Artigo, Renato Sant'Ana - Como o populismo se insinua

O populismo é uma grande armadilha cognitiva, porque, não tendo qualquer compromisso com a verdade, busca conquistar o apoio das massas aplicando a pedagogia da dissimulação, do ilusionismo e das promessas vãs.

Pois que falem os fatos!

Em 2010, o ginecologista Roger Abdelmassih, especialista em reprodução humana e um dos pioneiros da fertilização in vitro no Brasil, foi condenado a 278 anos de prisão por 52 estupros praticados contra mulheres que se trataram em sua clínica, além doutros crimes.

Chegou a estar preso preventivamente. Mas, beneficiado por habeas corpus concedido pelo STF, fugiu. Só voltou a ser preso em 2014, no Paraguai, onde vivia sob falsa identidade com mulher e filhos.

E só foi trazido de volta para cumprir pena porque, entre Brasil e Paraguai, vigora, desde 1922, um acordo de extradição.

No entanto, como se verá, se dependesse do populismo esquerdista, ele estaria livre, leve e solto até hoje (está em prisão domiciliar...).

A notícia é do Diário do Poder: os socialistas do PSOL manifestaram-se contra o acordo de extradição Brasil-Marrocos (aprovado na COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES E DE DEFESA NACIONAL da Câmara em 10/06/21), dizendo que "viola os direitos humanos" e que é contrário à Lei de Imigração.

Ora, a extradição é a entrega de uma pessoa, pelo governo do país onde ela está escondida ao país que a reclama, para o fim de ser julgada criminalmente ou, ainda, de cumprir pena de restrição de liberdade por julgamento já ocorrido: depende de acordo prévio entre os Estados.

Note-se que, em regra, os acordos de extradição têm um caráter humanitário: permitir que a pessoa julgada e condenada possa cumprir sua pena em seu país de origem e com a proximidade de sua família.

Como pode, pois, o PSOL falar que um acordo de extradição viola direitos humanos? E que teria isso a ver com a problemática da imigração?

É preciso ver a psicologia da coisa!

Tratar como inimigo quem pensa diferente, taxar de indigno qualquer um que esteja fora do seu campo ideológico, jamais reconhecer mérito no que os outros realizam e fazer crítica sistemáticas, eis algumas formas de o populismo esquerdista dizer, indiretamente, que é superior aos demais.

Tem ainda as bandeiras de luta, hasteadas no mastro da falsificação: a defesa dos imigrantes é uma delas, usada para exaltar um alegado "humanismo" que não é, de modo algum, uma face do esquerdismo.

Quando o PSOL, que é apenas uma das vozes do extremismo esquerdista, faz essa falsa defesa dos imigrantes, está insinuando ter um profundo respeito pelo ser humano. Não tem! É marketing!

Criticar os outros é sempre uma forma de autoexaltação. Vale para indivíduos. Vale para agremiações.

Sabidamente, a maioria dos jovens, alvo principal dessa propaganda, não sabe nem procurará saber o que é "extradição", a que fim se destina nem em que condições se dá. E não vai filtrar a falácia populista.

A nota esdrúxula é que, o mesmo PSOL que diz defender as mulheres (outra bandeira enganosa), ao atacar o acordo de extradição, quer por ignorância, quer por oportunismo, adota uma posição que teria sido útil para proteger um repulsivo abusador de mulheres como Roger Abdelmassih.

Aliás, é irônico que o PSOL e seus assemelhados (PT, PCdoB, etc.) falem de "violação de direitos humanos": todos eles defendem a implantação de um regime totalitário no Brasil, em que direitos humanos não há.

Em suma, o populismo só diz o que as pessoas querem ouvir. Inventa alguns problemas e amplifica outros, de modo a exacerbar os anseios para, então, prometer soluções mágicas.

O populismo vive da preguiça mental das pessoas, que é a maior pandemia, um mal para o qual a maioria não quer vacina, que é conhecer, analisar e robustecer a honestidade intelectual. Dá muito trabalho...

Tem consequências concretas. O populismo chavista transformou a Venezuela de país mais rico da região em uma nação de famintos. O populismo peronista está venezuelizando a Argentina.

Aí acende um sinal de alerta: evitar a argentinização do Brasil! Isso requer combater, entre nós, a preguiça mental (que é coisa egoísta).

Não dá para combater a sordidez do populismo esquerdista alimentando um populismo de direita. A solução é deixar de preguiça, compreender o verdadeiro sentido da democracia e defendê-la pelos meios pertinentes.

 

Renato Sant'Ana é Advogado e Psicólogo. 

E-mail: sentinela.rs@outlook.com

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