Depois de passar anos escondendo sua orientação sexual no
trabalho, executiva coordena programa de inclusão e diversidade da companhia na
América Latina
Por Fabiana Futema, revista Exame
Ana Pellegrini, 40, diretora jurídica da Uber no
Brasil e cone sul, demorou muito tempo para assumir sua orientação
sexual no ambiente de trabalho. Ela se descobriu lésbica aos 21 anos,
recém-formada em direito. Na época, trabalhava em um escritório de advocacia em
que o preconceito contra homossexuaisimperava. “A reação dos meus colegas
a questões ligadas à homossexualidade fazia com que não me sentisse livre para
ser quem eu era”, conta.
As pessoas LGBTQ+ eram chamadas de ‘viadinho,
bichinha, sapatão’ pelos advogados desse escritório em que Ana trabalhou por
dez anos. “Quando queriam depreciar ou insultar uns aos outros, ainda que em
clima de brincadeira, usavam adjetivos como ‘gayzinho e boiola’. Não foi por
acaso que me mantive no armário durante o tempo que trabalhei lá.
A executiva diz que é muito desgastante não poder se
assumir no ambiente de trabalho. “Quando olho para trás, vejo o tanto de
energia que perdi por não poder ser quem eu era. Aquilo me consumia
diariamente, tinha a todo momento que me policiar ao telefone para não usar o
pronome feminino ao conversar com minha namorada. Vivia preocupada.”
A diretora da Uber diz que precisar se esconder também
prejudicou as relações de amizade no ambiente profissional. “O fato de as
pessoas não te conhecerem totalmente impede a criação de conexões verdadeiras.
Por mais que você tenha feito amigos em dez anos, que amizade é essa se ela não
conhece uma parte tão importante da sua vida? Se perde muito com isso.”
Ao retornar ao Brasil, em 2015, Ana diz que no processo
de recrutamento da Uber perguntou quais eram as políticas de inclusão e
diversidade da empresa. Hoje, ela coordena o programa de diversidade da Uber na
América Latina.
Segundo ela, poder assumir sua orientação sexual
influenciou sua forma de liderar. “Lido com cerca de 30 advogados e eles dizem
que sou muito transparente e justa. Essa transparência vem do fato de que por
muito tempo não pude ser transparente. Meu estilo de liderança tem muito a ver
com minha identidade LGBTI+ e o que isso trouxe para minha carreira.”
Já está comprovado que empresas ganham quando os
funcionários trabalham mais felizes. “O nível de felicidade que tenho em poder
ser quem eu sou só me motiva a trabalhar e produzir cada vez mais. Em termos de
eficiência é muito melhor.”
Mas ela diz que essa felicidade não se resume a um
objetivo de trazer produtividade para as empresas. “A gente trabalha a inclusão
e diversidade pelas pessoas, não pelo resultado econômico. O lado humano é que
importa.”
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