Artigo, especial, Dagoberto Lima Godoy - Clima: o teste da Conferência de Belém

- O autor é engenheiro civil, Caxias do Sul. Ele é também advogado, ex-presidente da Fiergs e ex-representante do Brasil na OIT.

 A COP-30, em Belém do Pará, será um acerto de contas com a realidade?

 O planeta aqueceu cerca de 1,1 °C desde o fim do século XIX. A influência humana é evidente: combustíveis fósseis e mudança de uso do solo empurraram os gases de efeito estufa para cima. O mar subiu; o gelo recuou; extremos ficaram mais frequentes. 

O quadro é sério, mas não pede pânico: demanda ação e ação correta exige precisão. A ciência não é bloco monolítico: debate sensibilidade climática, papel dos aerossóis, séries de satélite — como ajustar e comparar medições ao longo do tempo — e a atribuição de eventos — que estima o quanto o aquecimento elevou a  probabilidade e a intensidade de ondas de calor ou chuvas extremas. Nada disso nega o aquecimento, mas refina números e margens de incerteza. Realismo é isto: medir melhor para agir melhor.

Ocorre que a política climática não se move num vácuo, mas num tabuleiro de incentivos. Subsídios e o legado fóssil (petróleo, gás, carvão) distorcem preços e atrasam a transição. Há marketing “verde” que não se sustenta e mercados de compensação — créditos de carbono — que pedem governança séria. Na direção oposta, ajustes de carbono na fronteira (BCA) e políticas industriais que reduzem o custo de investir no baixo carbono empurram a economia para competitividade limpa.

Na verdade, há também um clima de fadiga. Promete-se muito, entrega-se pouco. O vai-e-vem regulatório eleva risco e custo de capital. Casos de marketing “verde” enganosos corroem confiança. A policrise — segurança, imigrações, saúde, tecnologia — disputa atenção e recursos. Na comunicação, alternam-se negacionismo e fatalismo apocalíptico, que paralisa. Resultado: vontade política dispersa, cúpulas esvaziadas, público cansado.

Como sair disso? Trocar promessa por entrega: metas com cronograma e métricas públicas; revisão de subsídios ineficientes; mercados de carbono íntegros; obras visíveis no cotidiano; comunicação honesta — sem alarmismo nem triunfalismo.

Agenda climática não é guerra cultural nem peça de marketing. É gestão de risco com oportunidades de produtividade e competitividade. Reconhecer o perigo, admitir incertezas, cortar exageros e focar na execução é o que recoloca governos, empresas e cidadãos na mesma página. Menos slogans, mais obras; menos palco, mais contrato; menos promessa, mais auditoria e prestação de contas. É assim que ciência vira política pública — e promessas viram resultados. Belém está sendo um teste: vamos esperar que dê bons frutos.


Um comentário:

  1. muita esperteza e pouca racionalidade..o autor diz tudo ..pic nic de índios e comunistas tentando ganhar a vida taxando o trabalho dos outros...quanto tempo poderemos viver sem racionalidade....e o que veremos num futuro muito próximo ,

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