Carta do prefeito Sebastião Melo

 Caro presidente Baleia Rossi,


Com respeito à sua liderança e ao nosso partido que, desde seu nascimento, teve destaque na história de luta pela democracia, registro minha desconformidade e apreensão diante da decisão tomada em relação ao cenário nacional.

O MDB surgiu para combater o autoritarismo, exercendo um papel de liderança pela redemocratização, pelo fim da tortura, pela anistia, pela liberdade de imprensa. Enfim, pela volta da liberdade de expressão, de organização e de participação na vida nacional. Neste período, o partido foi fundamental e insubstituível.

Carregamos este compromisso com o povo brasileiro em nosso DNA. É algo que não pode ser apagado. É o ponto de partida que o MDB deve ter na caminhada por um novo Brasil.

A partir da redemocratização, no entanto, o MDB começou a se desviar do seu legado. Transitou entre diversas correntes políticas, integrou todos os governos a partir da volta das eleições diretas e não priorizou um projeto de liderança e desenvolvimento do país. De 1989 até o presente, participou de poucas eleições majoritárias nacionais, e não despontou em nenhuma, sequer indo ao segundo turno.

Temos muitos desafios pela frente. O mundo mudou, o Brasil mudou e o partido também precisa mudar. O MDB vai se contentar em ser apenas base de apoio de outros projetos, à direita ou à esquerda, ou terá o seu próprio projeto para o futuro da nação? Será coadjuvante ou protagonista? Qual é, afinal, o papel do MDB?

Diante das novas exigências, a participação do MDB no atual governo petista é um inegável retrocesso. Neste pleito, trabalhei muito para que o partido tivesse candidatura própria, que culminou no projeto liderado pela senadora Simone Tebet.

Em duas ocasiões, ouvi da então candidata que, se não fosse ao segundo turno, não estaria em nenhum outro palanque. Diferentemente disso, passado o primeiro turno da eleição, oficializou apoio à chapa petista e, quando da composição ministerial, confirmou a parceria assumindo o Ministério do Planejamento. Na minha avaliação, o MDB incorre em mais um grande equívoco.

É evidente que o MDB, dado seu compromisso com o Brasil, não pode negar-se a apoiar, em todas as instâncias de luta social e política, entre as quais o Parlamento, as medidas que servem ao país.

Cumprir isso é algo completamente distinto do que participar de um governo, numa aliança liderada por uma força política que, como se sabe, prioriza apenas a sua agenda, divide o Brasil e freia o desenvolvimento. Não deveríamos integrar um projeto que misturou o público e o privado e que institucionalizou a corrupção quando esteve no poder.

Qual é, afinal, o grau de afinidade que o MDB tem com a esquerda petista? Nenhum. O que resta, então, é a ocupação de espaços, barganha política e troca de apoio por cargos.

Caro Presidente, será este um bom caminho? Será que devemos sacrificar a nossa história, as referências políticas por espaços num governo que não é nosso e com o qual temos pouca ou nenhuma afinidade ideológica?

Vivemos um momento com grande oportunidade para construímos um partido de centro, moderno, democrático, reformista e comprometido com o crescimento econômico e a inclusão social.

As tarefas são muitas. Nosso partido tem a oportunidade de liderar no Congresso Nacional a luta por uma reforma tributária que fortaleça os municípios, simplifique e não aumente carga tributária, cobre de quem tem renda, diminua de quem não pode pagar e potencialize a distribuição dos recursos para os municípios. Nos municípios a pressão por serviços é muito maior, as pessoas vivem e demandam serviços nas cidades.

As propostas hoje em tramitação centralizam recursos na União e nos estados, prejudicando fortemente onde a vida acontece, que é nas médias e grandes cidades. Fortalecer a nossa federação e tornar o estado mais eficiente deve ser o objetivo dessa e de todas as demais reformas. O mesmo vale para a reforma trabalhista, para a reforma urbana, para a continuidade das reformas microeconômicas, para a reforma do Estado nacional, sabidamente ineficiente, entre outras.

O Brasil precisa do MDB. Tal desafio não combina com assumir uma posição secundária num governo hegemonizado pela esquerda. É um grave erro estratégico, que custará caro ao nosso partido.

Desejo profundamente que o Brasil dê certo e estarei sempre ao lado de qualquer iniciativa construída em benefício real daqueles que mais precisam, independentemente de quem tenha vencido a eleição. A palavra, o diálogo e a transparência são fundamentais para a boa política. Precisamos resgatar o compromisso com o povo brasileiro que sempre esteve em nosso DNA e protagonizar o MDB na caminhada por um novo Brasil.

Um forte abraço,

SEBASTIÃO MELO.


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