O fenômeno Bolsonaro


O fenômeno Bolsonaro

Outro dia assisti a um documentário na Netflix sobre a Guerra do Vietnã. Realmente impressionante!
Entre 1965 e 1975, período de maior engajamento norte-americano no conflito, morreram 58 mil solados americanos. Ou seja, 5.800 mortos por ano em média. Este morticínio levou a sociedade americana a um total repúdio à guerra, com grandes manifestações por todo país. Foi um trauma que os norte-americanos nunca esqueceram e, até hoje, tem dificuldade de tocar no assunto.
Isso me levou a fazer uma comparação com o Brasil. Por aqui, morrem 63 mil pessoas assassinadas por ano e o governo não dá a menor importância. Ou seja, enquanto nos EUA seis mil mortos por ano é considerado uma taxa inaceitável, por aqui, dez vezes mais não causa nenhum assombro no governo ou na mídia. A mídia só se manifesta quando morre alguém importante (um médico famoso, por exemplo) ou com a qual tenha afinidade ideológica, como foi o caso de Marielle Franco. Se o “Zé das Couves” foi assassinado no subúrbio e deixou sua família desamparada, ninguém em absoluto dá a menor atenção. Mas imaginar que essa opressão não provoque profunda indignação na sociedade, tal como ocorreu nos EUA, demonstra apenas falta de sensibilidade política.
Vamos imaginar que desses 63 mil mortos, a metade seja constituída por criminosos pelos quais ninguém vai derramar uma lágrima. Restam os outros 31.500 cidadãos de bem, muitos deles policiais, que foram assassinados por motivos fúteis, tais como um celular, uma mochila ou uma bicicleta. Ainda assim é uma taxa anual seis vezes maior que a cobrada pela Guerra do Vietnã. A sociedade brasileira está profundamente marcada por essa violência criminosa. Não há uma família sequer que não tenha sido atingida pela mão do crime. Traficantes e milicianos dominam comunidades inteiras criando áreas de exclusão onde a polícia não pode entrar. Se antes era uma característica das grandes cidades, hoje o crime campeia livremente no interior e a população mora entre muros, cercada por grades e com medo de andar nas ruas.
O que fizeram os governos proto-socialistas desde FHC até hoje para enfrentar essa calamidade? A solução milagrosa tirada do fundo da cartola por FHC e entusiasticamente defendida por Lula e seus seguidores foi o desarmamento civil, medida esta que se provou contraproducente em todos os países onde foi anteriormente adotada.
Mas nossos governantes foram além no descaso com a sociedade. No referendo de outubro de 1985 o povo teve a chance de manifestar sua desaprovação em relação ao desarmamento civil e, mesmo assim, o recado foi ignorado pelo governo. Outras medidas totalmente absurdas, tais como redução de penas, indulto natalino, saída no dia das mães, bolsa presidiário, audiência de custódia, etc. provocaram profunda indignação na população. A sensação geral é de que o crime compensa.
Agravando esse quadro, intelectuais identificados com o governo proclamam que o Brasil prende demais e que prisão não é solução. Os grupos de Direitos Humanos mostram-se muito preocupados com a integridade dos presidiários, mas não demonstram nenhuma compaixão para com as vítimas e seus familiares. No campo, milícias invadem e destroem propriedades e empresas e só podem ser retirados por ordem judicial de reintegração de posse. O Estatuto da Criança e do Adolescente, aprovado por Collor em 1990, criou uma categoria de intocáveis, cuja ficha criminal é apagada ao completar 18 anos de idade, independentemente do que tenham feito antes.
Nesse cenário de completo descalabro e anomia, surge um político que proclama o óbvio: que bandido não é cidadão; que as penas devem ser cumpridas até o fim; que o Estatuto do Desarmamento deve ser revisto; que menor de idade não é irresponsável; que aluno deve respeitar professor; que invasores devem ser expulsos pela polícia; que prisão é bom porque tira o criminoso da sociedade e que qualquer um tem o direito de defender sua vida, de seus familiares e sua propriedade – inclusive com o recurso a armas de fogo. É o típico “óbvio ululante” de que falava Nelson Rodrigues: estava diante dos olhos e ninguém via.
Bolsonaro não é um fenômeno. Se há algo de fenomenal no Brasil é a insensibilidade e a incompetência de nossa classe política.

Leonardo Arruda

3 comentários:

  1. Na Guerra do Vietnam a vitoriosa foi a Quinta Coluna formada pela imprensa, artistas, professores e o partido Democrata.

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  2. AQUI NO BRASIL NÃO É A PAUTA POLÍTICA MAS A IDEOLOGIA MESMO: COMUNISTA! É O GRAMSCISMO NOS SUFOCANDO HÁ 30 ANOS!

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  3. Estatuto do desarmamento é de 2005.

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