A greve dos caminhoneiros não chega a ser uma novidade.
Também não é novidade o modo, a forma como os comentaristas de rádio, tevê e
jornal, (com raras exceções) encararam o assunto. Essa gente adora um
raciocínio simplório. Sempre está à mão um culpado por todas as coisas que
acontecem ao redor: o governo. E se for o governo Temer melhor ainda, todos
batem com muito mais convicção e prazer.
Pouquíssimos desses analistas de todos os assuntos, por
desconhecimento ou preguiça, arriscam ao menos tentar uma avaliação um pouco
menos manjada, à altura da complexidade da matéria. Se não fosse por nada, ao
menos pelo esforço de parecer original. Como fazem, apenas desinformam e
contribuem para a barafunda geral.
Estamos todos de acordo quanto ao diagnóstico: a
gasolina, o diesel, estão muito caros. Mas a menos que o governo se disponha a
“administrar” os preços do combustível, como fez Dilma Roussef, com todos os
seus efeitos funestos, não há muito que fazer. O controle populista dos preços
dos combustíveis foi mais danoso para a Petrobras do que a corrupção. Mas tem
gente “boa” (como Ciro Gomes, candidato a presidente) que acha que se deve
continuar insistindo nas soluções erradas, na esperança de que um dia, sabe-se
lá por que razão misteriosa, e de repente, deem certo.
O racional, o certo é alterar o preço dos combustíveis na
proporção dos preços internacionais, como vem fazendo o governo Temer. Quando
se “administra” preços, não nos iludamos alguém vai pagar a conta.
Ao que parece, a solução encontrada também pertence ao
campo das velhas bruxarias. Por enquanto a União abre mão de uma parte dos
tributos incidentes sobre os combustíveis, que totalizam um percentual em torno
dos 45% do preço de bomba - a União, senhora de todas as culpas e todas as
magias. Entretanto, quem mais lucra com a atual composição dos preços dos
combustíveis são o estados. O ICMS, o imposto estadual sobre os combustíveis, é
da ordem dos 30%!
E o que fazem os governos estaduais para fazer jus a
parcela tão expressiva? Nada, rigorosamente nada, só passam o chapéu e
arrecadam. Comparem com o esforço que precisam fazer, para ganhar um pouco mais
do que os estados, os agentes econômicos que extraem o petróleo, refinam,
transportam e vendem os combustíveis para o consumidor final, nos postos. O
estado do Rio Grande do Sul pode diminuir o ICMS da gasolina, se não pode nem
pagar em dia seus funcionários?
Ou seja, a crise dos combustíveis que está levando (se já
não foi) à lona o país, é um capítulo a mais da crise do Estado brasileiro, da
gastança desenfreada, do descontrole orçamentário, da desordem administrativa,
e todos os desarranjos que imperam em todas as instâncias do governo.
Não é só, como diz de uma forma quase inocente uma
conhecida jornalista gaúcha, um problema da falta de habilidade do governo.
Isso é o de menos. Instale-se na República o governante mais hábil que possa
existir, só com jeito e traquejo não chegará nem perto da solução para a crise,
que é muito mais complexa e muito mais profunda.
titoguarniere@terra.com.br
Que baita artigo. Coerente, consistente, sem demagogia, de quem entende do assunto. Não há almoço de graça, sempre alguém vai pagar a a conta. Nos caso dos combustíveis, se não são os usuários, será toda a população, até a que anda a pé ou de carroça.
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