Alex Pipkin, PhD
Machado de Assis, o maior escritor brasileiro de todos os tempos, deve estar se revirando no túmulo ao contemplar a tragicomédia política que paralisa o país. Se vivo fosse, não se surpreenderia, apenas confirmaria que os vícios que já expôs com sua pena cortante permanecem intactos.
Ninguém, em nossa história literária, teve tamanha inteligência, sutileza e capacidade de expor, com poucas palavras, a nudez da alma humana e a farsa dos poderosos. Sua pena, elegante e irônica, vale mais do que muitos tratados de ciência política. Aliás, essa ciência política, quase sempre, não descreve o que é, mas o que gostaria que fosse. É a teoria do “clube inglês”: elegante entre pares e narrativas televisivas, mas inútil diante da carne viva da política brasileira. No mundo real, interesses grupais, ideológicos e particulares dobram o bem comum à conveniência de quem manda.
Se o velho bruxo do Cosme Velho estivesse entre nós, riria da pretensão de alguns em vender ilusões como se fossem soluções. Machado sempre foi um ferrenho crítico da corrupção; acredito que hoje desnudaria com igual vigor os conluios e as artimanhas que deformam a política brasileira.
Veria apenas a repetição daquilo que sempre denunciou, ou seja, elites que se imaginam guardiãs do bem comum, mas agem em benefício próprio; instituições que se dizem neutras, mas se servem da lei como conveniência; e uma sociedade entretida pela luta do “nós contra eles”, como se fosse teatro barato em praça pública.
A toga, essa suposta guardiã da democracia, lhe pareceria um coro grego fora de compasso — políticos travestidos de juízes e de demiurgos, confundindo Constituição com interpretação tendenciosa. O lulopetismo, em sua velhice ideológica, surgiria como um ator gasto, sobrevivendo apenas do ressentimento e da divisão social. Como bom ironista, Machado sorriria ao perceber que ainda há quem acredite na retórica de golpes e salvamentos democráticos, quando tudo não passa de rearranjo de interesses.
Machado não bradaria. Machado ironizaria. Chamaria de “vaidade” o palavreado pomposo das elites, de “ilusão” o fervor dos que creem em um Estado salvador, e de “hipocrisia” a democracia invocada por aqueles que dela só aceitam o que lhes convém. Com um único parágrafo, mostraria que o Brasil não mudou: mudam as vestes, mas os personagens permanecem.
Creio que encerrasse sua crônica com uma sentença cruel, afirmando que o maior pecado brasileiro não está apenas no conluio entre togas e partidos, nem na esperteza das elites, mas na docilidade de uma plateia que aplaude, como se fosse espetáculo inédito, uma farsa repetida à exaustão.
Em minha ótica, Machado de Assis era um liberal cético, desconfiado do Estado grande e das promessas fáceis de redenção. Continua a ser o mais atual dos brasileiros, porque quem lê sua obra percebe que ele já havia escrito, no século XIX, o roteiro do nosso século XXI — e, tristemente, ainda aplaudimos a repetição da farsa.
Pepekinha. Machado e de um outro nível....nenhum outro escritor gostou do Machadao...tudo dor de cotovelo ...se tivesse o Nobel em sua época ele tinha levado....Considero Guimarães Rosa o único que pode ser equiparado....Rosa sequer era escritor profissional..era médico e embaixador...e como Consul na Europa salvou centenas de judeus da morte concedendo a eles passaporte brasileiro....Tanto Rosa quanto Machado não dá para entender seus escritos em uma só leitura....e necessário várias leituras para entrar em suas escritas...coisa de gênio das letras...Hoje temos no Brasil o maior baixo nível intelectual desde o início da nossa história...começamos com os cronistas do século xvi e com Gregório de matos os e padre vieira...e terminamos o século xx com Rosa e Drumond ...Agora temos autores que sequer conhecem a gramática básica da língua.. e nossa diplomacia foi rebaixada a nível de briga de sindicato....o Brasil já existia a nível diplomático 8 anos antes do Cabral chegar aqui. Pelo tratado de Tordesilhas... E terminamos agora com a diplomacia tocada por sindicalista bêbado...Deus protege os ignorantes..mas uma só vez...depois disso o país será dividido pelos invasores....o baixo nível atual pode despedaçado país assim como a América latina foi dilacerada no início de século xixi...
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