Excelentíssimos senhores ministros do Supremo Tribunal
Federal:
Por mais de quarenta anos advoguei, ensinei Direito,
escrevi livros jurídicos, publiquei artigos. Vi muita coisa acontecer no
Brasil. Vi Adauto Lúcio Cardoso renunciar a essa suprema magistratura para
ficar em paz com a sua consciência. Bons tempos. Desde os bancos acadêmicos,
acompanhei julgadores como Nelson Hungria, Hanneman Guimarães, Victor Nunes
Leal, Orosimbo Nonato e muitos outros que traçaram uma trajetória luminosa
nessa alteada última instância. Nessa corte onde repousa as últimas esperanças
do povo brasileiro, ouvi e assisti votos inesquecíveis de seu Decano e de
muitos outros que escreveram e estão escrevendo a crônica majestosa dessa Casa.
De uns tempos para cá, assisti, estarrecido, insinuações
contra alguns de seus membros. Dei-lhes, sempre, o benefício da
dúvida. Nunca acreditei que homens alçados ao Olimpo jurídico se
agachassem àqueles que os nomearam, como era insinuando corum
populo. Sempre achei que cada um cuidaria de sua biografia e faria um
cordão sanitário em torno da honra não só pessoal como da Casa como um todo.
Não posso admitir que alguém, despindo-se de toda e qualquer dignidade pessoal,
tenha assumido compromissos espúrios para ser alçado a ministro. Sempre
considerei que, quem reúne as condições de tal mister, preferiria continuar a
lida jurídica do dia-a-dia a apequenar-se perante si próprio e perante a Nação.
Quando do episódio envolvendo o senador e líder do
governo no Senado, os senhores ministros puseram-se em brio e mandaram prender
a quem ousava afirmar que houvesse, na Corte, pigmeus morais. Aplaudi a justa
reação dessa Corte e disse aos meus filhos – todos advogados -, que não
desertassem da esperança, pois os ministros, esperados "varões de
Plutarco", sempre reagiriam à altura do momento histórico, por mais gratos
que fossem à mão que os alçou. Primeiramente, porque desfrutavam de condições
pessoais para tanto. No mais das vezes, estavam renunciando a uma situação
financeira mais confortável, como notáveis advogados que eram, para fazerem
parte da história de uma instituição da mais elevada missão e do mais alteado
respeito.
Agora, assisto duas situações afrontosas a essa
Corte. Na primeira, um ex-presidente, soterrado pelas mais evidentes
suspeitas de atuar criminosamente contra a República, reivindicar um cargo ministerial
com o evidente propósito de fugir à jurisdição de um juiz probo e competente,
para, corum populo, se colocar, segundo sua míope e corrupta visão, sob a
proteção dessa corte. A segunda, a gravação em que um ministro de Estado
promete ao assessor do senador já referido, jogar o peso e a influência do
governo para fazer com que essa Corte o livre da prisão e impeça uma delação
premiada que é, a todas as luzes, de interesse público. Esse ministro, com a
maior desfaçatez, nomina o Presidente dessa Corte como uma pessoa sujeita a
pressões indecorosas para fazer parte da trama que livraria o governo da
inconveniência da delação a ser abortada.
Todos nós esperamos dessa corte e do ministro nominado
uma reação que os resgate da suspeição proclamada na conversa desse lamentável
ministro. Esperamos também que os senhores ministros se coloquem e coloquem a
instituição em brios para dizer ao ex-presidente, que parece não ter noção do
que significa respeito próprio, que essa casa não é um valhacouto de corruptos.
Espero sinceramente uma reação à altura da biografia de
cada ministro e da alma brasileira para que eu possa continuar a dizer aos meus
filhos que essa Corte continuará confiável e será, sempre, a última trincheira
da ética que anima o nosso povo, sofrido e trabalhador.
Atenciosamente,
*Pedro Caldas - Advogado
Grande manifestação. Homens decentes, assim se manifestam. Parabéns, doutor!!!
ResponderExcluirBela manifestação, porém, quando ao ponto do escrito acima, já é choro da alma, pois os fatos assinalam a verdade que nos dói acreditar. Mass
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