Artigo, Astor Wartschow - O (o) caso de Lula

Historicamente, o comprometimento pessoal com a política partidária sempre se caracterizou por dois modos e aspectos de conduta. Sempre houve os praticantes  com vocação profissional e com uma perspectiva realista e material. E sempre houve os idealistas e utópicos.
      
Os políticos profissionais são focados na relação utilitarista da prática política. Isto é, não desviam o foco, não tergiversam sobre o que é possível retirar desta relação em proveito próprio e de seus garantidores e financiadores.
      
Em geral, não se abalam, nem se comprometem com os idealismos, mas, sim, se aproveitam da relação apaixonada de outros para garantir e viabilizar seus próprios projetos de poder.      
      
Assim, o idealismo dos sonhadores e utópicos garante a base discursiva e prática do projeto de poder dos profissionais.
       
Tocante ao comportamento de idealistas e utópicos, há na política, assim como no amor, um obscurecimento e incapacidade de análise e  auto crítica. Assim, e comumente, quando em xeque as virtudes decantadas do  ideal/líder/objeto amoroso, uma vez contestadas e vulgarizadas por outrem, provocam a ira dos apaixonados.
      
O que é compreensível, haja vista que a sua dedicação temporal de fidelidade, afeição e amor – ora sob questionamento jurídico-policial, por exemplo – vem a revelar-se juvenil e inócua diante da realidade.
      
Consequentemente, o  “apaixonado” sente-se idiotizado e traído (embora inconfesso). Entre aceitar o erro pessoal de sua opção amorosa (e os prováveis e visíveis defeitos do seu objeto amoroso) e a falácia de sua “paixão”, prefere ficar com o orgulho pessoal e as virtudes fictícias que criara no seu imaginário.    
      
Desde o período de Getúlio Vargas, possivelmente, nenhum outro presidente - tanto quanto Lula - encarnou e encantou o imaginário popular, confundindo  virtudes imaginadas com o áspero realismo.
      
Entretanto, haja vista as dificuldades mundiais da época, e o notório atraso brasileiro no concerto das nações, as conquistas do período getulista são incomparavelmente superiores ao período lulista, ainda que os apaixonados e iludidos petistas assim queiram comparar e pretender.
      
E há um agravante atual nunca dantes concretizado em território sul-americano. Aliás, em lugar e tempo algum. Ou seja, um articulado intercâmbio governamental e  populista continental, com evidentes pretensões de perpetuação político-ideológica, com financiamento público e expropriação particular de recursos.   
                
É a típica liderança que Getúlio jamais imaginara. E nem seria capaz. Por razões éticas primárias.   De modo que com a experiência lulo-petista, suponho, sepultamos nossas derradeiras ilusões

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