As praias e seus hotéis estavam lotados, as estradas para
o litoral, entupidas, e comer um sanduíche exigia uma hora de fila.
"Crise? Que crise?"
Histórias e fotos dos congestionamentos dos feriados
fizeram sucesso em blogs e redes insociáveis na virada do ano. "Formadores
de opinião" adeptos de Dilma Rousseff faziam troça de
"pessimildos". Logo apareciam os críticos, e passava-se ao debate: "coxinha",
"fascista", "mortadela", "petralha" e nenhuma
ordem nas razões.
Como é comum nesse ambiente, virtual e realíssimo, os que
comungavam da mesma opinião se congratulavam pela esperteza esotérica, pelo
conhecimento exclusivo da realidade e pela imunidade contra o
"derrotismo" do "golpismo midiático" — ou pela indiferença
à estatística, para não dizer a sofrimentos.
Hotel de praia lotado é um bom indicador? Aliás, estava
lotado?
Ainda não há estatísticas gerais da ocupação dos hotéis
no final do ano. Há evidências anedóticas (parciais, casos) de que os negócios
não foram mal e de empresários do ramo algo contentes.
Até outubro, o negócio parecia em baixa. A taxa de
ocupação então caía 6,8% no ano, segundo os dados mais recentes disponíveis da
parceria do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil com o Senac de São Paulo.
A receita por apartamento diminuía 10,4%. Em 2014, a receita já subira abaixo
da inflação (ou seja, diminuiu, em termos reais). Há alguma crise na hotelaria.
Pode ser que o final de ano tenha sido melhor. É
possível, mas ainda não precisamente provável, que brasileiros tenham
substituído viagens ao exterior pelo turismo doméstico. Acontece em vários
negócios quando há "alta do dólar". Em crises menos bicudas, é assim
que começam recuperações econômicas. Em vez de comprar lá fora, voltamos a
comprar "produto nacional", de hotel a roupa, passando por insumo
industrial.
As despesas com viagens ao exterior, medidas em dólar,
começaram a cair em fevereiro. Em reais, passaram a despencar lá por agosto, em
média quase 20% em relação a 2014.
Em crises costuma haver mudança de padrões de consumo (os
preços se alteram uns em relação aos outros; a perda de renda eleva a procura
por produtos inferiores etc.). Difícil julgar o que se passa considerando
apenas um ramo de negócio. Mas é um tanto ridículo argumentar essas quase
obviedades com quem faz "disputa política", a expressão repulsiva que
define o uso de truques para justificar interesses da política politiqueira
mais baixa, da situação à oposição.
O fato geral é que o investimento em expansão da economia
cai desde 2013. Até outubro de 2015, as vendas do varejo caíam 3,6%. O consumo
de eletricidade, mais de 2%, raro. O rendimento médio nas metrópoles caía 8,8%
até novembro, o número de pessoas empregadas era 3,7% menor que em 2014.
Até setembro, quem não faz troça da desgraça poderia
ficar um pouco aliviado com o fato de que, na média do Brasil, nem a renda nem
o número de empregados havia caído —sinal de que o interior ainda resistia,
talvez por causa de benefícios sociais. Mas Estados e cidades vão ficando sem
dinheiro para ataduras ou salários. Esses são apenas sintomas. A doença, embora
curável, é muito pior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário