Cristiano Duarte: na mesma hora, pela mesma porta
Jornalista de Zero
Hora
Por volta das cinco da madrugada, um carro colide contra
um muro em uma perseguição frustrada a um bandido que havia quebrado os vidros
de um automóvel e furtado uma mochila, na Rua Luís Afonso, na Cidade Baixa.
Algumas pessoas corriam atrás do ladrão aos gritos de "Pega ele, pega
ele". Enquanto seguia em fuga, o grupo aumentou e um táxi entrou na
contramão da Rua José do Patrocínio para reforçar a multidão que se formava em
busca do criminoso.
Sem uma estratégia de evasão planejada, o bandido correu
em direção ao movimento dos bares do reduto boêmio da Capital. A cada 10
passos, mais pessoas corriam atrás dele. E eu também, na condição de
jornalista, claro. Tudo indicava que o ladrão seria linchado ali, sob o luar e
com os cacos de vidros embaixo dos tênis surrados. Eis que, para salvar a vida
do criminoso, a Brigada Militar surge, a cerca de 350 metros do incidente, na
Rua República. A luz do giroflex reverberando nas paredes e acalentando o rosto
do malfeitor, que clamava com o olhar a proteção dos nossos brigadianos. Ao ser
interceptado, na abordagem, uma constatação: reincidente. O criminoso havia
sido fichado na noite anterior.
O bandido foi enquadrado por furto, o famigerado artigo
155 do Código Penal. Outra viatura da Brigada Militar chegou. Em uma delas,
entrou o bandido, com tranquilidade e experiência, e na outra as pessoas que
foram furtadas, aflitas e sem experiência. O homem que cometeu o delito e os
cidadãos que fizeram o registro ficaram o mesmo período de tempo na delegacia,
cerca de uma hora e 30 minutos. A ocorrência sem vítima não existe, é
necessário compor todas as partes de cada história. Após o registro, ambos
foram liberados. Vítimas e bandido saíram pela mesma porta.
No Presídio Central, com capacidade para 1.905 presos,
temos exatos 4.799 detentos. O epicentro da superlotação ocorre em quatro dos
nove pavilhões. É onde ficam localizadas as facções e os autores de crimes mais
graves. Com isso, recentemente, camburões e cárcere policial viraram uma nova
modalidade de cadeia. Para ser preso em Porto Alegre, é necessário ser
especialista. Afinal, uma vaga na penitenciária não é para qualquer um.
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