Vejo uma gaiola dourada, tão atraente quando de
fora olhada, e ela me faz lembrar de outra prisão,
tão enfeitada quanto enganadora. A ideologia é
para ser um conjunto de ideias e valores a nos
orientar enquanto buscamos a própria felicidade e
a inspiração para fazermos a nossa parte na
construção de um modo melhor para todos. Mas,
cuidado! Ela pode também se apresentar como um
sistema astuciosamente montado e ornamentado para nos atrair, tal
como as migalhas feitas iscas no alçapão que aprisiona o pássaro. Mais
que as grades da gaiola, que se deixam ver pelo prisioneiro, as barreiras
ideológicas são como placas de cristal que, sem que você se dê conta,
enquanto lhe mantêm prisioneiro, filtram as imagens que lhe chegam do
mundo lá fora. E esse não é o real, mas a caricatura traçada por líderes
carismáticos, inspirados em ideais de justiça e solidariedade, mas logo
dominados pela sede de poder que enlouquece quem queira ser Deus
para refazer o mundo.
Se lhe disserem que religiões e códigos de moral são nada mais que
gaiolas sagradas das quais você tem que fugir, leve em consideração o
alerta, mas não deixe que isso o torne presa fácil para doutrinadores.
Você poderá achar que está encontrando segurança e alívio para suas
angústias diante dos desafios de uma vida complicada. Mas ligue o
alarme quando começar a repetir frases feitas, usar chavões maliciosos
e – até, talvez – gritar palavras de ordem, em crescente intolerância com
as visões de mundo diferentes da que lhe estão, sub-repticiamente, lhe
impingindo.
Quando se der conta do perigo, lembre-se que você tem uma mente que
recebeu virgem para que você a molde livremente. Amplie o seu círculo
de relações, varie suas leituras, conheça e converse com mais gente.
Pense no potencial infinito da sua inteligência e o use para tirar da
experiência suas próprias interpretações sobre o significado da
existência. Respire fundo e saia da gaiola.
09-10-2022 - Dagoberto Lima Godoy.
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