O Brasilnic navega pelos gelados mares turbulentos
repletos de gigantescos blocos de gelo que podem, de um momento para outro,
mergulhá-lo nos tenebrosos abismos das fossas abissais.
Nos vários decks, os passageiros se acotovelam cuidando
cada um de sua própria vida completamente alheios aos perigos que ameaçam a
embarcação e suas próprias vidas. Há tempos acreditam que os tripulantes
acastelados em suas cabines de luxo estejam seguindo uma rota segura sem tomar
conhecimento da longa navegação à deriva.
O capitão é novo e recém empossado no cargo, e, como se
determinou a levar o navio a um porto seguro, sofre desprezo e pressões por
parte dos antigos tripulantes acostumados a navegar ao léu enquanto se
empanturram nos sofisticados restaurantes dos decks superiores.
Alguns, na cabine mais luxuosa, tramam contra o capitão
enquanto se deliciam com lagostas e vinhos quadruplamente premiados. Outros,
igualmente responsáveis pela navegação do navio em função de regras criadas por
eles mesmos, conspiram contra tudo o que o capitão propuser porque isto os
obrigaria a admitir que deixaram de propósito barco à deriva durante tanto
tempo na esperança de que o mesmo não viesse a lançar ferros em algum porto
onde as autoridades os fizessem responder pela sua irresponsabilidade.
O capitão, na sua faina em salvar o Brasilnic e seus
passageiros, visualiza à apenas algumas milhas à proa uma gigantesca massa de
gelo de milhões de toneladas pronta para o embate com a grande, porém frágil
embarcação, e convoca todos a ajudá-lo a redirecionar a rota de colisão
iminente.
Aqueles das lagostas e dos vinhos sequer saem de suas
cabines para tomar conhecimento do que provoca o alvoroço na ponte de comando e
nos decks inferiores. Problema de navegação não é com eles. A função deles é
dizer o que é certo e o que é errado segundo seus próprios conceitos.
Os da antiga tripulação reúnem-se imediatamente para
discutir uma nova rota diferente daquela proposta pelo capitão para que o mesmo
não leve, perante os passageiros, os louros de ter salvado o Brasilnic do
naufrágio. Eles é que precisam protagonizar as operações de salvamento, mas
para isto precisarão de alguns dias de debates.
O que poderá fazer o capitão que vê assombrado o iceberg
se agigantar minuto a minuto? Vai esperar que os tripulantes fiquem discutindo
suas próprias controvérsias e avisar aos passageiros que tudo acabará bem? Vai
se render às regras criadas pelos antigos tripulantes e torcer por um desfecho
feliz mesmo contra todas as probabilidades?
Dentro de poucos minutos todos estarão mergulhados nas
gélidas águas do insondável oceano, exceto aqueles que conseguirem se aboletar
em algum barco salva-vidas para eles reservado, não sem levar consigo os
corotes de vinhos premiados e suas lagostas ao Termidor, e os outros que
disfarçados de mulheres ou crianças continuarão gritando a plenos pulmões
através de seus megafones que o culpado pelo naufrágio é o capitão.
Desperta, capitão, que ainda dá tempo. Segura firme o
timão e desvia do iceberg mesmo que para isso tenhas que desrespeitar o
regulamento interno e jogar aos tubarões os canalhas que pouco se importam que
o Brasilnic naufrague e que os passageiros se afoguem contanto que salvem suas
peles.
Sempre fizeram isto. Está mais do que na hora de
defenestrá-los pelas escotilhas da popa livrando para sempre o Brasilnic desta
nefanda geração de parasitas.
O autor é diretor da FJacques - Gestão através de Ideias
Atratoras, Porto Alegre, e autor do livro “Quando a empresa se torna Azul – O
poder das grandes Ideias”.
www.fjacques.com.br -
fabio@fjacques.com.br
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