TITO GUARNIERE
O BOM ANO DE MICHEL TEMER
Nas circunstâncias de sua posse e governo, Michel Temer,
até aqui, foi além das expectativas. Certos recuos deram a impressão de um
governante frágil. Mas o tempo revelou que cada concessão tinha em mira o passo
mais importante à frente, movimento tático para abrir o caminho e remover
obstáculos.
Temer não tem jeito e vocação para a popularidade: não
combina com o seu estilo contido, avesso a gestos espetaculares. Ainda que tire
o País do buraco, é pouco provável que deixe o governo nos braços do povo.
Mas o presidente chega ao final do ano com um razoável
acervo de medidas certeiras para debelar a crise. Mais, muito mais do que seria
capaz Dilma Rousseff, se ainda fosse presidente.
As oposições bradam contra o desemprego de 12 milhões de
brasileiros, os juros galopantes, a crise paralisante. Ora, tudo é herança
maldita do governo anterior. Foi por esse estado de coisas – dentre outras
razões – que Dilma caiu. Mesmo um ex-ministro da Fazenda, Bresser Pereira,
atribui a Temer a permanência de “juros altíssimos”. Distraído, nem se deu
conta que a taxa de juros está mais baixa agora que no tempo de Dilma.
“Fora Temer“, o grito alucinado de manifestantes
profissionais, não vingou. A aprovação da PEC do Teto de Gastos, que requeria
3/5 da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em duas votações, foi rápida e
avassaladora. Com ela, fincou-se uma base essencial para o ajuste das contas
públicas.
Na crise dos estados, Temer negocia, transige e faz
exigências. Não se precipita quando perde, como no caso das contrapartidas. Ao
invés de ficar lamentando e lançando imprecações, renova os acenos e os
esforços para minorar os efeitos da dramática insolvência dos caixas estaduais.
Só uma má-vontade congênita pode negar que houve uma
restauração da confiança no governo e na economia. As ações preferenciais da
Petrobras, que valiam R$ 4,80 no começo de 2016, agora valem R$ 15,00 reais. O
dólar, que valia R$ 3,96, caiu para R$ 3,30 reais. A Bolsa de valores teve uma
alta, em 2016, de 39%. A Petrobras, a Eletrobras, o Banco do Brasil, o BNDES,
estão em um novo patamar de gestão e credibilidade.
Reclamam que ele deu aumentos a certas categorias
especiais do Estado, na contramão do ajuste das contas públicas. Ignoram que os
aumentos foram diferidos no tempo e alguns eram prometidos desde 2007! O
calendário de Temer vai até 2018, e ele cuida de aplainar reações e
dificuldades, de modo a se concentrar no essencial e estratégico.
Temer está longe de vencer todos os desafios. Há
incontornáveis dificuldades à vista, a resistência das corporações, a
conjuntura adversa, as consequências da Lava Jato, que podem atingi-lo e aos
seus auxiliares próximos. Mas se ele aprovar no Congresso a idade mínima de
aposentadoria aos 65 anos e nivelar as previdências pública e privada – uma
tarefa ciclópica – terá cumprido o seu papel histórico.
Mas está escrito que ele não receberá o aplauso do povo
brasileiro. No futuro, um historiador atento, capaz de olhar para além das
aparências, talvez faça um registro de rodapé a respeito dos seus méritos.
titoguarniere@terra.com.br
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