Artigo, Tito Guarniere - Temer, Aécio e AlCapone
Aécio Neves (PSDB-MG), que por pouco não foi presidente
da República, beijou a lona. Ele não pode culpar ninguém, a não ser a si mesmo.
Então o sujeito sai por aí, com o fogo da Lava Jato crepitando, em busca de
dinheiro para pagar advogado? E procura o senhor Joesley Batista, da JBS, que
já era mal afamado, e que agora, depois destes episódios, ficou esclarecido que
deixa Capone no chinelo? E com tudo incendiando ao redor, troca confidências
com o açougueiro, como se fosse um amigo de longa data, nem de leve suspeitando
de que poderia ter um gravador ligado?
Aécio buscou, com Joesley, dinheiro do caixa dois da JBS,
para pagar o advogado que o livraria da acusação de caixa dois dos outros
processos em que está envolvido. Durante um bom tempo Aécio levou vantagem,
como reclama o executivo da empresa Ricardo Saud: "Ele nunca fez nada por
nós. Prometeu, prometeu e nunca fez nada". Mas sabem como é, com gângster
não se brinca e a JBS deu o troco. E que troco!
Michel Temer, 76 anos bem vividos, revigorados pelo casamento
com Marcela, tendo sido secretário de estado, deputado federal, presidente da
Câmara, vice-presidente da República (está bem, ser vice de Dilma não é lá
essas coisas) e sendo agora presidente, mesmo com tal currículo deu bobeira,
recebeu na residência oficial do Jaburu, sem medo de que a prataria da casa
fosse roubada, Joesley Batista, o homem da JBS.
E ali, em meio a cafezinhos (não há mais detalhes a
respeito do cardápio), Joesley rezou o terço, reclamou que a torneira do BNDES
andava seca, declarou o apreço por Eduardo Cunha, a quem, por sinal, destinava
uma mesada mensal, e com a lábia de um operador de conto do vigário, foi
induzindo o experiente Temer a assentir com certas práticas nada edificantes.
Não se deve dizer isso de um presidente, mas Temer, no
melhor momento do seu governo, caiu como um patinho. Na vida é preciso ter
competência e sorte. Sim, sei, é Maquiavel, "virtù" e
"fortuna". Bem, virtude Temer vinha mostrando, surpreendendo a todos,
promovendo as reformas que o Brasil está a exigir com urgência.
Todos, menos o povo brasileiro, que, distraído como
sempre, e de certo modo merecedor de tudo o que lhe está acontecendo, nunca
teve o presidente exatamente em alta estima. Em certos estados, como o Rio
Grande do Sul, segundo pesquisas, Temer era mais impopular do que Dilma, o que
não diz mal de Temer, mas do povo gaúcho, ao menos da parte que foi pesquisada.
O governante Michel Temer mostrou "virtù", mas
ignorando o ritual do cargo, deu margem para o azar. Faltou-lhe juízo, que não
se confunde com competência. É preciso muita falta de juízo para receber altas
horas na noite, na residência oficial, fora da agenda, um bandoleiro. E mais
falta de juízo, ainda, como Aécio, não levar em conta que poderia estar sendo
gravado.
Que motivo Joesley Batista teve para incriminar Temer,
gravando-o em momento de particular ingenuidade - quase escrevi de burrice -
ninguém sabe direito. Talvez seja mais simples do que aparenta: gânsteres que
se prezam só vão dormir felizes, como escoteiros às avessas, depois de
cometerem uma má ação.
titoguarniere@terra.com.br
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