Impacto da eleição norte-americana nas relações
comerciais entre EUA e Brasil pode ser baixo
- Após a vitória do candidato republicano na eleição
presidencial norte-americana, que defendeu uma política comercial protecionista
durante a campanha, surge a preocupação em relação a seus impactos sobre a
economia brasileira. À primeira vista, tendemos a acreditar que o Brasil será
pouco afetado do ponto de vista comercial.
- As exportações brasileiras para os EUA somaram US$ 22,7
bilhões nos últimos 12 meses terminados em outubro, e as importações
provenientes desse país somaram US$ 23,5 bilhões em 12 meses. Com isso, a
corrente de comércio do Brasil com os EUA somou US$ 46,2 bilhões nos últimos 12
meses, e o déficit comercial é de cerca de US$ 826 milhões. O primeiro
elemento para justificar nossa hipótese de que os impactos reais da eleição norte-americana
serão diminutos no Brasil é que nossa balança comercial com os EUA é
estruturalmente deficitária.
- O segundo argumento é que nossas exportações são pouco
relevantes na pauta importadora dos EUA, constituindo apenas 1,1% da mesma. À
primeira vista, tendemos a acreditar que essa é uma participação pequena o
suficiente para não gerar incômodo, ou seja, a pouca relevância das nossas
exportações no total importado pelos EUA poderia, teoricamente, nos proteger.
- Por fim, as empresas americanas no Brasil geram
fluxos de dólares para os EUA, e boa parte desses investimentos é voltada para
o mercado interno brasileiro e não para sermos plataforma de exportação para os
EUA. Nessa lógica, não representamos uma ameaça aos empregos de americanos.
- Portanto, o Brasil não deveria, teoricamente, ser o
foco de medidas protecionistas por parte dos EUA. Porém, caso isso ocorra é
importante termos em mente que as exportações de manufaturados poderão ser mais
sensibilizadas, dada a concentração da pauta de exportação para os EUA nesses
bens.
Apesar dos progressos na correção dos desequilíbrios
macroeconômicos argentinos, ainda existem importantes desafios
- Após quase um ano da posse de Mauricio Macri como
presidente da Argentina, diversas medidas já foram tomadas em direção à
normalização das políticas macroeconômicas, corrigindo os desequilíbrios
verificados na economia. O governo removeu as restrições ao mercado de câmbio,
acabou com as tarifas sobre as exportações e negociou um acordo com os
credores. Esse acordo permitiu a normalização dos pagamentos da dívida e, com
isso, reabriu os mercados internacionais ao país.
- Um dos desafios do país é controlar a inflação, que
permanece em níveis elevados, mantendo-se persistentemente acima dos 20% ao
ano. Em julho, a depreciação cambial e o corte de subsídios fizeram a inflação
chegar perto de 50% ao ano. O Banco Central adotou as taxas de juros de curto
prazo como instrumentos de política monetária, em oposição ao antigo regime de
controle de agregados monetários e da taxa de câmbio. A partir de 2017, o país
deverá seguir um regime de metas de inflação. O objetivo é reduzir a inflação
para 5% ao ano ao final de 2019, e para tanto foram estabelecidas metas
decrescentes para a mesma.
- Talvez o principal desafio seja o ajuste das contas
públicas em meio a um cenário de contração da atividade econômica, que afeta a
arrecadação tributária. Desde a posse, o governo tem demostrado que pretende
implementar o ajuste fiscal de forma gradual ao longo dos próximos quatro anos.
No entanto, na proposta para o orçamento de 2017, houver uma revisão das metas
fiscais, estabelecendo uma consolidação ainda mais gradual das contas públicas.
Octavio de Barros
Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos - BRADESCO
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