Artigo, Fábio Jacques - Salvem o Brasilnic


O Brasilnic navega pelos gelados mares turbulentos repletos de gigantescos blocos de gelo que podem, de um momento para outro, mergulhá-lo nos tenebrosos abismos das fossas abissais.
Nos vários decks, os passageiros se acotovelam cuidando cada um de sua própria vida completamente alheios aos perigos que ameaçam a embarcação e suas próprias vidas. Há tempos acreditam que os tripulantes acastelados em suas cabines de luxo estejam seguindo uma rota segura sem tomar conhecimento da longa navegação à deriva.
O capitão é novo e recém empossado no cargo, e, como se determinou a levar o navio a um porto seguro, sofre desprezo e pressões por parte dos antigos tripulantes acostumados a navegar ao léu enquanto se empanturram nos sofisticados restaurantes dos decks superiores.
Alguns, na cabine mais luxuosa, tramam contra o capitão enquanto se deliciam com lagostas e vinhos quadruplamente premiados. Outros, igualmente responsáveis pela navegação do navio em função de regras criadas por eles mesmos, conspiram contra tudo o que o capitão propuser porque isto os obrigaria a admitir que deixaram de propósito barco à deriva durante tanto tempo na esperança de que o mesmo não viesse a lançar ferros em algum porto onde as autoridades os fizessem responder pela sua irresponsabilidade.
O capitão, na sua faina em salvar o Brasilnic e seus passageiros, visualiza à apenas algumas milhas à proa uma gigantesca massa de gelo de milhões de toneladas pronta para o embate com a grande, porém frágil embarcação, e convoca todos a ajudá-lo a redirecionar a rota de colisão iminente.
Aqueles das lagostas e dos vinhos sequer saem de suas cabines para tomar conhecimento do que provoca o alvoroço na ponte de comando e nos decks inferiores. Problema de navegação não é com eles. A função deles é dizer o que é certo e o que é errado segundo seus próprios conceitos.
Os da antiga tripulação reúnem-se imediatamente para discutir uma nova rota diferente daquela proposta pelo capitão para que o mesmo não leve, perante os passageiros, os louros de ter salvado o Brasilnic do naufrágio. Eles é que precisam protagonizar as operações de salvamento, mas para isto precisarão de alguns dias de debates.
O que poderá fazer o capitão que vê assombrado o iceberg se agigantar minuto a minuto? Vai esperar que os tripulantes fiquem discutindo suas próprias controvérsias e avisar aos passageiros que tudo acabará bem? Vai se render às regras criadas pelos antigos tripulantes e torcer por um desfecho feliz mesmo contra todas as probabilidades?
Dentro de poucos minutos todos estarão mergulhados nas gélidas águas do insondável oceano, exceto aqueles que conseguirem se aboletar em algum barco salva-vidas para eles reservado, não sem levar consigo os corotes de vinhos premiados e suas lagostas ao Termidor, e os outros que disfarçados de mulheres ou crianças continuarão gritando a plenos pulmões através de seus megafones que o culpado pelo naufrágio é o capitão.
Desperta, capitão, que ainda dá tempo. Segura firme o timão e desvia do iceberg mesmo que para isso tenhas que desrespeitar o regulamento interno e jogar aos tubarões os canalhas que pouco se importam que o Brasilnic naufrague e que os passageiros se afoguem contanto que salvem suas peles.
Sempre fizeram isto. Está mais do que na hora de defenestrá-los pelas escotilhas da popa livrando para sempre o Brasilnic desta nefanda geração de parasitas.
O autor é diretor da FJacques - Gestão através de Ideias Atratoras, Porto Alegre, e autor do livro “Quando a empresa se torna Azul – O poder das grandes Ideias”.
www.fjacques.com.br -  fabio@fjacques.com.br

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