Há cerca de duas semanas, o Valor PRO, serviço de
informações em tempo real do Valor, perguntou a 40 economistas de bancos e
consultorias se um atraso, ou não aprovação, da reforma da Previdência afetaria
os preços de ativos, se poderia atrapalhar o ciclo de alívio monetário e as
expectativas para a economia. A maioria dos profissionais chegou a uma mesma
conclusão: o risco Brasil sofreria deterioração pressionando a taxa de câmbio e
a inflação que poderia, sim, forçar uma parada no processo de corte de taxa de
juro.
“ Se a reforma da Previdência não passar, a leitura é que
o limite de gastos não se sustenta e que o ajuste terá que ser feito via
aumento de imposto, começando este ano”, afirma Sérgio Vale, economista-chefe
da MBA Associados. Ele entende que, muito provavelmente, isso jogaria o
risco Brasil e o câmbio para cima.
A inflação de preços livres subiria, puxando o IPCA e
inibindo a queda do juro.
“ A recessão estaria de volta este ano, agravada pelo ciclo
eleitoral muito arriscado no ano que vem. A volta da crise abriria espaço para
um candidato com discurso agressivo e extremista. Mesmo que não ganhe, deixará
o mercado arisco como em 2002. A dúvida é se as empresas aguentam 5 anos de
recessão, talvez 6, a depender de quem ganhe a eleição. Uma reforma frustrante
aumenta o risco da economia, mais à frente, abortar a recuperação atual”, diz
Vale.
“ Se o governo não conseguir aprovar a reforma da
Previdência, a percepção de risco deverá elevar-se substancialmente, causando
forte desvalorização do real que pressionaria a inflação, reduzindo o escopo
para um ciclo mais prolongado de queda da Selic” avalia Luciano Rostagno,
estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil.
Luiz Fernando Castelli, economista da GO Associados, tem
visão semelhante. No resultado extremo de rejeição total do projeto do governo-
possibilidade que Castelli descarta, uma vez que o governo cedeu em vários
pontos da proposta inicial- o ciclo de alívio monetário poderia ser abortado e,
no limite, o juro inclusive poderia ser elevado.
André Muller, economista-chefe da AZ Quest, diz que a
flexibilização monetária só é possível porque há perspectiva de
sustentabilidade fiscal. Para isso a reforma é essencial. Muller entende que o
resultado é menos relevante para o cenário de juros em 2017 do que para os anos
subsequentes. “ A aprovação de uma reforma suficiente para diminuir o risco
fiscal é condição necessária para manter juros em um dígito no médio prazo”.
Para Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi, o mercado
já tem margem nos ativos que embute uma reforma “não ideal”. “ A questão é o
quanto a reforma poderá perder de consistência. Com perda significativa, o
mercado estará embutindo um prêmio de risco maior e juro mais alto do que o
esperado no melhor cenário que é o de cortes mais amplos.”
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