula. No salão do sindicato, cerca de 50 militantes aguardam em silêncio o fim do julgamento.
23h30 - Faltando apenas dois votos para o fim do julgamento, fogos comemorando a aparente derrota do HC de Lula são soltos em um prédio de apartamentos 

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