A
pretexto das dificuldades de fazer política “sem sujar as mãos”, ou no
exercício da troca de favores para construir maiorias parlamentares, os
governos e partidos têm realizado o “loteamento” de órgãos público-estatais.
Habitualmente,
essa prática implica transgressões e negócios escusos, de modo que sempre
reinou uma espécie de pacto do silêncio entre os negociadores, políticos ou
não. Parafraseando o filósofo alemão Ludwig Wittgenstein, resulta que “o que
não pode ser dito deve ser calado!”.
Neste
sentido, o agravamento das presentes investigações jurídico-policiais em torno
de expressivas figuras públicas tem proporcionado uma série de reflexões com
pretensões filosóficas.
Simpatizantes
dos ora suspeitos e acusados preferem discutir não o núcleo das fraudes e
desvios (roubo!) de dinheiro público, e das estranhas e generalizadas
benfeitorias realizadas por empreiteiras, mas, sim, se são legítimas as
delações e as próprias investigações.
Estes
surpreendentes esforços retóricos de proteger pessoas e negócios suspeitos,
inclusive desmerecendo o trabalho jurídico-policial, será a banalização do mal,
enunciada pela filósofa Hanna Arendt? Lembra: “quando o mal se banaliza,
perdemos a capacidade de indignação”!
Mantido
o debate nesses termos, a sujeira continuará debaixo do simbólico tapete de
“nossas virtuosas relações sócio-políticas”. Será o triunfo da máxima “os fins
justificam os meios!”.
Nassim
Nicholas Taleb é um professor libanês, residente nos Estados Unidos, autor de
um livro chamado "The Black Swan: The Impact of the Highly
Improbable". Em português: “O cisne negro: o impacto do altamente
improvável” (Valor, São Paulo, 04/06/07).
Antes
de a Austrália ser descoberta, todos os cisnes do mundo eram brancos. A
Austrália, onde existe o cisne negro, mostrou a possibilidade de uma exceção.
A
teoria do cisne negro tem três características: altamente inesperado (1), tem
grande impacto (2), e, depois de acontecer, procuramos dar uma explicação para
fazê-lo parecer o menos aleatório e o mais previsível do que era (3).
O
autor prega que é fundamental manter o hábito de questionar estruturas de
pensamento e atitudes, mesmo que isso exija ações não-ortodoxas.
Uma
vez que o cisne negro apareça, as pessoas devem estar com sua exposição
maximizada para ele. Devem acreditar na possibilidade de o mais inusitado
acontecer.
Se
há um enunciado que diz que todos os cisnes são brancos, e aparece um cisne
negro, o certo seria trocar o enunciado para: “Alguns cisnes não são brancos”!
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