Nossos problemas somente serão resolvidos através da
educação do povo que é, em princípio, responsável pelos desmandos
que assolam o país. Ou seja, daqui a quinhentos anos. Aliás, muito dos
problemas são atribuídos às nossas origens e à colonização lusitana como se
nenhuma outra cultura tivesse sido anexada ao caldo cultural pentacentenário.
Mas o que faz, por exemplo, um alemão zelar tanto pela limpeza
de suas cidades? O que o faz respeitar tanto as leis de trânsito? O que o faz
beber somente “ein kleines bier”, ou seja, um pequeno copo de cerveja, se
tiver que dirigir depois de uma noitada? O que o faz andar de metrô sem
cobrador e assim mesmo pagar sua passagem? O que o motiva a retirar um jornal
de uma pilha e colocar o dinheiro no recipiente ao lado, sem que ninguém esteja
controlando? Será somente cultura?
Posso falar da minha experiência.
Quando trabalhei na Dana Albarus no início da
produção de juntas homocinéticas no Brasil, estagiei na Alemanha durante
oito meses, tempo suficiente para poder fazer algumas observações
interessantes.
Em uma ocasião, ao sair do trabalho na firma Löhr und
Bromkamp em Offenbach/Main no final do dia, presenciei um pequeno acidente de
trânsito. Dois carros se chocaram levemente, quebrando os faróis e amassando os
para-choques. Os dois motoristas desceram correndo de seus carros e eu pensei:
“vai dar morte”. Nada disso. Os dois correram para juntar do chão os cacos de
vidro. Sujar a via pública é punido com pesada multa, e esta eles não queriam
pagar. O problema dos carros podia ser resolvido depois até mesmo através das
seguradoras.
Outra vez, vi uma criança deixar cair no chão um papel de
bala e ser veementemente repreendida pelo pai. A multa era “zu teuer” (muito
cara).
Os alemães com quem convivi nesses oito meses, vieram ao
Brasil fazer o tryout das máquinas importadas da Alemanha. Nunca os vi se
restringirem a “ein kleines bier” quando saíamos à noite mesmo que tivessem
que dirigir. Na Alemanha tinha problema. Aqui não.
Uma vez tive a oportunidade de acompanhá-los num fim
de semana a Balneário Camboriú (SC). Eles dirigiam um carro alugado pela
empresa. Velocidade mínima: 120 km por hora, mesmo com as placas na BR-101
informando 80 km/h como velocidade máxima. E não aconteceu nada.
A conclusão a que cheguei foi a seguinte: onde as leis
são inflexíveis, as pessoas se tornam automaticamente educadas. O problema
está na impunidade. A culpa é de quem cria as leis ou de quem não as faz
cumprir.
No início deste texto fui otimista dizendo que em
quinhentos anos conseguir-se-ia mudar a cultura do país. No entanto, a
exigência do cumprimento das leis poderia ser resolvida quase que
instantaneamente. Se formos um pouco (ou seja, muito) mais rigorosos no
cumprimento das leis, teremos muito mais chances de resolver os problemas
nacionais num curto espaço de tempo.
A cultura se modificará na mesma rapidez.
- Fabio Jacques tem mais de 40 anos de experiência
em gestão empresarial. Exerceu cargos de chefia e direção em empresas como ATH
Albarus (hoje GKN do Brasil Ltda), Dana Albarus S.A., Calçados Bibi, Viação
Hamburguesa e Unidasul, dentre outras. É diretor da FJacques - Gestão através
de Ideias Atratoras.
Minha mulher, que é filha de alemão, diz que nã Alemanha tem pouco crime porque crime é contra a lei.
ResponderExcluirVi brasileiro jogando cinzas e tocos de cigarros no chão no aeroporto do Galeão e doze horas depois, já em Frankfurt, vi o mesmo cara procurando desesperado um cinzeiro...
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