Artigo, David Coimbra, Zero Hora - Por que a classe média virou anti-PT


Aí está o nosso pequeno burguês, rodando pelas ruas de Porto Alegre em seu carrinho um ponto zero. Ele pretende levar a filha à escola e, depois, seguir para o trabalho. Mas… no meio do caminho havia uma manifestação, havia uma manifestação no meio do caminho. Ele fica detido por meia hora, 45 minutos, uma hora inteira. A filha começa a chorar, reclama que tem prova, ele tenta ligar para o chefe para avisar que chegará atrasado, mas o celular não funciona, a manifestação o capturou exatamente dentro do maldito túnel, ele está perdido…_

_Foi um dia horrível. Quem seriam aquelas pessoas que interromperam o trânsito? Funcionários públicos reclamando salário melhor, decerto. Nosso amigo até tenta sentir simpatia por eles, ele também ganha mal, mas se questiona: como as autoridades permitem que uma rua seja fechada? Isso acontece todos os dias em Porto Alegre…_

_Nosso amigo está irritado. Ele se incomoda com os prédios públicos invadidos, com as terras tomadas à força de foice, com as pichações que emporcalham as paredes dos edifícios, com o aluno que bate na professora, com o ladrão que é solto da cadeia pela quadragésima vez, com o homem que ficou só dois meses preso por estupro, saiu e matou a filha adolescente de quem abusava. Como isso tudo é permitido? Isso é a democracia? Que governo é esse? Quem são essas autoridades tão permissivas, que não tomam atitudes firmes contra quem burla a lei?_

_É o que se pergunta o homem da classe média._

_O nosso pequeno burguês, então, lembra-se das bandeiras vermelhas da CUT e dos bonés do MST presentes em cada ato desses e já sabe a resposta: é o PT. O PT está em meio a tudo o que acontece no Brasil há muitos anos, conclui. Mas, quando ele pensa em reclamar, seu amigo petista lhe aponta o dedo: ele não tem solidariedade com os pobres, ele não se importa com o povo sofrido, ele faz parte da elite pérfida._

_Nosso pequeno burguês não quer ser confundido com um rico desalmado. Assim, ele não fala mais nada para não se expor. Aí ele fica sabendo da corrupção dos governos Lula e Dilma, dos bilhões e bilhões desviados, vai questionar seu amigo petista e o que ouve é, puramente, negação. Não há uma autocrítica, um reconhecimento, um ato de contrição, nada. Para seu amigo petista, os erros estão, todos, fora do PT. Os acertos, dentro._

_É neste momento que o pequeno burguês se torna anti-PT._

_E a eleição vai se aproximando, e ele procura uma alternativa. Ele olha para os candidatos. Ciro? A mesma arrogância do seu amigo petista. O mesmo insuportável ar de superioridade moral. Alckmin? Está provado que o PSDB também entrou no esquema. Meirelles? Marina? Até ontem estavam no governo._

_E Bolsonaro? Bem, esse é francamente anti-PT, esse nunca teve nada a ver com todos os outros, nunca esteve no governo. Bolsonaro é um tosco, mas representa a irritação do pequeno burguês. Pouco importa se ele defende a ditadura, se ofende Maria do Rosário, se leva cuspida de Jean Wyllys. Tanto melhor, o pequeno burguês quer, de fato, romper com tudo, quer ordem e autoridade mesmo que seja às custas da liberdade._

_Não estou dizendo que penso assim, quem pensa assim é o nosso amigo pequeno burguês, o homem de classe média. Por pensar assim, ele identificou no #EleNão outro slogan: #PTsim. Porque a inferência é lógica: se o único adversário real de Bolsonaro é o PT, dizer que se pode votar em qualquer um, menos em Bolsonaro, é o mesmo que dizer para votar no PT._

_Repito: estou interpretando o sentimento do homem de classe média. Que é o sentimento que perpassa toda esta eleição. Em resumo, uma disputa entre "tudo o que está aí" e algo difuso, impreciso, algo que o eleitor não sabe bem o que é, com exceção de uma certeza: é algo "contra tudo o que está aí". A classe média não aguenta mais. A classe média está farta. E a classe média, quando fica farta, muda a sociedade._

5 comentários:

  1. David com caimbra, o que é perder a liberdade pra ti ? apoiar o comunismo ?} ou tentar eliminar este comunismo ? seja franco e saia de cima do muro

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  2. Com a devida exceção da perda de liberdade, no mais, é isso mesmo.

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  3. Muita gente se apieda com a situação do povo Venezuelano, sou franco em afirmar que eu não sinto a mínima pena, da mesma forma como não sentirei do nosso povo a partir de 2019 quando estaremos sendo governado por um presidiário. O povo se comporta exatamente com o personagem da estória acima. Passivo acha que votando, com as urnas fraudulentas, conseguirá mudar alguma coisa neste país. É no mínimo lamentável.
    Robertho Camillo.

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  4. "Perder a liberdade" é a assinatura de isentão do sr Coimbra.

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