O governo e o PT, utilizando-se de seus aliados de
ocasião no próprio PMDB, procuram inviabilizar o vice-presidente enquanto
alternativa de poder
Engana-se quem pensa que a crise possa amainar, seja pela
decisão do Supremo, que deu um fôlego ao governo, seja pela troca do ministro
da Fazenda, seja pelo caráter intempestivo e contraditório do neo-aliado da
presidente, senador Renan Calheiros. O seu caráter é estrutural, nada tendo
sido feito que possa alterar esse quadro. O governo continua respirando
artificialmente, com a ajuda de aparelhos, sobretudo os derivados da
apropriação partidária do Estado.
O governo e o PT, além de não serem nada afeitos ao
princípio lógico de não contradição, também costumam atentar a outro princípio,
o da causalidade. Não seria, pois, de espantar que a insensatez e a
desorientação tenham se tornado métodos de governar. Vejamos alguns desses
casos.
Primeiro. A substituição do ministro da Fazenda Joaquim
Levy pelo ministro do Planejamento Nelson Barbosa é ilustrativa da confusão
entre causa e efeito. A escolha do ministro Barbosa tem sido alardeada como
sendo a ocasião de abandono de um ajuste fiscal estrito em proveito do
“crescimento”. Ou seja, o ex-ministro Levy seria o culpado do desemprego, da
inflação, da queda do PIB, da elevação do dólar e assim por diante. Ora, a
crise econômica e social é nada mais do que o efeito da “nova matriz
econômica”, que teve como um dos seus artífices o novo ministro da Fazenda. De
efeito, Levy aparece como causa e Barbosa, de causa, desaparece como tendo sido
um dos responsáveis do atual descalabro. Causa e efeito são subvertidos, como
se a lógica pudesse ser simplesmente descartada. E somos governados por
ilógicos!
Segundo. A presidente Dilma se considera uma grande
economista e se vê no espelho na escolha de Nelson Barbosa como seu novo
ministro. É como se, enfim, pudesse ter se visto livre daquele “neoliberal”,
preocupado com as contas públicas e avesso à gastança governamental. É como se
o “neoliberalismo” fosse o responsável do atual buraco em que se vê metido o
país, quando ele não tem nada a ver com isto. A crise brasileira é o mais
nítido produto de uma política econômica de esquerda, estatizante,
profundamente desconfiada da economia de mercado.
Terceiro. O PT passa agora a responsabilizar o
ex-ministro Joaquim Levy pela recessão, pelo aumento da inflação e pelo
desemprego produzidos pela própria esquerda. Pretendem mais do mesmo enquanto
solução para os problemas por eles mesmos criados. Desrespeitam a lógica, pois
apenas se apresentam como sem-pensamento. Deveriam constituir o Movimento dos
Sem-Pensamento, irmanados aos Sem-Terra, Sem-Teto e assim por diante. O seu
contentamento pela escolha do ministro Nelson Barbosa já é um sinal
extremamente perigoso de que o partido possa agora influir mais diretamente na
política econômica. A economia em frangalhos pode se espatifar ainda mais, como
mostram os exemplos, admirados por essa esquerda, da Venezuela e da Argentina.
Quarto. Com o objetivo de acalmar os mercados, o novo ministro
acaba de anunciar que levará a cabo uma cada vez mais necessária reforma da
Previdência. Se o fizer, será um ponto extremamente importante para o país, que
o porá em confronto com a mesma esquerda que o levou ao Poder. Terá de mexer
com privilégios profundamente arraigados e defendidos corporativamente com
unhas e dentes. Note-se, contudo, que o governo, nos últimos anos, só tem
multiplicados fóruns e comissões para estudar a reforma da previdência, não
chegando a nenhum resultado. Como se anúncios e comissões fossem por si mesmos
soluções, não carecendo de nenhuma medida concreta. As “propostas” anunciadas
não possuem nenhuma credibilidade. Seus autores não geram confiança.
Quinto. A decisão do Supremo, criando ainda mais
obstáculos ao processo de impeachment, terminou por aumentar a confusão
reinante. Em vez de ter se comportado como uma instância arbitral, escolheu
tornar-se parte do problema, e não fator equacionador do mesmo. Poderia ter
escolhido o caminho de mero garantidor de regras, em vez de ter enverado por um
ativismo jurídico, criando novos ritos, em vez de simplesmente garantir os
existentes. Os casos do voto aberto e de chapas avulsas geram mais confusão por
conflitarem não apenas com a Constituição, mas com o regimento, as práticas e a
tradição da Câmara dos Deputados. Embargos declaratórios serão interpostos pela
Câmara, fazendo com que o processo de impeachment se alongue ainda mais. Pior
ainda, trataram os deputados e os senadores como menores de idade que devem ser
tutelados.
Sexto. O caso do neo-aliado, senador Renan Calheiros, é
também um caso particularmente interessante, pois enquanto a presidente e o PT
vociferam contra o deputado Eduardo Cunha, escolhem como parceiro um senador
que possui seis inquéritos em curso no Supremo Tribunal Federal. Aliás, não
deixa de ser curioso que o seu caso não receba o mesmo tratamento, por parte da
Procuradoria Geral da República, do do presidente da Câmara. Não se trata, por
parte do governo, de uma escolha ética, mas de uma mera tentativa de enfraquecer
o vice-presidente, alcançando-o em sua posição de presidente do PMDB. O senador
presta um imenso desserviço ao seu partido e ao país, tendo como único objetivo
uma suposta retribuição governamental que lhe possa, eventualmente, ser
garantida nos tempos difíceis que estão por vir.
Em suma, no contexto mais geral da atual crise política,
o governo e o PT, utilizando-se de seus aliados de ocasião no próprio PMDB,
procuram inviabilizar o vice-presidente enquanto alternativa de poder,
minando-o como presidente do partido. Tudo passa a valer, inclusive a ausência
completa de moralidade pública e pessoal, que, a bem dizer, foi simplesmente
abandonada nos últimos treze anos.
O Brasil não conta neste jogo, que tem como única
finalidade evitar o impeachment, por mais que o país rume, assim, para o
precipício.
ESSA PETESADA, NÃO SÃO FÁCIL, QUANDO VAMOS COLOCAR O BRASIL NO CAMINHO CERTO?
ResponderExcluirESSA PETESADA, NÃO SÃO FÁCIL, QUANDO VAMOS COLOCAR O BRASIL NO CAMINHO CERTO?
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