Simples
assim: um novo Governo não é automaticamente o oposto daquele a quem combateu.
O
sentimento majoritário dos brasileiros contra o Governo Dilma, o aparelhamento
do estado, os reiterados casos de corrupção, a frustração com o PT, o
desemprego, a caótica gestão econômica poderiam ser- e foram – capazes de
aprovar a etapa fundamental do impeachment, ontem, na Câmara dos Deputados.
Mas
o oposto de tudo que não se aceita mais não se transforma milagrosamente no que
queremos.
Um
governo Michel Temer, a se confirmar no Senado Federal o resultado da
Câmara dos Deputados, terá enormes e difíceis desafios para ao mesmo tempo:
desarmar espíritos no País, estabelecer prioridades nacionais em vez de partidárias,
soluções estruturais no lugar de improvisações, luta sem tréguas contra a
corrupção e, ainda, propostas que imponham sacrifícios em um ambiente político
corroído pelo populismo e pelo sentimento de que o Estado pode tudo e tem
recursos para tudo.
Não
deixa de ser irônico que Michel Temer, reconhecido pela incapacidade de dizer
não, assuma uma situação econômica e social que exige decisões rápidas,
firmes e muitas delas impopulares ou claramente distantes do pensamento médio
do Congresso Nacional, onde ideias modernas de sociedade e Estado são uma
constrangedora minoria.
A
primeira e mais importante decisão, Temer poderá tomar sozinho: escolher
se quer preparar um Governo que dura dois anos e meio, não disputa a
reeleição e trabalha olhando para a História ou um Governo que quer durar seis
anos e meio, enfrentando e ganhando a eleição presidencial dentro de dois anos
e pouco. Se a ambição for a primeira, Temer pode por coerência buscar nomes
respeitáveis, propor reformas inadiáveis e aos 75 anos trocar a imagem do
político hábil pela do estadista.
Nenhuma
outra decisão de Temer será tão estratégica.
O
País que hoje afasta Dilma e aceita, mesmo que sem entusiasmo, a solução Temer
será implacável na cobrança de uma atitude nova. O governo dele poderá até
errar em suas políticas e ações administrativas, demorar a resolver o caos na
economia mas se falhar, desde o primeiro minuto, em mostrar que está
comprometido com o sentimento que o gerou, terá dificuldades extraordinárias.
A primeira obra de Temer precisa ser a atitude. E a atitude começa por
definir-se por um governo de curta duração, comprometido em fazer as reformas
indispensáveis e, acima de tudo, reaproximar a sociedade do Estado.
A
economia também espera ansiosa por Temer. Assim como a sociedade, a crise
econômica não dará a ele nem muito tempo nem muito espaço. A gravidade da
herança recebida exige uma liderança com clareza absoluta sobre o que fazer
ainda que os resultados demorem. A inflação, a dívida e o desemprego não
dão espaço a vacilações, incertezas,
contradições...
Este
Presidente Temer que o Brasil exige terá de ser construído por ele próprio. E,
mais, exigirá o rompimento com práticas e parcerias que fizeram do PMDB e de
grande parte dos que o cercam presenças diárias nos escândalos da Lava Jato e
nos piores exemplos do que o País não aceita mais.
Trata-se
de uma tradição brasileira. O novo, por aqui, costuma chegar prometendo
sepultar o velho mas a tarefa é geralmente entregue a uma parte do que deve ser
destruído... Basta ver que o cenário político a partir de hoje nada tem de
inédito: o PT de volta ao que faz muito bem – a oposição; o PSDB e alguns
partidos agora próximos ao Planalto; e o PMDB , o PP, partidos
conservadores, partidos pequenos, bancadas corporativistas ou religiosas onde
sempre estiveram – no Poder.
Erro na chamada: quando morreu Tancredo quem assumiu foi o Sarney e o Brito, que era porta voz do presidente falecido, se elegeu deputado constituinte em 1986. Somente em 1992, com o impeachment de Collor, ele virou ministro da previdência de Itamar.
ResponderExcluirErro na chamada: quando morreu Tancredo quem assumiu foi o Sarney e o Brito, que era porta voz do presidente falecido, se elegeu deputado constituinte em 1986. Somente em 1992, com o impeachment de Collor, ele virou ministro da previdência de Itamar.
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