Pesquisa do IBGE sobre mobilidade social comprovou que
quanto maior for a escolaridade dos pais, maior tende a ser o progresso dos
filhos nos estudos. Por conseguinte, as chances profissionais desses jovens
dependem, em grande medida, da educação de seus pais. Essas conclusões ajudam a
entender por que a melhoria do ensino público básico, aquele que atende as
crianças de famílias mais pobres, é determinante para reduzir a desigualdade
social de forma sólida, razão pela qual é nesse estágio que deveriam se concentrar
os investimentos estatais na área de educação.
Com a precariedade do ensino público básico, os meninos
que hoje desistem da escola antes de adquirir escolaridade minimamente
satisfatória – quer porque não conseguem conciliar as aulas com o trabalho
precoce, quer porque frequentar a escola não faz sentido nem para eles nem para
suas famílias – serão, no futuro, os pais cujos filhos estarão destinados a
formar a base da pirâmide social. Esse círculo vicioso precisa ser rompido,
para que se pavimente o caminho do desenvolvimento sustentável nas próximas
décadas e para que a mobilidade social no Brasil não continue a ser apenas uma
ilusão resultante de arroubos populistas e fórmulas mágicas.
A pesquisa Suplemento de Mobilidade Sócio-ocupacional, a
partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2014, foi feita
com pessoas a partir dos 25 anos e que moravam com os pais aos 15 anos. É o
primeiro levantamento do IBGE a abordar de que maneira a origem
sócio-ocupacional dos pais exerce influência sobre o futuro dos filhos no que
diz respeito à educação e ao trabalho.
Um dos recortes mostra que 23,6% dos filhos cujos pais
não foram alfabetizados até os 15 anos de idade também eram analfabetos pelo
menos até aquela idade, situação que os condenou aos piores empregos. Apenas 4%
dos filhos de pais naquela condição conseguiram completar o ensino superior. Já
entre os filhos cujos pais completaram o ensino superior, somente 0,5% não
havia se alfabetizado antes dos 15 anos, e nada menos que 69,1% completaram o
nível superior.
Esse cenário se repete em relação à renda. Para os
trabalhadores sem instrução básica cujos pais são igualmente analfabetos, a
renda média é de R$ 717. Já para os trabalhadores sem instrução básica cujos
pais atingiram o nível superior de educação, a renda média chega a R$ 2.324. Ou
seja, mesmo que o trabalhador não tenha boa formação, seu salário melhorará
caso seus pais tenham tido educação até os níveis mais altos. Já os
trabalhadores com nível superior cujos pais são analfabetos terão uma renda
média de R$ 2.603. O valor sobe para R$ 6.739 caso os pais também tenham nível
superior.
Esses números mostram que a baixa escolaridade dos pais
dificulta a trajetória profissional e educacional dos filhos. Entre os filhos
cujos pais são analfabetos, 63,6% também não tiveram instrução ou avançaram
apenas para o início do ensino fundamental. Enquanto isso, dos filhos cujos
pais completaram o ensino médio, 12,4% chegaram à universidade e, destes, 41,2%
conseguiram diploma de ensino superior.
Isso significa que o avanço da escolaridade dos
brasileiros nas últimas décadas ainda não foi suficiente para romper a
desigualdade. Mesmo que o número de crianças entre 7 e 14 anos fora da escola
tenha caído de mais de 15% na década de 90 para 2% em 2014, os filhos de
famílias com menos recursos continuam destinados a ter condições de vida
semelhantes às dos pais.
Nada indica que a situação possa melhorar num futuro
previsível, especialmente quando se observa a parte da pesquisa a respeito das
crianças que precisam trabalhar – e, portanto, não conseguem avançar nos
estudos. Entre os filhos cujos pais são agricultores, 59,6% começam a trabalhar
antes dos 13 anos de idade, enquanto o porcentual cai para 7,5% entre os filhos
cujos pais são acadêmicos, cientistas ou artistas.
Trocando em miúdos, a origem socioeconômica, como nas
antigas sociedades estamentais, tende a condenar parte dos brasileiros à
condição de cidadãos de segunda classe.
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