Os Planos de Demissão Voluntária (PDV) dos grandes bancos
são exemplos de uma revolução em marcha sobre o setor
Na última terça-feira, o Itaú Unibanco anunciou Plano de
Demissão Voluntária(PDV) para alcançar 6,9 mil funcionários dos 98,4 mil do seu
quadro atual, que já vinha sendo reduzido. O Banco do Brasil, também em fase de
reorganização, prevê a saída de 2 mil de seus 96,6 mil funcionários. A Caixa
Econômica Federal, por sua vez, com 96 mil contratados, anunciou em maio um PDV
para 3,5 mil, operação agora temporariamente suspensa para atender à
movimentação dos saques de R$ 28 bilhões no Fundo de Garantia, que ela
administra.
São três exemplos quentes do mesmo fenômeno que começou
há anos e se intensifica agora. Os dirigentes do setor admitem que há uma
revolução em marcha e não escondem sua preocupação com as ameaças a seu
negócio.
Mais visível é a grande transformação pela qual os bancos
estão passando, graças ao cada vez maior emprego de aplicativos. Esse mesmo
fenômeno também vem dispensando agências bancárias. Pagamentos, transferências,
depósitos, aplicações financeiras e tanta coisa mais podem agora ser feitos
pela internet, por celulares e outros recursos digitais.
Acabaram-se as intermináveis filas diante dos caixas das
agências que aconteciam no passado – em parte porque a inflação mergulhou e
porque deixou de ser preciso proteger as reservas domésticas. Os gerentes
passam a operar mais como consultores em investimentos e em operações de
crédito do que no atendimento bancário convencional.
No passado, o funcionamento das agências bancárias exigia
a posse de cartas patentes emitidas pelo Banco Central, que eram então
arduamente disputadas pelas instituições financeiras. A localização das
principais agências poderia ser condição definidora da compra de um banco por
outro. Hoje, esse fator vem perdendo importância.
Os levantamentos do Banco Central mostram que, em
dezembro de 2013, a rede bancária brasileira possuía 22,9 mil agências. Em
abril deste ano, eram 20,7 mil. Ou seja, em pouco mais de seis anos, 2,2 mil
agências bancárias, ou 8,8% do total, fecharam suas portas (veja gráfico).
Como os computadores e os próprios clientes (por meio dos
aplicativos) assumiram grande número de tarefas antes executadas por
funcionários dos bancos, a outrora poderosa categoria dos bancários também
passa por relativamente rápido processo de esvaziamento. Agora, uma greve dos
bancários funciona mais como oportunidade para que os bancos testem sua máquina
com os funcionários de braços cruzados do que para garantir maiores salários e
aumento de vantagens para a categoria.
Essa megaoperação de enxugamento vem contribuindo para
forte redução de custos. Mas não livra os bancos de novas ameaças. Uma delas
provém da grande agilidade das fintechs, essas startups, cada vez mais
numerosas – e algumas já não mais tão nanicas – que passaram a atuar no mercado
financeiro em que vêm mordendo fatias do mercado dos bancos.
No entanto, a mais importante ameaça provém das novas
moedas digitais. E aí conta menos a ação da geração dos bitcoins e mais a das
megamoedas em elaboração. O Facebook, por exemplo, em sociedade com outras 26
big techs (como Visa, Mastercard, Paypal, Spotify e Uber), anunciou para o ano
que vem a criação da libra. Escorada em reservas de moedas conversíveis, ouro e
títulos, a libra servirá como instrumento global de pagamentos e de
transferências de recursos, pequenos e gigantescos e, em princípio, também no
crédito, a uma fração das tarifas hoje cobradas pela rede bancária. Mais do que
isso, não só atuará por fora, como deverá ser fator que dispensará o uso dos
bancos por parcelas crescentes da população.
Os bancos centrais e autoridades monetárias estão
preocupados com o potencial disruptivo dessas novidades e gostariam de
intervir, mas ainda não sabem de que forma. Como já entenderam que não podem
proibi-las, porque seu bloqueio abriria espaço para iniciativas do mesmo tipo
na China, na Rússia e em outros países asiáticos, parecem agora mais propensos
a criar seus próprios sistemas monetários digitais.
Ou seja, o admirável mundo novo preconizado pelo escritor
inglês Aldous Huxley não se limita à escalada do autoritarismo com métodos
modernos, mas se transpõe agora à revolução digital, cujas consequências estão
longe de serem vislumbradas.
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