Artigo, especial Facundo Cerúleo - Hora de mudanças no Grêmio

"O ótimo é inimigo do bom", diz um refrão. E vai aí uma grande verdade, que a vida tem de ser levada com certo pragmatismo, pés no chão e mais juízo que sentimentalismo. Vale para o futebol. E é o que a direção do Grêmio recém-eleita precisa ter presente. A questão que se levanta aqui é se, para a próxima temporada, convém ou não trocar o treinador.

Antes de tudo, vai uma pergunta: para Odorico Roman e seus pares, qual é a prioridade: estar em paz com a massa torcedora ou tomar as medidas que a situação do clube requer (o que há de incluir remédios amargos)?

Gostem ou não, o time do Grêmio tem um técnico profissional, não mais o amadorismo de um passado recente, que só atrasou o clube. Entrevistado por GZH, Arthur (craque do tricolor) elogiou o ambiente de vestiário que o hoje técnico do Grêmio, Mano Menezes, comanda. Fica nítido que não se trata de paternalismo nem cumplicidade, mas de liderança. No campo, aparece a marca do treinador.

Mano tem seu estilo, do qual não abre mão: prioriza organizar a defesa e, só depois, explora as possibilidades ofensivas. O time joga em bloco. Deixa o adversário com a bola, mas marca forte. E sai no contra-ataque. Quanto tem jogadores moldados ao seu estilo, faz um bom campeonato. Mas quando esbarra em deficiências do grupo, como no Grêmio atual, ocorre o que se viu contra o Botafogo. Em suma, ele tem valências e limites.

Neste 26/11/2025, fará 20 anos da "Batalha dos Aflitos", quando foi o equilíbrio de Mano Menezes que salvou o Grêmio de amargar mais um ano na segundona. Para quem esqueceu e para os que eram crianças à época, vale lembrar. O Grêmio teve quatro jogadores expulsos e dois pênaltis contra si (ambos defendidos por Galatto). Dirigentes queriam tirar a equipe de campo. Mano Menezes, que não perdeu a calma, fez valer a sua liderança: o jogo continuou (7 contra 11) e o extraordinário Anderson, de apenas 17 anos, acabou fazendo o gol que deu a vitória e a volta à Série A.

A questão é: convirá trocar o técnico, começar praticamente de zero e entrar 2026 arriscando com um novo profissional (que poderá ou não dar certo)? Ou o melhor é manter o atual e, com tempo e planejamento, fazer uma renovação, inclusive fixando uma ideia permanente de time?

O normal é que, ao assumir uma equipe, o novo técnico trate de implantar seu estilo, o que pode sair mal se os jogadores disponíveis não forem adequados ao seu sistema de jogo, o que requer uma forma específica de condicionamento físico. Demanda tempo, óbvio. Assim, se for o caso de trocar de técnico, qual vai ser o critério para escolher o substituto? Há um projeto de time concebido? Quanto tempo será necessário para haver resultados satisfatórios? A nova direção entende isso?

O que não cabe é deixar para agir só quando a água bate na bunda, como, por falta de alternativa, foi a contratação de Gustavo Quinteros. 

Ele tentou implantar na equipe o seu estilo, o que exigia um tipo de preparo físico diferente do até então praticado. Durou só três meses, resultado óbvio. Ele precisava de tempo e o clube, de resultado imediato. Ninguém dirá, porém, que Quinteros, campeão argentino, não é bom profissional.

Para o Grêmio, mudar é inevitável, sob pena de encolher ainda mais. E o primeiro é mudar um padrão: o improviso. Não adiantaria trazer o melhor técnico do mundo, sem jogadores adequados a um novo estilo de trabalho. "Planejar", "profissionalismo", eis só duas palavras-chave para a nova direção.

A missão de Roman é tremenda: sanear as finanças do Grêmio e tornar o clube apto a disputar títulos relevantes. Se ele quiser agradar a massa, vai penar e não vai conseguir. A massa é reativa, não reflexiva. Quer resultado imediato, não sabe esperar. Cobra grandes contratações e não sabe o que são as finanças de um clube.

Mas se ele pensar antes no interesse do Grêmio, agindo com a cabeça, não com a paixão, o que implica uma etapa com resultados modestos dentro de campo (seguros, mas modestos), pagará o preço de ouvir a gritaria dos que têm microfone e canais em redes sociais e, vivendo do emocionalismo da torcida, fazem a cabeça da massa.

Roman não terá aplauso fácil. Mas fará um grande trabalho se tiver metas claras, planejamento, se primar pelo profissionalismo de quem vai compor sua equipe de trabalho e, ainda, se tiver diplomacia para lidar com as críticas que, sem dúvidas, caso não caia ele na tentação do imediatismo, vão ser pesadas e, às vezes, desleais.


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