Técnica amplia efetividade de exames em crianças e pode reduzir riscos de progressão e transmissão da doença com o sub-diagnóstico
A técnica desenvolvida pela pesquisadora sul africana Heather Zar, da Universidade da Cidade do Cabo, já conseguiu ampliar em 22% o número de crianças diagnosticas com tuberculose naquele país. Além de ser mais eficaz na coleta de material, permitiu avanços na forma de análise. As vantagens: diagnóstico mais rápido, início imediato do tratamento e redução dos riscos de transmissão e de progressão da doença.
“Os exames tradicionais, de cultura, podem levar de 3 a 5 semanas para ficarem prontos. Por meio desses testes de biologia molecular, o resultado sai em um dia. Assim podemos entrar imediatamente com a medicação”, explica Heather. A pesquisadora foi a convidada do Seminário PROADI-SUS do Hospital Moinhos de Vento, realizado nesta quarta-feira (12). Com o tema “Tuberculose Pediátrica: uma doença mundialmente negligenciada?”, o evento reuniu especialistas e profissionais da saúde, especialmente da rede pública, para apresentação dos estudos realizados na África do Sul.
A doença, que registra cerca de 35 novos casos por 100 mil habitantes a cada ano no Brasil, é objeto de uma das pesquisas do Hospital Moinhos de Vento pelo PROADI-SUS. O Projeto TB PED testará a técnica sul africana em crianças brasileiras e deve ser implantada na rede pública em todo o país. “O ponto principal é que se estima que tenhamos um subdiagnóstico da doença em crianças, que hoje representam 7% dos pacientes brasileiros com tuberculose. Isso porque muitas vezes elas não conseguem tossir espontaneamente nem produzem muita secreção, o que gera material com poucas bactérias. O teste da pesquisadora Heather Zar inicia com nebulização com uma solução rica em sais, o que aumenta a produção de escarro para que se tenha material suficiente para a testagem. Sem contar que a forma de análise permite que tenhamos o resultado em minutos”, explica infectologista pediátrico do Hospital Moinhos de Vento, Marcelo Comerlato Scotta.
Scotta, que é o líder do Projeto TB PED, acredita que a implantação da técnica possibilitará que o SUS tenha a real dimensão da incidência de tuberculose em crianças no Brasil. A partir da busca ativa de pacientes, o estudo também identifica os fatores de risco associados à tuberculose, avalia a acurácia de métodos diagnósticos, identifica patógenos associados e produz materiais educativos.
A pesquisa envolve 31 profissionais no Brasil inteiro, distribuídos em dez capitais brasileiras, sob a coordenação técnica do pneumologista pediátrico Renato Stein. Ele explica que estão sendo coletadas informações de mais de 1.100 crianças com idades entre 1 mês até 15 anos de idade, tanto internadas como as que recebem atendimento ambulatorial com suspeita da doença.
Além de tuberculose, o estudo mapeará agentes infecciosos responsáveis por pneumonias em crianças hospitalizavas, também usando técnicas modernas de biologia molecular. Todas essas informações inéditas devem influenciar na tomada de decisões do Ministério da Saúde sobre tratamento e prevenção dessas doenças da infância.
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