Artigo, Astor Wartchow - O golpe da narrativa
- O autor é advogado, RS
Alguns
professores e departamentos de universidades públicas estão empenhados em criar
e oferecer cursos e palestras acerca do impeachment da presidente Dilma Roussef
(PT). Na opinião prévia e notória destes professores, o fato se caracterizaria
como um golpe político.
Antecipadas
suas avaliações e certezas pessoais, tudo indica que o curso não tratará exata
e especificamente acerca das razões e da natureza do respectivo processo
constitucional. Mas, sim, do ponto de vista pessoal, ideológico e partidário
dos ditos professores. Ou seja, o curso em questão renovará e fortalecerá tal
narrativa.
Consequentemente, esta tese acadêmica (originariamente petista) não
reconhece a legalidade e legitimidade do processo de impeachment , ainda que
cumprido todo o ritual, inclusive presidido o ato pelo então presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF).
Assim como
não reconhece como infringidos fundamentos legais da administração pública,
como fazem prova documentos e relatórios públicos. A “narrativa do golpe” também pressupõe
ignorância e desvinculação da situação atual (recessão e desemprego)
relativamente àqueles antecedentes de má administração.
À época,
entre as razões políticas e fiscais que sustentariam um processo de
impeachment, as “pedaladas fiscais” são prova óbvia e conseqüência direta da
administração perdulária, insustentável e fiscalmente irresponsável, práticas
típicas de administrações populistas.
A anunciada
iniciativa acadêmica vem apenas confirmar o que já sabe há muito tempo. Não há
mais debate, criatividade e autonomia intelectual na universidade brasileira.
Fica evidente
que se criou um ambiente de contínuo patrulhamento ideológico, estabelecendo
constrangimentos a livre opinião e prática docente (e discente), assim como
obstáculos invisíveis (ainda que reais) às pretensões individuais de objetivos
e carreira acadêmica.
Não sou
contra tais cursos, palestras e abordagens! Mas, como explicar que a exemplo do
curso ora em discussão não haja iniciativa semelhante voltado a pesquisar e
divulgar, por exemplo, o sucesso e a popularidade da Operação Lava-jato, a
surpreendente degradação nacional (logo após a messiânica narrativa do “nunca
dantes”), a exportação da corrupção, o escandaloso financiamento e cooptação de
partidos, etc...
Final e
ironicamente, a vingar o curso sugerido, caberia consultar os regimes
parlamentaristas em vigor em outras nações - a título de pesquisa e comparação
acadêmica - se a cada queda dos respectivos gabinetes ministeriais, também
realizados pela maioria congressual e dentro do processo
legislativo-constitucional de cada país, a respectiva minoria, ou próprio
primeiro ministro, também afirmaria se tratar de “golpe”?
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