Marcelo Rubens Paiva=
Os monstros de Lula
A euforia do governo Lula, “o cara”, em que a
estabilidade econômica, os índices e a valorização das commodities levaram o
mundo a olhar para nós com outros olhos, escondia uma aberração sobre a qual
muitos comentávamos, mas éramos ignorados.
Nos chamavam de pessimistas, brasileiros com eterno
complexo de vira-lata.
Alguns exemplos:
Odebrecht. Por que de repente a empreiteira baiana
aparecia em todas as obras de grande porte e relevância e recebia a maior parte
do dinheiro de investimentos em construção civil do BNDES?
Eike Batista. Do nada, o empresário carioca se tornava,
como um magnata russo da fileira da KGB, um dos homens mais ricos do mundo, com
empresas com o exótico xis no nome, financiado pelo BNDES?
JBS. Quem entendia a dinheirama pública (CAIXA e BNDES)
investida numa única empresa, que comprava menores se tornou dona até das
sandálias Havaianas, ícone da nossa cultura? Cujo presidente, num casamento
para mil pessoas, juntou toda a classe política nos Jardins e criou a maior
indústria de carnes do mundo?
A resposta todos sabiam.
Vinha do banco público que desprezou um dos pilares do
capitalismo, a livre concorrência, com o intuito provinciano de criar grandes
empresas, as Campeãs Nacionais.
Ou como Elio Gaspari escreveu em 2013, as Campeãs
Nacionais do Desastre.
Foram bilhões em empresas de companheiros e
neo-companheiros.
Criou-se uma nova elite com os pés fincados não no
desenvolvimento social, mas na corrupção.
Alguma empresa de alta tecnologia, como na Coreia da Sul,
que servia de exemplo? Nada.
Algum investimento maciço em ciência e pesquisa
acadêmica? Nada.
Éramos campeões em carne, cerveja, minério de ferro,
grãos, sandálias, petróleo e novas celebridades internacionais.
Ainda tinha na lista a supertele Oi, fusão da Telemar com
Brasil Telecom, que vira pó.
O BNDES se tornava um iceberg que, todos sabiam, ia se
chocar com o navio da República.
Um dos parágrafos marxistas que até os mais ferrenhos
capitalistas respeitam é o de concentração de capital, a maior contradição do
livre mercado: o monopólio. Dizia que grandes empresas comprariam pequenas até
nascer o capitalismo de um só, sem concorrência.
Lula ignorou o princípio, alertado centenas de vezes por
acadêmicos, companheiros, especialistas, artigos, editoriais, até pelo mercado.
A Lava Jato nos trouxe então detalhes do funcionamento do
novo e promíscuo Estado.
Rios de dinheiro jorravam.
Rios de dinheiro financiavam campanhas de todos os
partidos, da oposição à situação.
Era tanto dinheiro, que alguns milhões viram trocado e
eram embolsados por toda a classe política brasileira, de A a Z, em malas,
cuecas, meias, mochilas.
Políticos, jornalistas, juízes, procuradores, diretores
de estatais, publicações, times de futebol, centrais sindicais, movimentos
sociais, muitos participaram da farra que quebrou o país.
O BNDES fugiu dos seus princípios e serviu ao
desenvolvimento de uma elite nacional corruptora, um Estado corrupto e uma
economia não desenvolvida, ferida.
O BNDES, cujo dinheiro vinha do Fundo de Amparo do
Trabalhador, PIS/PASEP, causou inflação monetária, endividou o tesouro,
deteriorou no quadro fiscal do governo, ameaçou nosso grau de investimento,
depreciou o real, causou inflação.
Para financiar bilionários que financiaram a classe
política.
Contaminou a democracia.
E ruiu com a esperança.
Ainda restam no laboratório de Frankenstein explicações
sobre metrôs, aeroportos, portos, a maior cervejaria da América Latina, tomada
de três pinos, o novo acordo ortográfico e um exoesqueleto encalhado que, como
tetraplégico incompleto, cansei de alertar, não servia para nada, já fora
tentado sem sucesso e engolia uma fortuna destinada à pesquisa científica
brasileira.
Tristes verdades.
ResponderExcluir