Moro responde a questões objetivas no Senado, e discurso
da oposição começa a ficar repetitivo
A presença voluntária ontem, na Comissão de Constituição
e Justiça, do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, ajudou a
realçar o sentido político que tem desde o início a série de denúncias
divulgadas pelo site Intercept, a partir do acesso à troca de alegadas
mensagens entre componentes da Lava-Jato. Não que se deva deixar de lado o
sentido do conteúdo que tem sido revelado, mas a sessão da CCJ demonstrou como
o uso político do material ganha cada vez mais espaço neste caso.
Moro teria sido aconselhado pelo presidente da Casa, Davi
Alcolumbre, a comparecer voluntariamente à comissão. O ministro fez bem em
aceitar o conselho, o que lhe permitiu, nas cerca de 10 horas da sessão, dar
explicações em respostas aos senadores, e fazer sua crítica às revelações. De
forma organizada, e não mais em declarações esparsas sem qualquer fio lógico.
Com razão, Moro considera que há um “crime contra as
instituições, em uma ação contra a Lava-Jato”, alvo preferencial de políticos,
de partidos e de empresários preocupados com o fato histórico de que, pela
primeira vez em 500 anos, a prática da alta corrupção passou a ser coibida.
Como é natural na democracia, e logo numa das Casas do
Congresso, o ministro teve de ouvir críticas pesadas, principalmente de petistas,
como os senadores Humberto Costa (PE) e Rogério Carvalho (SE), dos quais se
recusou a responder a uma ou outra pergunta, por estarem fora do devido tom.
Ficou nítida a intenção de “vingar” Lula. Para o
militante, provas não têm importância, daí esta politização do caso das
supostas mensagens.
O ministro se mostra convicto de que o hackeamento foi de
profissionais, algo que deve custar muito dinheiro. Por isso mesmo, pede do
Intercept a entrega de todo o material — que o site diz ter recebido de “fonte
anônima” —, para a devida perícia. O ministro alega ter usado pouco o
aplicativo russo Telegram, invadido pelos hackers. Deixou de utilizá-lo em
2017, decisão que tomou a partir do noticiário sobre a manipulação das redes
sociais por russos, nas eleições americanas de 2016.
Há uma questão técnica e jurídica a ser resolvida: é
preciso que as mensagens sejam atestadas como verdadeiras. Mas para quem se
interessa apenas em usar o caso com finalidade política, tudo caminha no passo
adequado: supostos diálogos são divulgados a conta-gotas, e isso alimenta
discursos constantes a favor da anulação da Lava-Jato e consequente libertação
e limpeza do prontuário do ex-presidente.
O depoimento do ministro Sergio Moro não foi um extenso
declaratório. O ex-juiz também apresentou estatísticas para afastar a ideia de
conluio com procuradores. Das 45 ações nas quais deu sentenças, o MP recorreu
em 44. A oposição corre o risco de ficar falando só para convertidos.
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